PERCEPÇÃO AMBIENTAL DA ARBORIZAÇÃO URBANA NA CIDADE DE MARINGÁ-PARANÁ
RESUMO
A percepção ambiental abrange a compreensão das inter-relações entre o meio ambiente e os atores sociais e objetiva investigar a maneira como o homem enxerga, interpreta, convive e se adapta à realidade do meio em que vive. Para um melhor planejamento e compreensão do ambiente urbano, fazem-se necessários estudos que enfoquem a percepção da população em relação ao meio ambiente, os quais podem ser utilizados como um instrumento de planejamento e gestão de áreas verdes. O presente trabalho teve como objetivo avaliar o grau de conscientização dos moradores de Maringá/PR, com relação à arborização urbana, através da aplicação de um questionário semiestruturado. Os resultados obtidos demonstraram que a população maringaense possui uma percepção positiva da arborização urbana, principalmente para os quesitos que influenciam diretamente na regulação climática e embelezamento das vias. O estudo também apontou para a relação afetiva que a população possui com as árvores, que influenciam no bem estar físico e psicológico dos cidadãos. Esses resultados demonstram a relação harmônica da população com a arborização urbana, apontando que, quando gerido com eficácia, os Planos de Arborização Urbana tendem a evitar ou diminuir os problemas ocasionados pelas árvores em vias públicas.
Palavras-chave: Arborização Urbana, Percepção Ambiental, Educação Ambiental
1 INTRODUÇÃO
Dentre os vários aspectos que promovem o bem estar de uma população dentro de uma matriz urbana, destaca-se a arborização urbana, que em muitas cidades sofre com a falta de planejamento. O crescimento das cidades acaba se confrontando com a falta de aplicabilidade de novas tecnologias e disponibilidade de recursos financeiros por parte dos órgãos públicos para atender as solicitações de conforto e qualidade do ambiente urbano (Huther & Mascaró, 2008).
É consenso que a arborização urbana melhora sob vários aspectos o bem estar das pessoas que vivem em cidades. Os benefícios observados pela arborização adequada nos centros urbanos incluem a diminuição da temperatura ambiente, alimentação e moradia para pequenos animais silvestres, controle da poluição sonora e do ar, área de sombreamento e sensação de bem estar (Vidal & Gonçalves, 1999; Silva, 2000; Westphal, 2000; Leal et al. 2008).
Algumas cidades entram em conflito com sua arborização, principalmente devido à falta de planejamento e uso de espécies inadequadas. Dentre os principais danos, destacam-se os relacionados a quedas de árvores, como interrupção no fornecimento de energia, avarias em veículos e edificações, além de interferência na iluminação pública e destruição do calçamento urbano. De acordo com Huther & Mascaró (2008), arborizar uma cidade não significa apenas plantar árvores em ruas, jardins e praças, criar áreas verdes de recreação pública e proteger áreas verdes particulares, a arborização deve atingir objetivos de ornamentação, melhoria microclimática e diminuição da poluição, entre outros.
Segundo Zinkoski & Loboda (2005), problemas cruciais do desenvolvimento nada harmonioso entre a cidade e a natureza são facilmente percebidos nos centros urbanos, como por exemplo, a substituição de valores naturais por ruídos, concreto, máquinas, edificações e poluição. Para os autores, essa relação conflituosa entre homem e natureza é geradora de crises ambientais, cujos reflexos negativos contribuem para a degeneração do meio ambiente, proporcionando condições desfavoráveis, para a sobrevivência humana.
A percepção da população em relação ao meio ambiente é importante para melhorar o planejamento do ambiente urbano. Por definição, a percepção é o ato, efeito ou faculdade de perceber, adquirir conhecimento, a partir de algo por meio dos sentidos, compreender, ouvir (Castro & Dias, 2013). Além do valor biológico e estético, a arborização urbana, de acordo com Huther & Mascaró (2008), pode gerar um valor sentimental, cultural ou histórico. Alguns desses, são valores subjetivos, difíceis de quantificar, podendo ser influenciados pelo meio social e econômico em que o cidadão está inserido. Desta forma, os estudos que se caracterizam pela aplicação da percepção ambiental deve investigar a maneira como o homem enxerga, interpreta, convive e se adapta à realidade do meio em que vive.
Dentro deste contexto, esse projeto busca de forma qualitativa levantar a percepção ambiental dos munícipes de diferentes classes sociais e econômicas, quanto a importância da arborização urbana em diferentes bairros na cidade de Maringá-PR.
2. METODOLOGIA
Para mensurar o nível de percepção ambiental da população de Maringá-PR sobre a arborização urbana, foi realizada uma entrevista com 33 pessoas no período de 23 a 30 de setembro de 2017. A temperatura média durante as entrevistas foi de 3¹⁰C. O questionário continha questões objetivas e discursivas, e foram aplicadas em quinze locais diferentes do município, sendo 57,58% desses locais no centro da cidade,12,12% na Zona 7 e 30,30% em outros bairros. Neste instrumento foram coletadas variáveis que caracterizam a população quanto ao sexo e escolaridade. Todos os participantes possuíam 18 anos ou mais de idade (Tabela 1).
Tabela 1. Questionário de Percepção Ambiental sobre Arborização Urbana aplicado nas entrevistas realizadas na cidade de Maringá-PR.
Questionário de Percepção Ambiental sobre Arborização Urbana
Local da entrevista: Temperatura:
Caracterização do tempo: ( ) Nublado ( ) Parcialmente Nublado ( ) Ensolarado
Caracterização do local da entrevista: ( ) Arborizado ( ) Parcialmente
Arborizado ( ) Não arborizado
Idade: Escolaridade:
Ocupação:
Bairro residencial:
O bairro que você mora é bem arborizado? ( ) Sim ( ) Não
De 0 a 10, qual o nível de arborização? ________
A residência em que você mora possui árvores na fachada? ( ) Sim ( ) Não
Se sim, quantas? ________
Você acha importante a arborização urbana? ( ) Sim ( ) Não
Em quais aspectos?
Você acha prejudicial a arborização urbana? ( ) Sim ( ) Não
Em quais aspectos?
Você acha que uma pessoa pode desenvolver uma relação afetiva com a arborização urbana? ( ) Sim ( ) Não
Você tem alguma ligação emocional com algum tipo de árvore? Se tiver, conte a respeito.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Das 33 pessoas entrevistadas, 60,61 % dos entrevistados tinham até 25 anos. Em relação ao grau de escolaridade, 75,5% dos entrevistados possuem acesso ao ensino superior, 36,36% (completo) e 39,39 % (incompleto). Quanto a ocupação dos entrevistados, 15,15% dos entrevistados são estudantes, 9,09% são publicitários, 9,09% são professores, 6,06% são músicos e 60,61% possuem outras ocupações.
Os locais onde as entrevistas foram realizadas, apenas 21,21% dos locais não eram arborizados. O clima se encontrava quente, média de 3¹⁰C, e o tempo predominantemente ensolarado.
Quando questionados sobre a arborização em seus respectivos bairros residenciais, 87,88% dos entrevistados acreditam que seu bairro é bem arborizado e apenas 12,12% dizem que o bairro não é bem arborizado. Em relação ao número de árvores em sua fachada residencial, 82% dos entrevistados disseram possuir árvores na fachada de sua residência e 18% dizem não ter nenhuma árvore em frente à residência. Dos que afirmaram possuir árvores na via pública de suas residências, 39% dizem ter apenas 1 árvore (Figura 1).
Figura 1. Número de árvores presente na fachada da residência dos entrevistados.
Os dados acima descritos, vem reforçar a imagem de “cidade verde” atribuída a cidade de Maringá, que é conhecida nacionalmente por sua arborização frondosa e de grande porte. Fundada nos anos 40, logo o município de Maringá, inicializou a elaboração do seu projeto urbanístico e arbóreo, sob coordenação do urbanista Jorge de Macedo Vieira e do agrônomo Dr. Luiz Teixeira Mendes (Takahashi, 1997). Dados de levantamento de cobertura vegetal das vias públicas do município de 2008, correspondeu a 25,24/m² /hab. (Sampaio & De Angelis, 2008).
Quando perguntados sobre a importância da arborização urbana, 93,94% dos entrevistados consideram a arborização urbana importante para o ser humano. Destes, 65,8% dizem que a arborização é importante por benefícios climáticos, como manutenção da temperatura agradável relacionado ao sombreamento, seguido por 21,82% dos entrevistados atribuir a sua importância ao embelezamento das vias.
Apesar da vegetação urbana oferecer uma gama de serviços ambientais, os relacionados a melhoria do microclima, são sempre os mais destacados neste tipo de estudo de percepção ambiental (Roppa et al., 2007; Quadros & Frei, 2009; Pizziolo et al., 2014; Lins Neto et al., 2016). Esse resultado faz sentido quando se pensa nas altas temperaturas que ocorrem na cidade, principalmente durante o período de realização das entrevistas. Segundo Santos & Teixeira (2001), embora a vegetação não possa controlar totalmente as condições de desconforto, ela pode, eficientemente, abrandar a sua intensidade.
Quanto ao questionamento sobre as consequências negativas da arborização, 18 % dos entrevistados dizem que a arborização urbana é prejudicial e 82% não a consideram prejudicial. Dos que a consideram, 57,14% dizem ser prejudicial por causa da sujeira gerada por folhas e 42,86% pelo risco de queda. Vale salientar que o risco de quedas apontadas pelos participantes da pesquisa podem ser reduzidas e ou até eliminadas quando existe um planejamento prévio na implantação e manutenção dessas novas árvores.
Sobre o desenvolvimento de uma relação afetiva com a arborização, 64% dos entrevistados acreditam ser possível desenvolver uma relação afetiva com a arborização e 36% acreditam que não é possível. Para 59% as lembranças de infância, reforçam essa ligação emocional com algum tipo de árvore (Figura 2). Esta associação emotiva com as árvores e a infância, ocorre principalmente por esta fase da vida, ser a de maior contato com a arborização urbana, seja por atividades lúdicas e/ou oferecimento de frutos, capaz de trazer boas lembranças aos entrevistados.
Pesquisas evidenciam que a população urbana necessita de contato com a natureza, pois atuam na promoção do bem estar dos habitantes. Atualmente, a arborização urbana, compõe o rol de indicadores e parâmetros de avaliação da qualidade de vida de uma cidade (Sanches, 2014).
Figura 2. Principais razões que levaram os entrevistados a associarem as árvores a uma relação afetiva.
Outro aspecto levantado neste estudo, foi que uma parte expressiva dos entrevistados, 66,67%, já se sentiram tristes ao presenciarem o corte de uma árvore, por transmitir um sentimento de morte e saberem dos benefícios que elas proporcionam, como a perda da sombra.
Diante dos resultados, é possível indicar que a população de Maringá possui uma boa percepção ambiental em relação a arborização urbana, e gostam da presença das árvores em suas vias públicas. Por esse motivo, a cidade precisa de políticas públicas eficientes na manutenção da arborização urbana da cidade afim de evitar os problemas decorrentes da falta de planejamento, como substituição das árvores e a escolha de espécies inadequadas.
4. CONCLUSÃO
A população de Maringá — PR demonstrou possuir uma percepção ambiental positiva com relação à arborização das vias públicas. A população reconhece os benefícios da arborização, e mesmo pontuando algumas desvantagem e transtornos ocasionados, ela consegue estabelecer uma relação afetiva com as árvores de seu município.
Os aspectos negativos apontados na pesquisa, podem ser evitados e/ou minimizados pela atuação do poder público no planejamento e manutenção da cobertura vegetal urbana.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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