Era o dia da minha morte. E eu sabia que ia morrer. As pessoas que amo sabiam também. Na verdade, era o dia que eu tinha que morrer.
Eu tinha uma doença, e um horário pra partir. Se lembro bem, faltavam duas horas pra que eu me despedisse. Recordo poucos detalhes, era um dia muito confuso. Vi minha mãe firme, sem chorar, me dando força, agradecendo pelo tempo que vivemos juntas.
Meus sentimentos mesclavam conformismo, tristeza. Dó mesmo. Era muito cedo pra ir embora.
Estava eu às voltas sobre a forma de partir. Me deitaria em um leito? Receberia uma injeção? O que ocorreria?
Acordei sem saber.
Era um sonho. Só um sonho. Ainda bem, porque como diz aquela música, eu “ainda tenho 80 anos pela frente … e a vida é boa de viver”.
Acordei e pensei no sonho. Estava muito bem disposta. Às 11h já tinha me exercitado, comprado coisas, estudado. A vida é boa de viver.
Escrever foi fácil. Sentei e saiu. Saiu porque senti, me tocou. Porque vivi, ainda que, e felizmente, apenas em sonho.
Texto de Ana Rocha, produzido para o Clube da Escrita, de Ana Holanda. Desafio 3, de setembro