Leitura de Sidarta, Hermann Hesse
Sidarta é um jovem indiano de casta superior, culto e criado no conforto, porém não é feliz. Ele tem dentro de si uma insatisfação constante, que o leva a abandonar sua casa e família e sair em busca de algo mais, do conhecimento, da iluminação. É essa jornada que acompanhamos pelo livro. Seguimos seus passos e contemplamos suas descobertas.
Primeiro, na companhia de nômades abstêmios o vemos aprender a jejuar, pensar e a esperar. Após anos seguindo os ensinamentos sem chegar à iluminação Sidarta se torna cético. Ele passa a desconfiar do aprendizado tradicional e recusa a perspectiva de continuar tendo mestres.
Em sua próxima fase, Sidarta se joga nos prazeres carnais e experimenta tudo o que renunciou anteriormente: sexo, dinheiro, alcool e comidas requintadas. Após outros anos assim, começa a desprezar a si e a vida que leva, abandonando pela terceira vez tudo ao seu redor.
Na sua fase final, Sidarta conhece um balseiro e aprende seus afazeres : construir e consertar embarcações, transportar pessoas e escutar. Ele encontra certa paz até que, por acaso (ou karma) do destino, ele se vê responsável por seu filho, que não sabia que havia tido. É finalmente, ao ver a insatisfação do filho e tentar de todas as formas deixá-lo feliz que chega a suas maiores conclusões.
Em forma muito resumida e simplista:
- Não aprendemos com os erros dos outros. Precisamos errar nós mesmos para perceber o que os outros já sabiam e tentaram nos dizer.
- É possível passar conhecimento, mas a sabedoria só se atinge vivendo.
- A vida não é linha reta de progressão, mas sim um ciclo inevitável.
- Os erros nos permitem ser humildes e gratos.
- Os filhos não são espelhos, não adianta tentar educa-los, puni-los ou molda-los ao seu desejo. Eles tem sua jornada própria.
- Todos possuem uma meta e estão insatisfeitos. Quando a alcançam, rapidamente fabricam outra, porque precisam estar fluindo em alguma direção. Nós precisamos buscar algo para que a vida tenha sentido.
Enfim, apesar de concordar absolutamente com as conclusões do personagem, preciso confessar que a minha jornada lendo não foi agradável. Sidarta é em grande parte da narração egoísta, egocêntrico e antipático, tornando difícil acompanhar seus passos. Se você não conhecer razoavelmente a cultura indiana, várias palavras como brâmane, átman, samana, sansara, mara, maia etc se tornarão atritos na sua compreensão da leitura. Os diálogos causam estranhamento, com frequência tratam o interlocutor em terceira pessoa e usam vocativos como 'Ó Fulano'.
Dito isso, imagino o impacto que foi o lançamento desse livro em 1922.
Se hoje sua história não causa o mesmo impacto, certamente é por ter seu legado diluído em várias outras histórias desde então.
Nota: ★★★☆☆
Título: Sidarta
Autor: Hermann Hesse
Editora: Record
Número de Páginas: 175