Como eu fui vítima de um golpe

Ana Maria De Cesaro
24 min readSep 18, 2017

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Olá, amigos! Que turbilhão de emoções nesses últimos meses não é mesmo?

Parece história de filme, mas foi isso que aconteceu comigo.

Cheguei no Rio de Janeiro no dia 17 de março para fazer um trabalho em uma Livraria no dia 18. “Os ventos estão mudando” pensei. Meu tratamento para depressão já me fazia sentir uma pessoa normal novamente, eu estava trabalhando, fazendo campanhas para várias marcas, meu canal estava crescendo e a minha empresária tinha a minha confiança, pois havia revertido algumas ações perdidas (essa da livraria foi uma delas) e, antes de vir para o Rio, ela me deu muito apoio durante um momento difícil na minha vida: eu tinha voltado para a casa da minha mãe, pois com a crise de 2016 me pegou também e eu não tinha mais como me manter no meu apartamento, enfrentava o término de um relacionamento e um período de muita instabilidade emocional. Nesta época já não a via somente como empresária, mas como amiga, pois além de me apoiar ela também pedia apoio emocional quando precisava.

Após o trabalho da livraria, ela conseguiu que eu fizesse figurações na Globo e me ofereceu sua casa para ficar. Passei um mês no Rio de Janeiro trabalhando muito e feliz por ter encontrado uma cidade que me acolheu, me deu uma nova perspectiva de vida e de carreira.

Durante este um mês, Carol demonstrou que estava passando por dificuldades de relacionamento com o seu namorado e dificuldades financeiras também.

Certo dia a encontrei na varanda de sua casa chorando muito e dizendo que não via mais sentido na vida e que queria se matar.

Para quem luta com depressão há tanto tempo, como eu, sabe que não há como não se sensibilizar com essa história e fazer de tudo para evitar uma desgraça.

Ela pediu pelo amor de Deus dinheiro emprestado para pagar o aluguel, estava desesperada e não tinha de onde tirar, pois “o banco do Rio Grande do Sul estava em greve e não conseguia transferir o seu dinheiro para a sua poupança da Caixa”. Prometeu que quando a livraria pagasse o meu trabalho ela poderia repassar o valor completo para mim, sem a porcentagem dela, quitando essa breve dívida.

Ao ver uma pessoa se despedaçando em lágrimas e dizendo que ia se matar, resolvi ajudar da forma como podia. Porém, não satisfeita com os R$700,00, Carol, ainda se despedaçando em lágrimas começou a fazer várias ligações na minha frente pedindo dinheiro para amigos e parentes, pois o seu namorado precisava pagar uma dívida de um festival de bandas em SP e que ele também estava desesperado, querendo se matar e etc.

Ela ligava para várias pessoas e dizia “Eu tenho 12 mil para entrar na segunda feira, só preciso que você me empreste agora”.

Eu estava quieta, não queria emprestar mais dinheiro, porque não tinha, então com os olhos cheios de lágrimas ela olha para mim e diz “você não tem como tirar um empréstimo no banco?”

“Não, não tenho, nunca pedi empréstimo na vida, nem para mim nem para a minha família”

Então ela saía de casa, ficava horas sem aparecer, me mandava fotos no Whatsapp estando na beira da praia ou na beira de pedras dizendo que ia se matar.

Eu ficava desesperada, sentia que precisava ajudar, não queria que nada de mal acontecesse com ela.

Ela insistia no empréstimo, era a única forma de resolver o seu problema e evitar que fizesse algo drástico. Como ela me garantiu que na segunda feira iria receber R$12.000,00 e conseguiria quitar o empréstimo em apenas uma vez eu o fiz. Pedi o valor de R$5.500,00. Assim ela pagaria a dívida do seu namorado e teria dinheiro para ir para SP acompanhar o festival de bandas.

R$550,00 retirados no banco para que ela tivesse o dinheiro em mãos, R$4.000,00 transferidos, R$700,00 para pagar o aluguel e o restante do dinheiro ficaria comigo como "agradecimento por tirar o empréstimo em meu nome"

Neste meio tempo eu continuava fazendo figurações na Globo e a vontade de ser atriz crescia em mim, encontrei um curso de teatro no Recreio Shopping que caberia no meu bolso, no Sonho Cultural, um projeto social de Luciana Coutinho. Pensei em me mudar para o Rio.

Minha ex-empresária então afirmou que havia fechado um trabalho com a Renner entre outros. A resposta era sempre que “o contrato só faltava chegar”. Foi lá no estúdio da Globo, sendo amparada pelos atores do Zorra que eu chorei e fui abraçada por ela também.

"não vejo a hora de tu vir"

“Não aguento mais ficar sem dinheiro, Carol, você não tem noção a tensão que estou por causa deste empréstimo, nem minha mãe sabe que eu tirei esse dinheiro. Preciso que você me pague”.

“Fica tranquila, já fechamos estes trabalhos, o contrato só precisa chegar, o empréstimo será pago antes da primeira parcela cair, vamos conseguir parcerias com o Crossfit, você vai entrar no teatro e vai dar tudo certo, você só precisa vir. Eu pago as contas da casa enquanto você não receber, em pouco tempo você estará ajudando nas contas ou quem sabe morando sozinha”

Fui burra ao não contar para a minha família que havia tirado o empréstimo. Nunca menti para elas, errei demais nisso.

Em um dos dias ela chegou correndo no quarto e disse “Você será colunista da revista Utilità, R$500,oo por coluna! Vai conseguir pagar suas contas e viver por aqui”

Com tanta perspectiva de trabalho e mais uma dívida em aberto, larguei tudo para me mudar.

Me mudei para o Rio de Janeiro no dia 26 de abril para morar junto com ela. Trouxe minhas roupas, minha bicicleta, meu material de trabalho e minha gata de estimação. Cheguei no Rio na esperança de que o dinheiro fosse pago e minha carreira desse certo. O que não aconteceu. As desculpas eram inúmeras:

"o banco está em greve"

"segunda feira deposito"

"estou gravando agora e depois a primeira coisa que faço é transferir"

"deu problema no aplicativo"

"o dinheiro voltou"

"meu padrasto vai depositar"

"estou doente e indo para o hospital agora, depois faço"

“Ela tem que pagar, estaremos morando na mesma casa, ela não vai roubar alguém que mora embaixo do mesmo teto.” Eu pensava, sendo burra e ingênua.

Ao chegar, refém deste dinheiro que não entrava e do assédio moral das torturas psicológicas dela, eu vi meu mundo ruindo e sem ter para quem falar o que acontecia. Passava o dia ouvindo coisas como:

“eu consigo acabar com a carreira de qualquer um”

“quando eu sou boa eu sou boa, quando eu sou ruim eu sou ótima”

“se você não está satisfeita por que não vai embora? A porta está aberta, é só você ir”

“Se você continuar brigando comigo e cobrando esse dinheiro vou te expulsar daqui, você está na MINHA casa”

“Se você fizer qualquer coisa comigo eu te queimo no mercado, eu sou contratada da Globo, ninguém faz nada comigo”

(Dica, liguem para a Globo e perguntem sobre ela)

Ela dizia “To muito ofendida” e eu já me apavorava pensando “o que eu fiz?!”

Como que eu iria embora se ela estava me devendo tanto dinheiro? Como que eu ia voltar para Porto Alegre e contar para a minha família que eu tinha sido tão idiota? Como abandonar o teatro e enfrentar a humilhação de tudo ter dado errado sendo que não havia nem um mês que eu havia chegado?

Não. Eu ia ficar. A situação tinha que se resolver.

Eu saía de casa e ia para a praia chorar. Pedir a Deus uma resposta. Nas redes sociais? Fotos sendo diva na praia, óculos gigantes na cara para que não vissem meu estado e a tentativa de manter uma imagem de sucesso para que não soubessem o que acontecia comigo. Eu não queria admitir mais um fracasso na minha vida.

News flash para vocês, a internet é uma mentira, ninguém é feliz o tempo todo, as pessoas mostram apenas o que querem e eu estava tentando manter uma imagem que não era real.

Eu ainda tinha algum dinheiro do cheque especial, ela me pedia para fazer compras no mercado e não deixava eu comentar para ninguém que quem pagava era eu.

“É falta de educação ficar falando que você paga as coisas, fica ruim para a sua imagem, não comente nada sobre dinheiro com ninguém que aparece aqui em casa”

Eu já não tinha mais personalidade e não tinha mais forças para continuar, eu só obedecia.

Eis que mais uma vez ela aparece chorando e diz

“vamos ser despejadas, não tenho dinheiro para pagar o aluguel”

Entrei em completo desespero. “Como assim vamos ser despejadas? Pra onde eu vou? O que vou fazer com a Paçoca (minha gata)? Eu não tenho como voltar!"

Eu tinha uma poupança que não queria e não podia mexer, pois era conjunta com a minha família, mas no desespero acabei pagando o aluguel para ter pelo menos onde ficar. Sabe aquela expressão “tá no inferno, abraça o diabo”? Foi mais ou menos assim que pensei.

“Quando ela me pagar eu reponho esse dinheiro” eu pensava

Minha mãe, professora, que não sabia nada do que acontecia, conseguiu depositar um dinheiro para me ajudar no Rio. Eu nem vi esse dinheiro, pois a primeira parcela do empréstimo caiu. Junto dela o meu mundo também, pois minha conta estourou e eu não conseguia tirar nem R$0,10 dela.

Eu estava num beco sem saída, tinha vergonha de contar para a minha família o que aconteceu, não queria falar para a internet que eu era um fracasso, eu não tinha mais forças e não via solução para o que acontecia.

A partir daí as coisas realmente perderam o controle, pois eu estava completamente dependente da pessoa que morava comigo para morar, comer e ter artigos básicos para viver.

Minha conta acumulava juros e mais juros, a dívida do empréstimo crescia, meu cartão de crédito estourou e eu não sabia mais o que fazer. Estava 100% dependente. Não saía mais de casa nem para andar de bicicleta, pois tinha medo de ter um surto depressivo e enfiá-la embaixo de um caminhão.

Minhas redes sociais continuavam sendo alimentadas com fotos antigas. Eu não queria que soubessem o que eu passava.

“Você tem casa e comida, não tem por que reclamar”

Era o que ela me dizia todas as vezes que reclamava sobre a dívida dela comigo que só crescia.

Conheci um garoto que é músico e me levava para ver seus shows, me dava carona e pagava a janta. Nunca estive nesse tipo de situação de sair com alguém que pagasse tudo para mim, não me sinto confortável com isso, porém essas saídas eram a única forma de manter algum tipo de sanidade mental em mim.

Portanto a “ostentação de baladas” era custeada por alguém que trabalhava nas mesmas.

“Lembra que tem gente que gostaria de ter a vida que tu tem”

Em uma tentativa falha de me sentir um ser humano novamente, tirei dinheiro dessa poupança que não podia mexer, peguei um Cabify (com quem tenho parceria de créditos a cada pessoa que use meu código para baixar o aplicativo) e fui para o shopping “passear”, comprei uma bolsa nova, pois a minha bolsa estava sendo usada por ela, comprei uma calça jeans, pois a única que eu tinha estava rasgada, tomei café no starbucks e fui na farmácia comprar delineador, desodorante e remédio para a dor de cabeça. Eu queria minha autoestima de volta.

Quando me perguntaram sobre a “ostentação de compras em shoppings” eu menti, disse que era dinheiro de um trabalho que eu havia recebido, mas na verdade foi dinheiro tirado da poupança. Eu não queria que ninguém soubesse o fracasso completo de vida que eu estava vivendo.

“me sentindo mal, tá sem grana” Eu não tinha mais forças nem estômago pra falar pra ela que eu não estava bem. Não fazia diferença.

De fato eu fiz um trabalho para a Revista Utilità do Recreio dos Bandeirantes no dia 30/05, porém Carol me informava que o dinheiro ainda não havia sido depositado, que ela estava insistindo porque eles realmente não queriam pagar.

Eu continuava cobrando todos os dias pelo pagamento, eu precisava ter dinheiro pra necessidades básicas, estava cansada de depender de tudo por ter a conta estourada por uma dívida de outra pessoa.

Vamos fazer uma conta aqui:

  • R$700,00 primeiro dinheiro emprestado para aluguel
  • R$5,500,00 empréstimo no banco (que se fosse pago na data acordada, ficaria em R$5936,37)
  • R$2.999,98 do segundo dinheiro emprestado para o aluguel.

Se tudo fosse pago na data acordada, a dívida dela comigo seria de R$9636.35, porém ao cair a primeira parcela do empréstimo os juros já começaram a rolar, tanto no empréstimo, quanto no cheque especial da minha conta que estourou, quanto no cartão de crédito (afinal eu continuava comprando comida pra casa, convenientemente ela esquecia o cartão dela em casa e só lembrava no caixa com as compras passadas) que estourou também.

Logo virou o mês, a segunda parcela foi descontada mesmo com minha conta estourada, os juros estavam comendo soltos.

O tempo ia passando e a situação piorando. Outro mês virou.

Já não conseguia mais pagar meu celular que também era usado por ela para fazer ligações para Minas Gerais, Porto Alegre e SP e comecei a pagar multa aí também.

Depois de 2 meses sem pagar, a Claro descontou este valor da minha conta

No dia 13 de Junho nos mudamos para outro apartamento, pois, segundo ela, o dono do apartamento onde estávamos não queria aceitar a Paçoca de jeito nenhum. Ela disse que jamais ficaria num lugar onde a Paçoca não fosse aceita e por isso iríamos nos mudar por ela.

A situação da minha conta e da dívida dela comigo estavam piorando, já haviam sido descontadas duas parcelas de R$ 1687,58 do empréstimo e a terceira estava atrasada há semanas. Por isso todos os bloqueios financeiros que sofri.

Em função desses juros todos e do constrangimento de não ter a mínima autonomia nos últimos meses em função dos bloqueios, ela sugeriu fechar a dívida em R$15.000,00.

meu celular já havia sido cortado
Mais juros e nada de pagamento. Ela já estava acostumada com os meus surtos de desespero e ansiedade por ver a situação se agravando sem perspectiva de resolução

Meus dias no Rio de Janeiro se resumiam a chorar, cobrar o pagamento dela, dormir, ir pra praia chorar, cobrar pagamento, discutir com ela, ameaçar de processo, ficar preocupada porque ela sumia, chorar, postar fotos antigas, chorar, sair na quinta feira pra ir pra Nova Iguaçu com meu amigo para vê-lo tocar, respirar, encontrá-la em casa, cobrar pagamento, chorar, resistir a semana até chegar sábado que tinha ensaio no teatro, respirar, voltar pra casa e viver tudo isso de novo até o próximo sábado.

Comecei a pedir ajuda aos meus amigos, pedir indicações para trabalhos, pois eu queria sair dessa sem precisar expor a história.

Decidi postar no instagram algo que refletia minha realidade.

Como estava há meses sem pagar o teatro eu parei de ir aos ensaios por pura vergonha de olhar para as pessoas da administração, recebi a notícia de que perderia meu papel.

Com essa notícia do teatro e ainda perder mais uma oportunidade de uma parceria com um local de Laser para tirar os pelos do meu rosto que mais uma briga foi desencadeada. Eu não tinha dinheiro para pegar ônibus e ir até o local que era no Leblon e não tinha mais créditos no Cabify.

“Carol, você não pode pagar um Uber ou ônibus para eu ir lá?”

“Eu não tenho dinheiro para ficar pagando para você tirar pelos do rosto”

“Pelo amor de Deus Carol, isso afeta muito a minha autoestima, eu preciso que você me pague, se eu tivesse eu mesma iria, mas eu não tenho mais nada!”

Mais uma vez a resposta foi:

“Ana, você precisa parar de ser tão pessimista, você tem casa e comida, não tem por que reclamar”

“O QUÊ?! NÃO AGUENTO MAIS OUVIR ISSO!!!”

Então tivemos a pior briga de todas dentro dessa casa, eu não aguentava mais ser torturada psicologicamente, não aguentava mais não ter dinheiro e ter que olhar diariamente para uma pessoa que abusava da minha boa vontade.

A ameacei expor a história para a minha família e ameacei de fazer BO. Gritávamos pela casa, eu pedindo pelo amor de Deus que me pagasse e ela dizendo que estava muito ofendida pelas minhas acusações. Eu me sentia culpada por brigar com ela por pagamento. Meu desespero era absurdo, pois não sabia como dizer para a minha mãe que não estava pagando o teatro, não queria falar o que estava acontecendo comigo.

Desabafos com o meu amigo
o medo de ser expulsa era constante

Carol saiu de casa sem dar notícias para onde iria. Eu ficava cheia de incertezas.

Carol afirmava que era psicóloga, jurava pelo afilhado e eu dizia que confiava sem confiar, eu tinha medo. Eu só pedia para ela não me mandar embora.

Carol surgiu no dia seguinte dizendo que tinha uma surpresa para mim e me entregou o recibo do pagamento de duas mensalidades do Teatro.

Depois disso pensei "Ela é uma boa pessoa mesmo então, não pagou sua dívida até agora porque não tem, ela vai pagar em breve, tenho fé em Deus" e assim segurei as pontas por mais duas semanas. Estava focada na peça.

Ela trouxe uma amiga pra dentro de casa que me tratou extremamente mal desde o primeiro dia que esteve aqui. Me menosprezava, gritava comigo e eu não entendia mais nada. Resolvi começar a sair de casa de bicicleta e passava o dia na praia chorando porque não aguentava nem olhar para a cara das duas.

No dia da notícia do suicídio de Chester do Linkin Park, um gatilho se ativou em mim. "será que é a única forma de sair dessa?" Nos stories do instagram mostrei que não estava bem, chorei a morte de um ídolo e desabafei sobre suicídio. No post do instagram a pose era essa:

Na praia chorei demais e pedi a Deus uma resposta, um caminho ou uma luz. Pedi algo que me fizesse lutar e não tomar uma atitude irreversível.

No dia seguinte desta foto: Precisamos conversar, disse ela. Então tive a certeza que ela me expulsaria da sua casa, pois era algo que ela me ameaçava constantemente.

Então Carol me informou de que se mudaria, pois precisava morar sozinha e que eu podia decidir se ficava ou ia embora, disse que seria uma melhor empresária para mim se não morássemos mais juntas. Pedi para que me desse apenas uma semana para vender tudo o que eu tinha para quitar a dívida e ir embora para Porto Alegre.

Sem uma lágrima no rosto minha resposta foi "Você acabou comigo, Carol, você conseguiu. Eu não tenho mais forças pra lutar ou continuar nessa carreira, só me dá uma semana, vou vender minhas coisas, quitar a dívida, voltar pra casa e tentar apagar tudo isso da minha memória"

"Nossa, Ana, to impressionada com a tua calma"

"Eu não tenho força nem pra discutir"

Eu ia vender tudo o que tinha conquistado com muito trabalho e suor. Eu ia deletar todo o meu trabalho, voltar para Porto Alegre e iniciar uma nova vida longe da internet ou dos palcos.

Se despedaçando em lágrimas ela disse que não deixaria eu desistir do meu sonho e que garantiria o pagamento das contas do apartamento em que estávamos por mais dois meses, além de quitar a dívida comigo. Eu não acreditei em nada e então a pedi para assinar um documento reconhecendo a dívida e firmando sua promessa.

Eu não acreditava em nada mais que ela me dizia, apenas queria um documento que provasse o que tinha feito. Achei que ela ia ficar ainda mais uma semana e eu teria tempo para vender minhas coisas e ir embora, mas no dia seguinte acordei e ela havia ido embora com todas as suas coisas. Então fiz um BO.

Criei um grupo no Whatsapp com pessoas que eram próximas a mim para poder informá-los onde eu ia e o que fazia para assim ficar em segurança, se eu sumisse repentinamente eles estavam instruídos a expor toda a história. Porém, ao fazer o BO e expor a história na internet (até hoje não sei se foi a melhor ou pior decisão que eu poderia ter tomado) novas vítimas de golpes diferentes surgiram e foram adicionadas neste grupo chamado "Força do Apê", assim o grupo se transformou em uma reunião de pessoas lesadas pela mesma para reunir provas sobre o que fazia.

Comentei sobre meu desespero de ter exposto a história, sobre o medo pela minha vida e sobre a vontade de vender tudo e ir embora para estas pessoas que me encorajaram e ficar e lutar.

Estando neste grupo, seus golpes foram revelados e suas mentiras também. Ela nunca namorou o Wagner e muito menos ficou grávida dele, isso apenas fazia parte de algo que estava acostumada a fazer.

Cada pessoa nova que entrava dava seu relato de como tinha sido enganada por ela, expunha suas provas e foi lá que descobri que eu era mais uma vítima. Até então eu achava que ela não me pagava porque não tinha o dinheiro e não porque não pretendia pagar.

Foi neste grupo que descobri que ela também devia para a nossa vizinha e que na verdade nós fomos expulsas do primeiro apartamento porque o dono resolveu pesquisar o nome dela e descobriu várias acusações de estelionato.

Foi neste grupo que descobri que ela depositou envelopes vazios de pagamentos para várias pessoas, apenas para ter um comprovante de depósito para mostrar. Assim como fez comigo e com as mensalidades do teatro que teriam sido pagas, mas na verdade não foram.

Foi esse grupo que me deu forças pra lutar por justiça.

Ao desabafar para meus seguidores (ainda, não sei se foi a melhor ou pior coisa que eu poderia ter feito) eles não permitiram que eu vendesse minhas coisas e ofereceram que eu fizesse uma vaquinha para recolher ajuda. Depois de muito relutar, aceitei.

Contei a verdade para a minha família, que no primeiro momento não conseguiu me apoiar, pois ficaram tão chocadas que me viram como uma mentirosa por não ter contado antes e não ter voltado para casa.

Fui uma idiota, caí na conversa de alguém que me enrolou cada vez mais até eu não ver mais saída.

Fiz a vaquinha. Para saber sobre a vaquinha e a prestação de contas clique aqui.

Durante o tempo que a vaquinha rolava, eu trabalhei muito para passar o apartamento para o meu nome, limpar o meu nome na praça e fiz muitas reuniões para conseguir parcerias para me reerguer. Enquanto isso os ensaios da peça se intensificaram e eu também estava muito envolvida por isso.

Conversando com a dona do apartamento descobri que havia dois aluguéis em atraso. Então finalmente entendi porque ela não me expulsou, mas sim saiu de casa. Ela não pretendia pagar nem a dona do apartamento.

"Vou dar um jeito de pagar essa dívida dela com a vaquinha, não vou ser cúmplice dessa desonestidade"

Consegui 3 parcerias, um restaurante, um local de Crossfit e um local para fazer laser no rosto.

Para o restaurante fiz um projeto grande e ambicioso, seriam 4 meses de promoção do local em troca de patrocínio financeiro. A contra proposta deles foi que permitiriam que eu comesse lá de "graça" em troca de divulgação nas redes. Não era o ideal, pois eu não ganharia dinheiro, mas era ótimo porque eu teria onde comer comida saudável e isso me permitiria não gastar dinheiro com alimentação pelo menos.

No restaurante meu cadastro como parceira era “Ana De Castro” (realmente as pessoas têm dificuldades de entender o Cesaro). Eu comeria lá sem custo para mim e, caso gostasse da comida, do ambiente e atendimento, falaria do restaurante nos stories, posts no instagram e lives no facebook.

No Crossfit as pessoas que sabem sobre a parceria são apenas os donos e em função das minhas correrias e deles ainda não há uma ficha cadastral em meu nome. No Crossfit sou embaixadora do projeto #30tobefit e contaria minha experiência no box em vídeos e posts em stories e etc.

No Espaço Pretty Laser a própria dona já havia falado em Stories que estávamos fazendo o serviço no sistema de permuta. Cada sessão renderia stories e posts no instagram.

Por que nenhum trabalho desse tipo estava acontecendo antes? Porque eu não negociava essas coisas, tudo passava pela Carol que fazia questão de deixar claro que eu não poderia me envolver. Eu não tinha mais contato com agências e marcas, na verdade ela não deixava eu ter contato com ninguém nem da administração do prédio. Só consegui entender o porque de tudo isso após ela fugir.

Ao entrar em contato com agências para informá-los de que ela não respondia mais por mim a resposta era sempre a mesma.

“Nós achamos muito estranho mesmo, ela ligava para falar de você e começava a pedir coisas para ela. Sinceramente? Teu filme está bem queimado por causa dela”

Durante este tempo todo eu estava trabalhando com dois advogados, desde o dia 31 de julho, porém não dá pra esquecer que advogados são seres humanos e por mais que estejamos enfrentando perrengues, caso eles estejam em um hospital, por exemplo, eles não podem trabalhar de lá.

Edit: áudio retirado a pedido da advogada.

Enquanto isso a vaquinha avançava bem, eu recebia muito apoio e amor de fãs, amigos e youtubers que me conhecem há anos, sabem da minha índole e querem meu bem. Porém alguns youtubers e instagrams de fofoca, impulsionados por perfis fake criados pela Carol para tentar fazer parecer que a golpista era eu (tenho provas dela falando que faria isso) uma onda absurda de ódio começou a assolar a mim e minha família.

O vídeo da vaquinha ficou confuso, muitos não entenderam se era pra me ajudar a levantar, quitar a dívida do banco ou patrocinar uma peça que eu disse que faria em agradecimento(minha mãe achou que era isso), realmente, não fui clara no propósito, pois nem eu sabia direito o que estava acontecendo comigo, ao mesmo tempo me sentia feliz por estar livre, me sentia desesperada por estar vivendo aquele pesadelo. Eu tinha que ter paciência, não podia ser precipitada com as informações, pois não tinha nem conseguido um advogado que executasse a dívida e o processo contra ela.

Algumas dúvidas de seguidores e de pessoas que me seguem foram geradas com toda a razão, pois como eu vivia uma confusão na minha vida, nem eu conseguia explicar direito o que acontecia. A verdade é que até o objetivo da vaquinha foi mudando com o tempo, pois mais problemas iam sendo descobertos conforme os dias iam passando, os aluguéis devidos à dona do apartamento eram um exemplo.

Eu tinha que aguentar esse ódio e esperar para responder as perguntas no momento devido. Eu até tentava justificar algumas coisas em stories, mas tudo que eu dizia em vídeo era usado contra mim. Decidi me calar até que a vaquinha terminasse e eu pudesse resolver minha vida.

Porém as coisas foram piorando. Comecei a receber emails de ameaça, pessoas entravam em contato com a minha família e começaram a falar mal até da minha mãe que também não sabia exatamente o que estava acontecendo.

Não consegui aguentar o assédio moral, eu estava sendo assediada e minha família também, minha mãe já tinha medo de sair em público com receio de reprimendas. Decidi encerrar a vaquinha antes do tempo determinado e antes de chegar à meta. Eu precisava pelo menos proteger minha família.

Em 3 semanas conseguimos juntar cerca de R$11.290,00 (que eu só consegui retirar pouco mais de R$10.000,00 por taxas do site e por contribuições que não foram confirmadas).

Voltei a sair de casa, fazer Crossfit, comer de forma saudável e fazer conteúdo que gosto e me orgulho, porém as pessoas começaram a dizer que eu estava gastando o dinheiro da vaquinha nessas coisas e que havia dado um golpe nos meus fãs para sustentar uma vida de luxo, coisa que quem me conhece sabe que eu jamais faria.

Entraram em contato com o restaurante onde eu comia, inventaram histórias e eu percebi que havia a possibilidade de perder a parceria. Tentei marcar uma reunião para esclarecer a história, porém ela não aconteceu.

Descobri que perdi a parceria em um momento super delicado, pois foi o dia que estava em reunião com a dona da revista Utilità, para criar algum projeto que me permitisse levantar. Neste dia descobri que os tais de R$500,00 de cachê não eram R$500,00 e sim R$600,00 que foram pagos no dia 23/05, ou seja, 7 dias antes de eu publicar o trabalho. Eu nunca vi esse dinheiro, pois foi depositado na conta da Carol, que me dizia que não havia recebido. Além de cair num golpe, fui de fato roubada.

Neste dia, após nossa reunião/almoço chegou a conta de R$62,00 para eu pagar, tive vontade de vomitar porque sabia que tinha apenas R$17,00 na conta. Pensei em transferir um pouco do dinheiro da vaquinha para pagar essa conta e a Dani, sendo um amor, percebendo a minha surpresa ao perder a parceria, pagou o meu almoço e ainda disse brincando com a situação "Quando você levantar você paga um almoço pra mim, prometo que vou escolher um local bem caro". Rimos no momento e eu voltei para casa extremamente abalada.

"Não acredito que esta mulher vai vencer. Não pode! Eu sou a vítima e estou sendo massacrada! O que faço, Deus?"

Neste meio tempo surgiram montagens de mensagens do instagram tentando fazer com que as pessoas acreditassem que eu não me importava com quem doou pra vaquinha.

Montagens com erros de concordância que não cometo, expressões e abreviações que não uso.

Eu morrendo de vontade de fazer a prestação de contas da vaquinha, mas procurando orientação de advogados, pois queria que esse assunto fosse encerrado da melhor forma possível. Como eu não tinha dinheiro para pagar as consultas, tinha que esperar o tempo livre deles para que pudessem me aconselhar. Eu não estava aguentando o inferno que minha vida tinha se tornado.

Enquanto isso eu ia reunindo provas, organizando uma linha do tempo para poder resolver essa história. A questão já não era nem mais provar que a Carol era culpada e sim que eu era inocente, tudo devia ser feito com muita cautela.

Minha mãe insistia que eu voltasse para casa, mas é questão de honra eu ficar aqui e vencer essa história. Eu fui vítima e não vou aceitar esta derrota. Não vou voltar e e desistir da minha carreira por algo que foi feito contra mim.

Caroline entrou em contato com perfis de fofoca, com pessoas que não gostavam de mim e começou a contar a sua versão da história. Comecei a receber ataques mais diretos nas minhas redes sociais e ameaças que estavam me deixando com medo de seguir em frente.

Fui aconselhada a bloquear meu instagram, suspender os vídeos e tirar a possibilidade de as pessoas comentarem e assim o fiz, pois ler tudo aquilo me fazia muito mal, me deixava sem forças para lutar por justiça.

Ainda não há processo contra a Caroline, pois meu objetivo neste mês foi sobreviver a estes ataques e trabalhar na peça de teatro que teve sua última apresentação no dia 15/09, sei que tudo acontece no momento certo e agora, com tempo livre, isso será feito.

Com o devido aval de advogados sobre este texto e o da prestação da vaquinhas aí está toda a história exposta.

A história é tão surreal que realmente parece inacreditável, mas infelizmente foi isso que aconteceu. Quem dera eu tivesse criatividade para inventar tudo isso e sangue frio para sustentar um "golpe aos seguidores" por tantos meses. Mas eu não sou assim. Eu sou 100% coração e tentei de fato resolver essa história sem precisar expô-la na internet. Ter exposto o que aconteceu comigo me causou um mal absurdo e sujou muito minha imagem, mas espero que sirva de exemplo para outros para que não caiam no mesmo tipo de situação.

Sinceramente, você pode ou não acreditar no que está escrito, mas a prestação de contas está aí e eu tenho provas dessas e muito mais coisas sobre o que esta mulher fez comigo ou com outras pessoas. Porém, isso está nas mãos da minha advogada (A terceira! AGORA VAI!) que poderá esclarecer mais sobre o caso.

A partir de agora não me pronuncio mais sobre o assunto, pois quero tocar minha vida para frente, trabalhar muito e levantar desse golpe. Tendo dito isso, volto a botar em prática as palavras do meu Mestre de arte marcial que uma vez me disse “você não pode confiar em ninguém além de você mesma”. Sugiro que façam o mesmo.

Agradeço imensamente a todos que me ajudaram, a todos os fãs que estão me apoiando e ao Crossfit que ainda me apoia. Em homenagem a todos que participaram deste momento difícil, fiz uma parceria com o Lucas Teles do Plano B Tattoo e fiz uma tatuagem para deixar marcado esse momento e a minha profunda gratidão para sempre.

Fazer a vaquinha foi a melhor e pior decisão que tomei na minha vida. Eu não sabia que havia TANTA gente disposta a me ajudar a superar um momento difícil, nunca senti tanto amor e apoio como nesta fase, assim como não acreditava que TANTA gente estava disposta a destilar ódio e falácias constantemente, apenas com o objetivo de me derrubar.

Continuo dizendo que com o amor nós conseguimos superar todas as adversidades. Pode ser mais difícil, mais lento e mais doloroso, mas eu ainda sinto que o amor sempre vence. Em algum momento a verdade vai aparecer. Tem que aparecer.

Sem mais.

Ana De Cesaro

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