Análises e Recomendações: Fantaspoa 2022. — P. 01

Teteus
8 min readMay 7, 2022

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Na semana passada não publiquei nenhum texto, pois me dei ao luxo de passar a semana inteira acompanhando a programação online do Fantaspoa. Para você que não conhece: “O Fantaspoa é o maior festival de cinema dedicado exclusivamente a filmes de gênero fantástico (fantasia, ficção-científica, horror e thriller) da América Latina.” (tirado do site do festival). Link: https://www.site.fantaspoa.com/2022/

Cartaz do Festival desse ano em referência a Nosferatu.

O Fantaspoa é mais voltado para o cinema independente, portanto suas produções não são nenhum blockbuster ou produção hollywoodiana, e são mais voltadas para quem gosta de um cinema com uma pegada mais autoral, independente e experimental. Eu, como estudante de audiovisual e fã desse tipo de produção, claro que não perderia. Por isso no artigo de hoje e nos próximos irei falar um pouco sobre as obras (curtas e longas metragens) que mais me agradaram no festival.

Como são obras independentes, são mais difíceis de serem achadas na internet para assistir. Alguns deles estão no catálogo do MUBI. Mas a maioria é difícil achar até em torrents, e infelizmente a programação do festival foi encerrada no domingo dia 01. (Eu deveria ter avisado com antecedência sobre o Festival, mas fica aí a sugestão para quando ele acontecer de novo ano que vem). Então infelizmente a maioria será um pouco improvável que você encontre para assistir, mas talvez eu tenha feito isso de propósito para fazer você passar vontade.

Nightbreakers (2021) Curta-metragem — Campoy Gabriel, Lafoz Guillem.

Um pequeno grupo de pessoas atravessa um estreito túnel escuro, usando coletes com inúmeras lâmpadas atreladas. Quando as lâmpadas de um dos integrantes do grupo ,falha por causa da bateria, uma criatura misteriosa que somos incapazes de ver com clareza, aparece, e leva a pessoa para a escuridão do túnel.

De longe um dos meus favoritos do festival, Nightbreakers tem uma história simples mas muito bem pensada. O trabalho na direção de arte e de fotografia ficou excepcional e conseguiu criar muito bem a atmosfera que o filme se pretendia a criar. Uma realidade distópica pós-apocalíptica dominada por monstros que vivem na escuridão, e esperam a menor falha das pessoas para as devorarem. Apesar da história ser bem curta, a premissa é intrigante, e nos faz pensar, até mesmo ansiar, por uma produção maior que conte para nós em detalhes sobre este mundo pós-apocalíptico. Um longa metragem, uma série de longas, ou quem sabe uma série de TV, que explorasse a história e este universo a fundo. Falando por mim, eu com certeza acompanharia o que quer que fizessem a respeito deste universo narrativo.

Sobre o curta, a história não nos conta os detalhes, mas deixa indícios de que o universo narrativo criado é amplo. Os integrantes do grupo, que não são amigos, pelo contrário, a trama gira em torno de traições e abandonos, estão buscando uma espécie de local completamente iluminado, onde as criaturas da escuridão não chegariam. Esse local não é mostrado, mas sabemos que existe.

Nightbreakers definitivamente se destaca, e o veredito final é uma produção maravilhosa.

Um trabalho fantástico dos trabalhos de direção, fotografia e arte, para criar a ambientação perfeita para esse cenário.

The Beast Will Kill Us All (2022) Curta-metragem — Poul Erik Madsen.

Um grupo de pessoas usando uniformes e estranhos e capuzes na cabeça para não enxergarem nada, está sendo levado de ônibus para uma região remota. Logo se descobre que elas aceitaram participar de uma entrevista de emprego, mas que o local onde será realizado é confidencial. Rapidamente percebemos que aquilo não é uma entrevista de emprego, pelo menos não uma comum. Os dois organizadores começam a exigir atividades humilhantes e estressantes dos candidatos, que eventualmente vão a loucura. No meio disso tudo, uma criatura sobrenatural aparece.

Por que uma pessoa aceitariam ser levada encapuzada para o meio do mato para uma entrevista de emprego é algo que eu não sei. Por mais que a economia estes tempos esteja difícil, a justificativa para levar tanta gente para um local desconhecido e humilhá-los, não me parece forte o suficiente. Talvez fosse uma semana de coaching, algo motivacional ou algo do tipo, faria mais sentido.

The Beast Will Kill Us All, tem uma boa direção e produção. Que nos faz ficar incomodado com a situação dos candidatos passando pelas situações estressantes, mas a história, infelizmente, não acompanha o resto. Muitas coisas não são explicadas, ou ao menos tentadas. Claro que estamos falando de histórias de mistério e sobrenatural, e nem tudo precisa ser explicado. Mas aqui, a ausência de algumas informações pode deixar você um pouco perdido sobre o que está acontecendo, desapontado ou até desinteressado.

A produção como um todo é boa e interessante, mas falta um pouco na história para atingir seu potencial.

Inseto (2021) Curta-metragem — Nícolas Lobato

Um homem em um quarto de hotel, está em cima de uma cadeira, assustado, espirrando inseticida fervorosamente pelo ambiente. Ouve-se um som de mosquito voando pelo quarto, até que um jovem funcionário toca a campainha avisando que precisa fazer uma manutenção. O homem, ainda assustado abre a porta e deixa o jovem entrar, que se incomoda com o forte cheiro de inseticida. O jovem não consegue entender porque o homem está tão agitado, até que ele mesmo vê um inseto gigante nas paredes.

Na primeira produção brasileira desta lista, Inseto tem, ao mesmo tempo, uma pegada de suspense e comédia. O filme é uma clara alusão às situações vividas pelas pessoas, que como eu, tem medo de insetos. Uma mosca enorme, do tamanho de uma cabeça humana e que mesmo assim consegue sumir e aparecer em outro local do nada, deixando quem está ali completamente desconfortável, e no final devora o cérebro de um dos personagens.

Apesar da atuação mediana, e da história ter alguns furos, o curta diverte pela situação “cômica” que os dois personagens vivem.

Para quem se interessar, esse curta esta disponível neste link: https://nicolibre.myportfolio.com/inseto-filme.

Under The Ice (2021) Curta-metragem — Álvaro Rodriguez Areny

Um pai leva seu filho pequeno para uma floresta gelada para caçar animais, porém, em um dado momento o pai perde o filho de vista. A criança está em cima de um lago congelado, andando normalmente até que o gelo começa a rachar. Sem ninguém em volta para ajudar, a criança cai no lago congelado, mas logo em seguida acorda em seu quarto, no meio da noite.

Após acordar em seu quarto, a expectativa em torno da história muda. O que aconteceu com o garoto caindo no lago? Foi só um sonho? Bom, se me permite alguns SPOILERS a partir daqui, vemos então uma criança que mora sozinha com a mãe. O pai, aparentemente havia morrido, porém não nos é contado o motivo. O garoto, começa a ter visões do pai, todo molhado, rondando a casa, ao mesmo tempo que a casa começa a ter alguns vazamentos de água. Essas cenas são intercaladas com cenas do pai debaixo do lago congelado tentando resgatar o filho. Parece haver duas opções. O pai resgatou o filho, e agora a criança via o pai morto, ou, enquanto caía no lago, já semi inconsciente, a criança se imagina em casa com a mãe. Também não pude deixar de pensar, que talvez sua mãe estivesse morta, e que o pequeno período que o garoto cai no lago, não é, se não, um momento em que ele a encontra, e a imagem do pai molhado, uma visão do que acontecia naquele exato momento, em que o homem tentava resgatar seu filho. — Fim dos Spoilers.

De qualquer forma, Under The Ice, figura para mim como uma das melhores produções que tive a oportunidade de ver nesse festival. Sua avaliação geral é muito boa, em todos os quesitos, do roteiro à direção. Para quem conseguir achar o filme para assistir: Recomendo.

Sayonara (2021) Curta-metragem — Chris Tex

Após ter seu marido assassinado em um ato de xenofobia, uma mulher nipo-brasileira planeja sua vingança contra os homens que mataram seu marido.

Mais uma produção brasileira a entrar nessa lista. Sayonara, apesar da sinopse simples, foi das umas melhores produções entre as brasileiras e curta-metragens. A direção de Chris Tex é muito boa, com cenas de ações e bastante sangue em seu filme, que o tornam definitivamente muito interessante.

Em alguns momentos, é possível perceber algumas “falhas” nas coreografias dos atores, nos momentos de luta, mas a vontade de vermos a vingança da protagonista, com quem facilmente nos identificamos e passamos a torcer, nos permite apreciar muito bem a obra. Além disso, Sayonara toca no tema da xenofobia contra nipo-brasileiros no Brasil. De uma forma, claro, acentuada devido ao objetivo do curta e da história, mas ainda assim um tema importante.

A nota final de Sayonara é muito boa. Infelizmente o filme ainda vai rodar festivais antes de ser publicado. Mas aparentemente, quando sua turnê terminar, o diretor irá disponibilizar a produção para o público geral.

*Nota: O filme finalmente foi publicado no youtube e pode ser assistido (https://www.youtube.com/watch?v=SYcJjcaJkJg).

Smile (2021) Curta-metragem — Joanna Tsanis

Quando uma jovem luta para sorrir, sua depressão torna-se algo verdadeiramente monstruoso.

Smile é o menor dos curtas desta lista, com apenas 7 minutos. Sua história é bem simples, mas a direção é muito boa. SPOILERS não alteram muito a experiência do filme, até porque sua história é simples e bastante previsível pela sinopse. Uma mulher com depressão, recebe a visita de sua doença materializada durante a noite. A criatura a força sorrir da pior maneira possível, em uma cena bastante violenta.

Smile é um curta bem simples, pequeno, mas que justamente por isso, vale a pena dar uma olhada.

Por hoje encerro esta lista. As obras de hoje foram os curtas mais voltados para o terror ou suspense. Na semana que vem, teremos uma segunda lista, com as produções mais voltadas para uma pegada cômica. Até mais.

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Teteus

Formado em Comunicação, aspirante a escritor e roteirista, e interessado em aleatoriedades