E se eu fosse a primeira a voltar pra mudar o que eu fiz, quem então agora eu seria?

Ana Carolina Braz
4 min readDec 10, 2018

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Curitiba sendo generosa na nossa segunda chance

Daqui a pouquíssimos dias vamos embora de Curitiba. Tenho malas para arrumar, coisas para empacotar e, a parte mais triste: me despedir de pessoas e de lugares. Eu, naquele meu movimento já bastante conhecido, comecei a fazer a minha retrospectiva desses meses aqui — e se você já leu textos meus, sabe que isso também não é uma grande novidade. A grande diferença desse para os textos anteriores é que quero contar sobre sonhos antigos que pude realizar.

Nesses meses aqui, não ganhei mais dinheiro nem publiquei artigos (na verdade, tenho um submetido e estou procrastinando saber em que pé está a avaliação e outros dois nos “finalmentes” de revisões e normas de revista), em contrapartida, vivi coisas que, nesse meu momento de vida, valeram infinitamente muito mais para mim.

Estava um pouco reticente a voltar, admito: já estava adaptada a Portugal, à nossa rotina Coimbra-Lousã, já tinha encontrado pessoas com muitas afinidades, até estava familiarizada com utensílios da casa e com os produtos para limpeza e, de repente, voltar diretamente para a República, em plena época de eleições, ter que encarar uma nova adaptação escolar para o António, além de me apropriar de novas coisas e dar a cara a tapa para conhecer novas pessoas não era exatamente o que estava no topo de prioridades daquele meu momento. E é sobre isso que quero escrever hoje.

Mesmo assim — ou exatamente por tudo isso (ainda não me decidi), viemos e encaramos o pacote completo. Teve frustração eleitoral, teve, mas foi muito além (e melhor) que isso: pude fazer as pazes com Curitiba e viver coisas muito significativas e transformadoras. Revisitei o que tinha me apropriado da outra vez além de me apropriar de coisas novas — algumas tão sonhadas e já que foram desejadas da primeira vez em que morei aqui, mas que, por motivos variados, não puderam ser realizadas naquela época.

O António estudou na escola que a gente tinha conhecido e adorado da outra vez, tivemos uma nova adaptação, mas tanto a experiência recente com esse processo, como o lugar em que escolhemos nos ajudaram a passar. Na escolinha, havia um coworking mater/paterno e isso facilitou (escreverei mais sobre ele numa crônica em breve) e também me trouxe o que eu não imaginava que pudesse encontrar nesse espacinho tão curto de tempo: amigas. Para quem mudou tanto de cidade em pouco tempo e que já tinha consciência de que na idade adulta é muito mais complicado — e demorado — fazer amizades do que na época de universitária em São Carlos, ter encontrado pessoas queridas e acolhedoras — que, por sua vez, me apresentaram a outras pessoas queridas e acolhedoras — foi um presente enorme.

Também pude finalmente conhecer e estudar na Esc. — experiência que, entre outras coisas, levou a criar essa conta aqui no Medium (e a não mais postar textão no Facebook! Hahaha). Como foi maravilhoso poder ver, assim bem de pertinho, pessoas que eu admirava como a Julie Fank, a Estrela e o Téo Ruiz, o Ricardo Domeneck. E ainda conhecer outras que eu muito ignorantemente não conhecia como o Pellanda ou o Schwarz. Virei mesmo a “louca dos cursos” e fiz vários, alguns mesmo sem saber, na hora, o porquê de fazer ou em que eles me ajudariam, mas fiz. E garanto: se continuasse aqui, faria vários outros também. Com eles todos, aprendi que a escrita não apenas é possível, como está, sim, a meu alcance. Depois deles, não olhei mais do mesmo jeito nem para as folhas que encontrei pelo caminho.

Ah, as folhas pelo caminho! Nesses meses aqui, também tive a felicidade de aproveitar os meus “me times” em caminhadas pelo Jardim Botânico logo pela manhã. Esses meus momentos, com as minhas músicas e os meus percursos, foram tão significativos a ponto de haver uma mudança gritante entre os dias com e sem esse momento. Definitivamente, serotoninas e endorfinas >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> cortisol.

Ainda bem que eu voltei. Não sei se fui a primeira, mas espero não ser última a voltar, só posso dizer que agora já consigo dizer quem eu sou agora. Hoje, olhando com carinho tudo o que foi, impossível não me lembrar daquilo que o Guimarães escreveu:

“destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas”.

Curitiba, obrigada por essa segunda chance! ❤

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