Ana Luiza Marques
2 min readJun 29, 2020

O AMOR NOS TEMPOS DO COVID

Com a propagação do coronavírus, tornamo-nos ainda mais reféns do celular. O nosso fiel escudeiro de cada dia é quem faz hoje o papel de mensageiro das relações, cujas comunicações estão sujeitas, especialmente nas gerações mais novas, a “toques” virtuais. A presença física, cada vez mais empolada pelo distanciamento social, torna-se uma cobiça, ao menos para aqueles que cumprem as medidas de isolamento.

Os relacionamentos se entrecruzam por meio das janelas de notificações. Os afetos partilhados – por mensagens, fotos, áudios, vídeos e outras trocentas possibilidades de interação – ressignificam o conceito do palpável, em sensações que beiram o além do imaginário e podem até levar as tais borboletas no estômago. Suspiros. Tesão. Vontades. E não há problema algum com isso, desde que o virtual não sobreponha a realidade e o real se torne apenas uma peça de ficção, a liquidez que se dissipa no ar da tal pós-modernidade.

Como bem sabemos, as relações se reinventam desde que o mundo é mundo. Gabriel García Márquez hoje, por exemplo, talvez reescrevesse o título ao “O amor nos tempos do COVID”. E o tal triângulo amoroso seria entre duas pessoas e um terceiro elemento: um aparato que tem a esperteza de unir caracteres, como também dividí-los a partir de um ecrã. Isso porque nada, absolutamente nada, nenhum bem de consumo ultramoderno poderá substituir a proeza do gosto, do cheiro e a presença tangível do outro.

Ana Luiza Marques

Nascida em São Paulo, radicada na Paraíba e residente em Lisboa. Meio mundo de histórias, dois gatos e muitos dilemas.