Cambridge: chuva inexorável, padrão vintage e a vontade imensa de me perder

Ana
5 min readOct 25, 2021

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Um ano e dois meses vivendo na Inglaterra e confesso não ter compartilhado de maneira mais detalhada como são as coisas neste país. Recebo, por vezes, mensagens para compartilhar um pouco mais sobre a vida por aqui na plataforma Instagram. Confesso que não gosto de me filmar e não quero me forçar a fazer algo que não gosto para satisfazer o desejo de outras pessoas. Por isso, eu descartei de cara a possibilidade de produzir esse tipo de conteúdo.

Apesar de não gostar de vídeos que me envolvem sendo o centro, eu gosto de escrever, sempre gostei, e gosto também de compartilhar com outras pessoas. Não acho que sou uma boa escritora, nem de longe me imagino escrevendo para milhões de leitores, o que agora quero fazer é juntar minha profissão/hobbie com as partes legais e não tão legais de viver por aqui para aqueles que têm curiosidade.

Como mencionado acima, moro aqui há exatamente um ano e dois meses, mas antes de me mudar para cá, havia vindo em 2016 para uma Eurotrip com meus amigos. Londres foi a cidade que mais amei na Europa e sabia que um dia visitaria novamente, só não sabia que por tantas vezes. Saindo da minha cidade atual, são apenas trinta minutinhos de trem até chegar na capital inglesa ❤

Mas a Inglaterra não é feita só de Londres, né? Tem tanto cantinho legal, tanta história, que hoje, uma segunda-feira fria de outono, resolvi começar isso aqui compartilhando como foi minha visita em Cambridge.

Um detalhe muito importante antes de compartilhar minhas experiências: eu amo viajar, pode ser para uma cidade do lado da minha para fazer uma visita rápida, eu estarei animada às 5h da manhã para conhecer o lugar, capisce?

Pois bem, passei dois dias no mês de outubro em Cambridge, e acho que realmente dois dias são o suficiente para conhecer o que a cidade tem a oferecer. Estava fazendo por volta de 13 graus, reservei um airbnb em uma espécie de chalé um pouquinho distante do centro, mas que valeu muito a pena (essa parte só vale a pena para quem vai de carro, ok?).

A vista desse “chalé” era para um campo, tudo verde, lindo de morrer. Cheguei no período da tarde, desfiz a mala e em seguida chequei os e-mails e as demandas do trabalho para depois sair e curtir a cidade.

Lá pelas 5h da tarde fui de carro até o centro para caminhar por lá e conhecer os lugares. Cambridge, para quem já nasceu e vive na Inglaterra há muito tempo, não é uma surpresa. Uma cidade antiga, construída ainda no século XIII que tem uma das universidades mais importantes do mundo, também construída no mesmo século. Para mim, foi tudo novo. O meu olhar é diferente de quem já vive aqui há anos, uma igreja enorme com um relógio no topo é motivo sim de arrancar um sorriso meu e, além disso, tirar boas fotos.

A cidade é bem movimentada apesar do frio e chuva. Os jovens universitários estão por toda parte — de bicicleta, sentados na grama de algum campus ou caminhando, eles estão sempre em grupos segurando um livro enorme. Andando um pouco mais na rua principal, entrei por uns becos antigos e me deparei com uma feirinha sendo desmontada, tinha de tudo nesta feira, só não era tão convidativa devido ao tempo.

Explorei um pouco mais esses becos e parecia que eu estava em um filme antigo, tudo em volta me lembrava um filme: as pessoas caminhando com roupas, sapatos e boinas vintages, o tempo frio e de chuva, as folhas de outono caindo das árvores… essas cenas ficaram na minha cabeça de uma forma que Cambridge tem meu coração para sempre.

Voltando para a rua principal, entrei em um restaurante italiano com um janelão de vidro enorme, a vista era exatamente para o gramado de um campus. Sentei, pedi minha pasta e fiquei admirando a vista, inesquecível por sinal. Grupo de pessoas sentadas conversando, outras pessoas correndo e o tempo ficando escuro. Não consigo lembrar exatamente quanto paguei pelo meu prato, mas a conta total deu por volta de 70 libras, contando com a entrada, prato principal e sobremesa para duas pessoas.

Saí de lá no intuito de conhecer um pouco mais a vida noturna mas a chuva não deixou, o que infelizmente me fez retornar para o chalé mais cedo. Ao chegar, abri um vinho, coloquei música e apreciei o tempo e tudo que estava à minha volta. Eu sabia que voltar lá poderia demorar, então aproveitei todo instante que me foi proporcionado.

No segundo dia de manhã, acordei bem cedo para trabalhar e já risquei tudo da minha lista para poder curtir o dia inteiro. Fiz as obrigações e voltei para cama. Sem julgamentos, por favor, estava frio e a vista era para um campo, não se pode esquecer disso. Levantei de novo e me arrumei para ir em um centro de golfe. Agora, quem poderia imaginar que EU visitaria um centro de golfe um dia? Agitada como eu sou, para mim, o golfe é bem monótono, mas fui. Joguei golfe pela primeira vez na minha vida, fui péssima. Precisa de técnica real oficial, anos e anos de muita prática para ser no mínimo bom. Desisti do golfe forever.

Voltei para a parte central de Cambridge e comecei a saga para encontrar estacionamento. Obviamente, o que encontrei era um estacionamento pago, de rua mesmo, e um pouco distante dos restaurantes e da universidade. O que é bom porque andar me faz conhecer lugares e cantinhos lindos. Gosto da minha perspectiva.

Anteriormente, eu havia pesquisado restaurantes de comida brasileira em Cambridge para poder apresentar com quem estava comigo, mas dei voltas e voltas e não encontrei o que havia visto na internet, então entrei em um restaurante mexicano sem pretensão. VOCÊS NÃO TEM NOÇÃO. Eu pedi nachos e fiz uma mistura de tudo que eu tinha direito + cervejinha gelada. Ficou bom demais. O restaurante é bem descontraído, uma espécie de pub ao mesmo tempo. Vou ver se encontro o nome e deixo o @ aqui.

Fiquei um pouquinho lá, andei por ruas estreitas com muros altos. De fato, queria me perder na cidade, foi a minha primeira viagem significativa depois que cheguei na Inglaterra. Eu queria explodir de felicidade e viver o momento com o que eu tinha nas mãos. Fiz isso com maestria. Apesar de que no verão costumam dizer que as viagens de barco pelo rio que corta a cidade também podem ser incríveis, não senti que perdi nada. Foi exatamente como tinha que ser, sem acrescentar nada.

Talvez eu tenha pecado por não ter feito fotos e vídeos que pudessem ilustrar o que senti e vivi, não para ter que mostrar para outras pessoas, mas como uma memória boa mesmo de poder olhar e reviver esses dois dias inesquecíveis. Um dia volto. Claro, não será a mesma coisa, pode ser que seja melhor. A gente nunca sabe.

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