“Quem não erra, não acerta!”

Ana Paula Gomes
5 min readSep 7, 2015

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Por incrível que pareça, ouvi essa frase pela primeira vez em um Carnaval. E não é que é verdade? :)

Aqui eu tenho contado algumas boas coisas que aconteceram comigo. Acertos. Porém até o momento de rascunhar este post, eu estava relutante. Não é muito confortável falar sobre os momentos que deram errado. Espero que esse seja o começo.

A cultura do erro tem formas variadas em diferentes lugares do globo e está intimamente relacionada com a cultura do povo. Durante muitos anos o Brasil foi colônia de Portugal. Isso não representava apenas ser explorado em suas riquezas. Significa também não ter autonomia alguma e viver sempre a mercê da vontade de um povo que não era o seu, influenciando diretamente na maneira sobre como nos vemos. Hoje, mais de 500 anos depois da descoberta, ainda vivemos o reflexo deste tempo: temos a síndrome do colonizado. A síndrome do colonizado nos faz ter dificuldade em ver o nosso lado bom; somos rápidos em criticar e apontar erros. Nos subestimamos e, com essa inferioridade, acabamos desmotivando as pessoas que estão tentando. Esse tipo de comportamento acaba inibindo a liberdade que todos temos de tentar, experimentar, aprender e conhecer.

Além disso, já percebeu a cobrança que acontece com as crianças? Se uma criancinha de 4 anos derrubar um vaso, provavelmente irão esbravejar com ela e colocá-la no cantinho de pensar (meigo). Ninguém leva em consideração que ela ainda está aprendendo — concordo com a advertência mas não em cobrar como se ela já soubesse tudo. Caso um adulto quebre, irá pedir desculpas, no máximo. Algumas coisas acontecem por falta de informações, de conhecimento e de aprendizado que, em certos momentos, só temos errando. Às vezes acontece de matar um patinho porque não sabia que patos voavam… Acontece.

Eu não costumo a me arrepender das coisas. Isso é difícil de acontecer comigo porque eu tenho uma visão muito positiva das coisas (alguns dizem que até demais). Mas eu penso que é melhor ver um lado bom nas coisas. Acredito que o universo atrai de acordo com o que você pensa e que tudo existe dentro de um propósito maior. Até agora tem dado certo pensar dessa forma. Entretanto, eu ainda sinto uma frustração com as coisas que não deram certo. Aceito e sigo em frente mas é chato admitir que errou, que não alcançou o que deveria ou como deveria ser.

Ainda com essa filosofia de vida, shit happen.

O que deu errado comigo

Sempre quis empreender. Meus pais já empreenderam bastante: vendendo roupas, sapatos e até coco. Não sei se isso veio deles ou de algum momento da vida. Eu tentei pela primeira vez com um grupo de colegas. Alguém teve uma ideia maluca de fazer camisas por demanda. Mas não deu certo. Éramos muitos e bem desorganizados. Nessa época também eu quase não tinha experiência de mercado. Aprendi logo que um grupo grande demais dificulta as decisões e que sem knowhow e sem contatos, é muito diferente começar alguma coisa que dê certo.

A segunda vez foi o AM Soluções Web (hoje este nome não me parece tão legal…). O objetivo era ser uma fábrica de software para sistemas web. Já tinha alguma experiência profissional, havia feito um curso de como iniciar um pequeno grande negócio e tinha mais dois sócios. Eu estava na universidade, muito motivada pra colocar os conhecimentos em prática. Na equipe tinha um excelente designer e um excelente programador. Parecíamos ter os objetivos bem alinhados. Até que um ou outro começou a atrasar com os prazos e não tínhamos grana para contratar pessoas e desenvolver o negócio. Tivemos apenas um cliente e foi o suficiente pra perceber que sem compromisso de maneira igual na equipe e sem dinheiro não dá pra montar um negócio de sucesso. Quero frisar aqui que sem capital de giro, grana, money, bufunfa, o negócio não é fácil de acontecer. Coloquei na cabeça que a próxima tentativa só aconteceria com capital de giro necessário.

Já estava preparada para tentar apenas daqui a muitos anos, com dinheiro o suficiente pra manter uma operação completa. Até que no início de 2013, eu e Ricardo Tássio ganhamos um prêmio no hackathon da Vivo na Campus Party com o aplicativo Radar. O aplicativo registrava problemas da cidade, de saúde a transporte, e mostrava em um mapa. A repercussão com o prêmio foi grande. Saímos na TV, recebemos propostas de emprego e de investimento. Alguém queria investir na nossa ideia. Aquilo pareceu maravilhoso, afinal era a peça que eu achava que faltava. Então começamos a Next-U.

A Next-U tinha um objetivo que sou apaixonada: desenvolver aplicativos para pessoas. A princípio eu era a única que não concordava mas acabamos virando fábrica de software. Larguei meu emprego e passei a me dedicar a empresa. Tivemos muitas reuniões pra uma possível parceria para o Radar ser implantado em diversas prefeituras do interior da Bahia e outras várias pra propostas de aplicações. No início parecia que tudo ia dar absolutamente certo. Mas não deu. Os objetivos acabaram divergindo no fim. Não posso explicitar mais pra não ter problemas. :) Fizemos uma contratação errada. Eu viajei bastante e não pude acompanhar algumas coisas de minha responsabilidade direito. O Radar acabou sobrando na curva, pois não havia tempo hábil para cuidar dele. E eu acabei retomando meus planos antes da proposta de investimento: fazer o mestrado.

Esta última tentativa foi que a doeu mais, até porque abri mão de várias propostas muito interessantes de emprego, passei a ter uma vida não assalariada (dura, por sinal) e criei inúmeras expectativas porque acreditei que realmente daria certo. E contar para as pessoas que não existia mais a startup que apostava tanto, não foi fácil. Dizer que o Radar não existiria mais, mais difícil ainda. Além da expectativa sobre mim mesma, ainda existia a expectativa que as pessoas criavam sobre mim e todos os envolvidos.

Eu aprendi que sociedade é que nem casamento: tem de ter afinidade pra passar o resto da vida junto. Todos tem que ter a mesma meta. Outra coisa que eu aprendi é que apenas ter dinheiro não é o suficiente. Gestão é essencial! Estas experiências ninguém me tira e nenhuma universidade me dá.

But if you never try, you’ll never know.

Coldplay

Mesmo com todos os erros e tentativas eu não desisti de empreender. E hoje eu sei que estou muito mais perto do SIM. No Brasil, algumas pessoas já começaram a pensar que errar é aprender e transformaram isso em um congresso, o FailCon.

Quanto mais você falha (e aprende) mais perto está de acertar. Não tem que ter medo. Erros geram experiências e experiência é conhecimento. Quem não erra, não acerta. Não acerta porque não aprende. Porque não se permite.

Aproveitando o clima de folia, bom carnaval “procês”.

Evoé

Originally published at embuscadosim.tumblr.com.

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