Ana Cristina Rodrigues
4 min readJan 14, 2018

8 tropes com personagens femininas para esquecer de vez em 2018

Já estamos avançados no século XXI - como lembraram no Twitter, todos que nasceram no século XX já são maiores de idade. Porém, autores e roteiristas continuam insistindo nos mesmos velhos e batidos clichês. Fiz uma lista de alguns que me irritam particularmente.

  1. A menina que se transforma e fica linda para conquistar aquele garoto.

Olha… a historinha do Patinho Feio só é aceitável porque realmente um filhote de cisne é muito diferente do adulto (o que não quer dizer que sejam feios. Filhotes de periquito são bem mais horríveis!). Para seres humanos, já não faz o menor sentido dizer que aquela menina de óculos, aparelho e cabelo rebelde precisa de um banho de loja para realizar seu sonho: pegar o cara gato.

Tudo errado nisso. Principalmente a motivação, né? Afinal, nunca na vida a pessoa se torna automaticamente feia pela presença dos óculos — ou bonita pela sua ausência. E sério que ainda precisamos contar histórias que sejam exclusivamente sobre mulher precisando desesperadamente de um homem?

Vamos trocar por:

Que tal o personagem masculino se encantar pela menina do jeito que ela é? Ou a menina que se via forçada a ser vaidosa para agradar os outros e finalmente se liberta para ser como quer e gosta? Isso inclusive pode significar a liberdade do padrão social para gêneros e comportamento sexual-romântico.

2. A velha sábia mas humilde, cheia da sabedoria popular

Nenhum problema, claro, com senhoras sábias que conhecem tudo sobre ervas, uma sabedoria passada de geração em geração… só que já se abusou tanto disso, principalmente na fantasia épica.

Veja, o velho sábio pode ser um professor, um alquimista, um mago, um ex-aventureiro. Mas se for uma senhora, ela provavelmente vai ser analfabeta, dona de uma sabedoria baseada na vivência e no cotidiano, um amalgama pouco definido entre curandeira, parteira, rezadeira e herbalista…

Por mais senhoras alquimistas, necromantes, professoras, acadêmicas, bibliotecárias!

3. As rivais sem motivo

Todo mundo sabe que a maior inimiga de uma mulher só pode ser outra mulher. Pelo único e simples motivo de… serem duas mulheres.

Sério. Para e pensa um pouco. Quantas vezes você já viu nas obras de ficção duas mulheres que se detestam sem um bom motivo? Nem sequer o pior motivo de todos, um homem — que geralmente só aparece na equação quando elas já demonstraram que não se topam.

Olha, rivalidade feminina está bem batida, repisada e aproveitada na ficção. Mas se mesmo assim você acha que é importante para a sua história… pense num bom motivo? Por favor? MUITO por favor?

Sabe todas aquelas ótimas explicações que seu protagonista masculino tem para não gostar do antagonista masculino? Muito provavelmente elas servem para duas mulheres que não se gostam. A mera existência da outra não basta.

4. A vilã sedutora

2018 e as pessoas ainda não entenderam as palavras da imortal Jessica Rabbit: “Não sou má, só fui desenhada assim”.

Não é porque a mulher é gostosona que ela é má (ou burra, já que estamos falando nisso). Não é porque ela sensualiza que ela se torna um ser desprezível. E gostar de sexo não é prerrogativa só de mulheres malvadas.

Garotas boazinhas também trepam. E gostam. Então, nada de mocinha donzela x vilã promíscua também!

5. A smurfete

Um grupo de cinco pessoas, quatro homens e uma mulher.

Três pessoas? Dois homens e uma mulher.

E assim vai…

Você deve se lembrar do tormento multigeracional que se chama Smurfs, aqueles bichinhos azuis liderados pelo velho de barba branca e roupa vermelha que não é papai Noel. Uma vila inteira de seres cuja nicho ecológico parece ser o de componente de poção alquímica que só é conhecida por um bruxo meio burro… uma ALDEIA toda. Só.uma.única.mulher. (Que ainda por cima foi criada pelo vilão, né…)

Cara, eu nem estou falando de empoderamento, de tornar mulheres as protagonistas das suas obras… mas se você tem um grupo central na sua trama, por favor, equilibre os gêneros.

(E se nenhuma das mulheres presentes for namorada dos carinhas, você ainda leva um biscoito extra para casa, êêêê…)

6. A donzela em apuros

Aliás, nem só donzela. Existe uma mania irritante de até mesmo personagens femininas poderosas, emponderadas, bem resolvidas em tudo… mas que na hora de se safar de um problema precisam dele, do SUPER-MACHO!

(Preciso confessar que estou desabafando a minha irritação com o jogo ‘Witcher 3: The wild hunt’. Não vou me alongar sobre o jogo especificamente, mas como me irritou ver várias mulheres poderosas dependendo do tal witcher pra resolver probleminhas bestas…)

Será que ela realmente precisa de ajuda ou é apenas um pretexto para seu protagonista machão ficar bem na fita?

7. A eterna apaixonada

Cara conhece garota. Se apaixonam. Ficam juntos. A vida os separa. Ele continua. Conhece outras pessoas. Casa. Tem filhos. Um emprego foda. O casamento, apesar de ter dado certo, acaba… e a garota está lá, paradinha, esperando por ele. No máximo, teve um casamento super infeliz (ou ficou viúva), mas isso não importa porque ela nunca o esqueceu, seu verdadeiro, grande e único amor.

Histórias de reencontro podem ser muito legais. E garanto que ficam MAIS LEGAIS se os dois tiverem tido uma vida plena no espaço de tempo em que ficaram separados e tiverem que se re-apaixonar ou se reencontrar.

8. A menina que despreza ‘as artes femininas’

Sim, histórias sobre pessoas que rompem padrões e superam obstáculos e preconceitos são ótimas. Porém, se são sempre os mesmos padrões que são rompidos, não vira outro padrão?

Por que a jovem princesa precisa odiar bordado para amar espadas? Não querer aprender a valsa para ser louca por cavalos? Dá para ter os dois.

Dá para ser os dois. Não é porque gosta de coisas que não lhe são permitidas que ela precisa odiar o que ela pode fazer.

E aprender a dançar pode ajudar MUITO na hora de lutar com uma espada…