Sol de inverno

colibrí
2 min readJan 11, 2018

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original post http://sound-dream.tumblr.com/post/168953762163/art

Ela diz que está com frio. Decido desafiar o sussurro e percorro suas costas com as pontas dos dedos. Ela dá sua risada laranja e murmura que estou provocando. Pergunto se é novidade. Não é novidade… mas é sempre uma surpresa, ela responde com sua voz de flores amarelas. Ela vira para mim e me atinge como os ventos de julho com seu olhar pincelado. Encosto em seus lábios com gosto de risadas proibidas na madrugada. Ela acaricia minha nuca e as árvores estalam com o vento em um aconchego impensável para os galhos. Eu entendo, penso no fundo da minha mente, penso sem pensar, penso quase na minha nuca. Beijo o ombro com cheiro de água com açúcar enquanto ela, estrela cadente, me ilumina com sua essência degradê de pôr-do-sol.

É então que aprendo, como o sol que agora nasce em meio à neblina de temperatura negativa, que até o manto de neve que cobre as ruas e as árvores derrete quando é atingido pela medida perfeita de calor. Penso em todos os haicais que li e entendo. É esse o tempo real da duração de uma imagem, penso. É esse o tempo que tudo passa. É esse o tempo do que eu sinto. Arrepio; o suspiro dela é azul cerúleo e tem gosto de morango. Sinto o calor primaveril da distância entre dois peitos enquanto visualizo Buson, escuto o gosto do outono cumprimentando Bashô, e explodo na solidão da estrela cadente de Shiki. Sinto um abraço e beijos nas costas, suaves, banhos de chá, enquanto me inteiro com Kikaku; trovão — ontem a leste, hoje a oeste. E agora em nós.

Ela adormece em meus braços como os girassóis à luz da lua.

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