3 coisas que eu não esperava ao ler Lolita
Fui ler Lolita no escuro, sabendo apenas que era um clássico sobre um pedófilo.
1. A história é uma versão dos acontecimentos
A narrativa é contada em primeira pessoa pelo Humbert Humbert, o pedófilo. Isso faz com que fiquemos próximos a ele, como se fossemos quase cúmplices de seus atos.
A luz com que pinta os outros personagens possui o filtro de suas impressões. Diversas vezes somos lembrados disso quando percebemos um erro de digitação ou a troca de nomes. H.H. é um cara muito inteligente, com escrita doce. Ele sabe que é doente, sabe que o que deseja é errado perante a sociedade e vai te convencer de que ele não quer causar nenhum mal irreversível à Lolita. Pelo contrário, ele vai protegê-la. Se não ficamos atentos podemos acabar comprando partes de sua versão dos fatos.
2. Os acontecimentos são passado
H.H. escreve sua história da prisão e seu manuscrito é endereçado a um júri. Começamos já sabemos que ele está pagando pelos seus erros, o que faz com que fiquemos um pouco mais em paz ao ler o texto.
Sabemos que tanto ele quanto Lolita já morreram, trazendo um ar de resolução para a trama. Como quando ouvimos um caso que aconteceu a um antepassado que não conhecemos e sabemos de antemão que os confins daquela história são pré determinados e distantes. Não adianta se indignar, achar bom ou ruim. São águas passadas. Não restou mais ninguém aqui para ser repreendido, absolvido ou reparado.
3. Os dois itens anteriores são uma armadilha
Com algumas artimanhas, Nabokov consegue nos narrar uma história horrível - de morte, relacionamentos abusivos e possessividade - e fazê-la parecer trivial, quase doce. Talvez nem tenha sido tão mal assim. Talvez ele tenha amado Lolita. Talvez ela correspondesse aos desejos dele. Talvez você devesse sentir pena dele. A história é contada com tanta sutileza que mal dá para percebermos a extensão da violência e crueldade.
Nota: ★★★☆☆
Título: Lolita
Autor: Vladmir Nabokov
Editora: Alfaguara / Objetiva
Número de Páginas: 392
