Até onde nossos medos vão nos levar?

Ana Carolina Passos
4 min readNov 18, 2017

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Fonte: Pixabay

Nossa infância pode nos trazer muitas pistas sobre o que somos hoje: o que mais gostamos, nossa profissão, nossos medos, nossos sonhos.

Lembro como se fosse hoje o dia em que fiquei presa com o meu pai num elevador por falta de luz. Não sei quantos anos eu tinha, nem como eu externei meu medo. Só lembro daquela sensação de desconforto, que me acompanha toda vez que entro em um elevador. Logo depois de ter ficado presa, fiquei sem entrar sozinha no elevador por muito tempo. Cheguei a ter uma crise de bronquite por subir 13 andares de escada só pra não usar o elevador sozinha. A partir de um olhar racional, meu medo me parece meio bobo.

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Não tenho medo de cobra, nem de avião, nem de abandonar uma cidade e começar a vida em outra, mas tenho medo de elevador e escada rolante. Parece meio idiota, eu sei… Quem me conhece sabe que nunca consigo conversar direito enquanto estou na escada rolante. Preciso prestar muita atenção na hora de subir e descer. Meus movimentos precisam ser friamente calculados, antes que tudo se torne aquela cena de filme, com sangue jorrando por todos os lados. Nunca aconteceu nenhum acidente nem nada, mas lembro de ouvir as histórias de gente que ficou com o pé preso na escada rolante em um shopping de Curitiba.

Graças ao medo do elevador, nunca gostei muito de espaços confinados. Já entrei em caverna, em cidade subterrânea, em lugares com apenas uma saída, mas consegui controlar isso relativamente bem, sem pânico. Por estar em movimento, parece que consigo ficar bem.

Eis que hoje voltei do médico com várias requisições de exames e uma delas envolve duas ressonâncias. Parece que voltei a ser criança, porque me senti tão pequena e indefesa quanto uma. Desde que descobri esses exames de ressonância, jurei pra mim mesma que preferia morrer do que fazer um exame desses. Exageros a parte, não consigo entender como algumas coisas tecnológicas evoluem tanto e outras continuam parecendo instrumentos de tortura da época medieval.

Passei o resto do dia parecendo a “louca do tubo da ressonância”. Perguntei no consultório mesmo se eu poderia ficar com a cabeça pra fora do tubo ou se tinha algum outro método para fazer esse exame. Sai da consulta esperançosa, pois a médica me disse que eu poderia fazer exame em campo aberto. Não sei exatamente o que isso significa, mas pra mim significa não ter que entrar em um tubo confinado.

Liguei para vários laboratórios e cheguei a conclusão que essas ressonâncias específicas que tenho que fazer, só podem ser feitas em campo fechado. Começou a me bater o desespero e a vontade de desistir do exame. Acho que vou acreditar que não tenho nada mesmo. Pra que fazer esses exames mesmo?

Depois de uns momentos de pânico, lembrei de respirar e consegui agendar um laboratório que me garantiu que vou ficar com a cabeça e com os pés para fora do tubo. Já senti um certo alívio. Espero que seja verdade!

Ainda tenho duas semanas até o exame. Recebi uma lista de perguntas e de preparos para o exame, mas até agora não achei nada de relevante nessas informações sobre como controlar a mente em um espaço confinado e barulhento e ainda tendo que ficar imóvel.

Já tenho algumas alternativas mentais de como posso me preparar para isso:

1- Meditar muito até o dia do exame. Intensificar muito a prática. Na hora do exame, diferente de tudo o que aprendi, não focar no aqui e agora. Focar na praia, nas ondas, no brigadeiro, no voo de balão. Em qualquer coisa, menos no tubo.

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2- Treinar em casa com um saco de dormir. Deixar uma simulação de barulhos no computador. Fingir que tá tudo certo e me comportar de uma maneira socialmente aceitável dentro de um contexto de um laboratório.

3- No primeiro medinho que der, apertar o botão do pânico e sair correndo do laboratório, pelas ruas e ainda aparecer no jornal. É, me parece mais divertido.

Brincadeiras a parte, estou pensando em como posso aprender com essa situação e como posso evoluir em relação aos meus medos. Já consigo entrar em elevador sozinha, já consigo conversar um pouco quando estou na escada rolante. Preciso descobrir qual o gatilho para me controlar durante o exame.

E você, quais os teus medos? O que você tenta fazer para evoluir em relação a isso?

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Ana Carolina Passos

Oceanógrafa, viajante do mundo, da costura e do desenho, praticante de mindfulness e que acredita na evolução de todos os seres