Leitura “As Alegrias da Maternidade” de Buchi Emecheta

Livro lido para a categoria 10 do Desafio Livrada: 'Um livro que se passa num país sobre o qual você não conhece nada'

Marília Procópio
3 min readFeb 11, 2018
foto: TAG — Experiências Literárias

Ler esse livro foi uma experiência interessante. Quando me perguntavam o que eu estava lendo a próxima pergunta era quase certa
- Mas você tá grávida??
Não, não estou. E sem saberem as pessoas tornavam o argumento desse livro um pouquinho mais forte.

"As Alegrias da Maternidade" é um título irônico.

A trama nos conta a trajetória da nigeriana Nnu Ego desde a sua concepção até a sua morte, de quebra falando um pouco sobre os modelos mentais da tribo igbo, a colonização inglesa e as consequências indiretas de uma guerra. A vida da protagonista não é fácil. Embora ela seja filha de um importante chefe, ela é mulher. E isso no começo do século XX, na Nigéria agrícola, significa que ela é propriedade. Primeiro de seu pai, posteriormente de seu marido e, por fim, de seus filhos.

O maior desejo de Nnu Ego é casar e ter filhos.
Familiar, né? Lembro que, quando pequena, a maioria das menininhas da minha escola também tinham esse sonho.
Para a Nnu Ego ter filhos significa se tornar uma mulher completa, plena. Garantir a eternidade do nome da família do marido, ganhar respeito e status.

As primeiras tentativas de engravidar não dão certo, e ela vê em poucos meses a sua relação com marido mudar. Para ele, ela se torna inútil a ponto de a botar para trabalhar na lavoura com seus empregados para ‘parar de dar só prejuízo’. Ele decide então se casar de novo, coisa corriqueira na cultura poligâmica da tribo.

Passa um tempo, ela tem filhos. Agora sim, né? A vida dela ganha propósito, ela tem valor, agora ela é MÃE.
Bem, ser mãe é abdicar e fazer sacrifícios, todo mundo sabe disso.
Só que nesse livro esse conhecimento popular ganha um outro peso e você, dúvidas. Existe um limite máximo de abdicação que uma mulher deve aos filhos? Ou ela tem que abdicar de tudo mesmo? Por que se espera esse nível de dedicação heroico das mães mas raramente dos pais?

(…) Apontando um indicador acusatório e trêmulo para Nnu Ego, ameaçou:
"Estou com vontade de dizer a você e a seus fedelhos que saiam desta casa imediatamente. Não fui criado para passar a vida sofrendo por vocês.".

Aos poucos, Nnu Ego começava a entender a situação. Podia imaginar que a fúria do marido se relacionava aos filhos deles. Estava ficando farta daquele comportamento de dois pesos, duas medidas. Quando as crianças se comportavam, pertenciam ao pai; quando não, eram da mãe. Todas as mulheres tinham conhecimento disso;(…)

Não consigo parar de pensar que, embora nos enxerguemos muito distintos e distantes de uma tribo da Nigéria, a maioria das reflexões da autora sobre as injustiças maternas são reais aqui também. E se você acha exagero a afirmação de que "o papel da mulher é dar filhos ao seu marido", experimenta contar a alguém que você, mulher, não quer ter filhos.

Nota: ★★★★★
Título: As Alegrias da Maternidade
Autor: Buchi Emecheta
Editora: TAG Livros
Páginas: 320

Veja os outros livros que eu selecionei para o desafio aqui.

--

--