Em sua carreira, você não é todo mundo.

Ana Carolina Almeida
4 min readNov 4, 2016

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Hoje eu li uma notícia no site da BBC Brasil sobre a quantidade de brasileiros que, apesar de diplomados, não conseguem trabalhar nas suas áreas de formação. Ou pelo menos não em um cargo do seu nível de ensino.

Eu me formei faz pouco mais de um mês e muitos dos meus colegas, incluindo a mim mesma, saíram da faculdade desempregados. A grande maioria estava estagiando até o último semestre e não conseguiu ser efetivado. Mas qual o real problema disso? É claro que o desemprego acarreta dificuldades financeiras e tudo mais, mas também me deu um peteleco importante que disse mais ou menos assim: “Até quando você vai ficar a mercê das ofertas do mercado?’’

Eu digo isso porque percebi que, para algumas pessoas, a falta de (ou o descontentamento com) oportunidades de trabalho foi o pontapé inicial para que dessem um gás em seus projetos pessoais — aqueles de motivação mais genuína. A partir do fim da graduação, da saída de um estágio em uma multinacional, da decepção com um emprego bizarro no qual eu quase (ufa!) ingressei, eu me dei conta de que amo estudar. Descobri ser isso o que mais me alimenta. Descobri que quando adquiro um conhecimento a minha existência ganha um sentido todo especial. Descobri que quando estou lendo/aprendendo/estudando/debatendo, as minhas pecinhas se encaixam e fazem sentido.

Preste atenção no que te motiva. Não pode ser mera coincidência.

E olhando para trás não é difícil chegar nesse resultado. Eu fui nerd durante o ensino fundamental, médio e superior inteiros. Eu sempre gostei de ler. Eu sempre gostei de aprender sobre tudo. Mas, apesar de todos os indícios, vocês não sabem a quantidade de chicotadas psicológicas que eu dei em mim mesma por decidir continuar estudando depois de formada. Como assim eu não estava aguardando ansiosamente por mergulhar de cabeça no mundo corporativo? Não é o que todo mundo faz?

Quando eu resolvi eliminar essas perguntas inseguras e medrosas da minha cabeça, surgiram outras mais relevantes para preencher o espaço vazio: Por que raios a gente ignora a nossa própria trajetória e se inspira na de CEO’s que mal conhecemos? Por que a gente não se coloca em primeiro lugar no planejamento da nossa própria vida?

Me deem uma tesoura que eu vou já cortar todos esses tentáculos de pressão social, cobranças e expectativas alheias que nos impedem de mover nossas pernas rumo ao que realmente desejamos.

Tudo isso é para questionar a BBC se o real problema está no fato de as pessoas não conseguirem trabalhar em suas áreas de formação ou no fato de as pessoas não conseguirem trabalhar em seus melhores projetos. Sei que isso é pouco para fornecer dados confiáveis, mas tem muitos conhecidos meus que estão trabalhando em suas áreas de formação, mas que estão infelizes e anseiam por algum tipo de mudança.

Feito esse comentário, existem três dicas proveitosas em planejamento de carreira fornecidas ao final da reportagem:

  1. “Além de analisar as alternativas que o mercado oferece, o candidato deve olhar para si e escolher algo com o que se identifique.”
    Se você conseguir: olhe antes para si! O mercado está sempre mudando. Sempre saem novas pesquisas das profissões em ascensão e em declínio, das piores e das melhores remuneradas. Nossas paixões e interesses precisam ser analisadas com mais carinho.
  2. “Se depois quiser mudar de área, a transição não tem que ser dolorosa. Nem sempre uma nova faculdade é necessária. Às vezes uma especialização ou cursos livres são suficientes.”
    Mudar de área significa que você tentou. Não precisamos ter 100% de acertos. Não precisamos atribuir linearidade a nossa carreira: colégio > faculdade > trabalho > aposentadoria. O que precisamos é ter autonomia no percurso profissional da nossa vida, assim como temos mais facilmente no pessoal.
  3. “Carreira é isto: olhar o entorno e se olhar, o tempo inteiro. E saber que à medida que você vai evoluindo, pode haver outros interesses, o que é bom. É preciso se preparar para esses interesses, mas não necessariamente isso passa por uma graduação.”
    …Não necessariamente isso passa por uma experiência internacional. Não necessariamente você precisa trabalhar numa multinacional. Não necessariamente você precisa se formar com um emprego garantido. Não necessariamente você vai ser feliz se baseando na carreira do fulano. Enfim, aqui se encaixam muitas das coisas que nos cobram e que não são necessariamente determinantes para o nosso futuro.
Cargo vitalício. Bom trabalho!

Vamos tentar aplicar nas nossas carreiras aquela frase que toda criança já ouviu: “Você não é todo mundo”. Se na infância esses dizeres me incomodavam por me proibirem de ir a algum lugar onde ~todo mundo~ estaria, hoje eles me empoderam. Nós somos únicos. Temos autonomia em nossas escolhas profissionais e pessoais. Temos total licença poética para tentar e errar. Temos total licença poética para mudar de ideia e fazer diferente.

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Ana Carolina Almeida

Alguém que gosta de escrever e que — às vezes — gosta de publicar. :)