Análises e Recomendações: Fantaspoa 2022. — P. 02

Teteus
10 min readMay 15, 2022

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Na semana passada, comecei uma lista de recomendações e pequenas análises sobre algumas das obras que tive a oportunidade de ver no Fantaspoa, o festival de cinema fantástico de Porto Alegre. Caso se interesse você pode entrar no site do festival.

A parte 01 desta série você pode conferir clicando aqui, mas não é necessário pois todos os textos são apenas listas de indicações de filmes.

Na semana passada, falei dos curta-metragens mais voltados para o terror ou suspense. Hoje, falarei sobre os curtas com uma pegada mais cômica.

Mr. Powerful (2021) Curta-metragem — Oriol Barberà.

Para começar essa lista com o pé direito, temos o curta brasileiro Mr. Powerful, que mostra a vida do herói super sentai, passando por momentos difíceis. A obra é uma mistura de comédia com temas existenciais, que fazem dela uma das melhores do festival. O humor é construído de forma sutil, apesar das cenas em si serem mais “escrachadas”.

Mister Powerful é uma história sobre períodos de desmotivação. O personagem Mateus Freitas, o Alter Ego de Mr. Powerful, passa por uma crise, e repensa sua carreira como Herói. Ele passa a trabalhar numa biblioteca, mas é constantemente atormentado pelo pensamento de uma bola de tênis. Mais tarde, é ajudado a se encontrar, e volta novamente à sua rotina como herói da cidade.

O curta é muito bem dirigido e roteirizado. O timing das piadas e da comédia é perfeito, o que dá um ar de naturalidade imenso à obra. A produção aproveita dos espaços onde é filmado, e de um certo “caráter amador” da obra para torná-la ainda mais engraçada. Vale dizer, que de amador, a obra não tem nada. O diretor e os produtores, sabiam muito bem o que estavam fazendo. O resultado é um curta nacional imperdível, que eu espero que esteja disponível para o público em breve.

Love Hotel — The Guide to Japanese Midnight Culture (2021) Curta-metragem — Kaichi Sato.

Um casal em um motel está prestes a começar as “atividades” quando uma estranha mulher, que se diz algum tipo de exorcista, invade o quarto, e pede ao casal que espere até que ela consiga exorcizar os espíritos do local. A partir daí, temos uma trama engraçada, com uma narradora que vai nos contando sobre os segredos da vida noturna japonesa a medida que eles são mencionados na história.

Love Hotel, como seu próprio subtítulo já diz, é uma história que explora a cultura da vida noturna japonesa, explicando alguns conceitos e tradições como que pro público estrangeiro, inclusive, temos uma cena onde a narradora pede desculpas aos turcos e holandeses pelos japoneses usarem nomes como “banheiro turco” para locais de prostituição e “esposa holandesa” para bonecas infláveis.

A trama é divertidíssima. Temos uma protagonista que foi expulsa de uma casa de prostituição voltada para o público feminino, e que agora tem medo de ir parar em um “banheiro turco”. Um casal de amantes com medo de serem pegos pelo marido da mulher, e o espírito de uma boneca inflável que se sentia abandonada. E para melhorar, ainda temos um grande plot twist no final da história.

A nota geral para Love Hotel é muito boa. Para aqueles que conseguirem achar o filme disponível na internet (eu infelizmente não achei) fica a recomendação.

Fique Bêbado, Ligue para sua Ex (2021) Curta-metragem — Trupe das Pulgas.

Este curta animado, e em formato vertical, é baseado em um conto em estruturas de tópicos, que vai sendo narrado e conta uma história de alguém que ao terminar com sua ex, decide ligar para ela de novo, mas a história escala de uma forma impressionante.

Felizmente, temos aqui um curta disponível. Você pode vê-lo no site da Trupe das Pulgas. O curta é na verdade uma narração com animações e cenas de fundo. A história, baseada em um conto de tópicos, escala de uma forma não muito usual, mas com certeza divertidíssima. Afinal, quem nunca ligou para a ex e terminou da pior forma possível?

Danzzamatta (2021) Curta-metragem — Vanja Victor Kabir Tognola.

Na manhã seguinte a uma festa, David e Oscar descobrem que seu colega de quarto Robin ainda está dançando. Que diabos está acontecendo?

Danzzamatta é uma produção bem curta, de cinco minutos. A trama tem uma pegada meio “teatro do absurdo” para fazer a sua comédia. (Spoilers). O Jovem Robin, que continua dançando na manhã seguinte a uma festa e não atende nenhum chamado, preocupa um dos amigos, que decide chamar um médico, mas o outro colega na casa, tenta convencê-lo de que dançar era completamente normal. Os dois permanecem nessa discussão até que finalmente chamam um médico, que ao analisar, confirma que Robin estava morto. O jovem dançante então é levado dançando em cima de uma maca enquanto o médico toca uma música triste no saxofone. (Fim do Spoiler).

Infelizmente também não encontrei esta produção disponível da internet.

Shiny new world (202 ) Curta-metragem — Jan van Gorkum.

Barry é um tipo especial de faxineiro: ele limpa as cenas de crime onde demônios causaram estragos. Ao fazer um filme corporativo sobre seu trabalho, um dia normal de trabalho para Barry acaba saindo do controle.

Shiny new world é um filme, que podemos de dizer, ser dos bastidores do terror. A história mostra uma empresa especializada em limpar matanças que aconteceram por causa de demônios, fantasmas, ou qualquer entidade sobrenatural que um grupo de adolescentes desavisados possa invocar em uma brincadeira qualquer. O curta explora o lado cômico das situações clássicas de terror, e acerta muito bem ao escolher fazer uma espécie de “vídeo institucional” caricato, que busca mostrar o “outro lado” dos clássicos clichês. O filme é bastante divertido, e a recomendação para quem quiser ver é alta. Infelizmente, como a maioria dos curtas, não encontrei disponível.

Bobby Pinwheel (2020) Curta-metragem — Robin Kleischmidt.

Bobby Pinwheel, é um palhaço maníaco, que é convidado para uma festa de aniversário infantil. Entre suas “travessuras” Bobby arranca cabeças, joga acido no rosto dos outros, corta membros entre outras atitudes bem violentas.

O curta é um clássico filme que explora a violência brutal de modo cômico. Como o filme é feito com bonecos, a violência não é tão impactante, apesar de ainda ser um pouco. Para quem se interessa pela violência explorada em sua comicidade, Bobby Pinwheel é uma boa recomendação. Infelizmente não achei disponível na internet.

Wall #4 (2021) Curta-metragem — Lucas Camps.

Quando um público de cinema começa a zombar do filme que está assistindo, os eventos na sala tomam um rumo inesperado.

Wall #4 é uma produção que explora de maneira cômica, a metalinguagem. Em uma sala de cinema, os espectadores começam a dar risada e tirar sarro das situações do filme. (Spoilers) Inesperadamente, os dois atores do filme na telinha, começam a conversar e xingar o público que está assistindo, que claro, ficam assustados. Para piorar, os atores do filme passam a mostrar uma tela com os próprios espectadores sentados, e então começam a matar um por um. No final do filme, vemos os então dois atores assistindo televisão, em que a tela é nada mais que a própria sala de cinema de onde o público vaiava. No final ainda vemos um dos atores, a mulher, encarando fixamente a câmera, dando aquela sensação de que ela pode nos ver. (Fim dos Spoilers).

A produção de Lucas Camps é engraçada, divertida e inteligente. Uma recomendação fortíssima para aqueles que encontrarem o filme disponível na internet.

How to disappear (2022) Curta-metragem — Jack Carrivick.

Uma jovem mulher começa a nos ensinar como desaparecer completamente da sociedade. De desatar todo e qualquer contato com pessoa conhecida até fingir sua morte. A protagonista em pouco tempo já não era lembrada por ninguém, um verdadeiro fantasma na cidade. Mas as coisas mudam após ele cometer seu primeiro assassinato.

How to Disappear é um curta de comédia que explora o lado cômico da violência. A protagonista, que vira uma assassina em série, vai contando sobre sua vida e sobre sua forma de pensar perturbada em vídeo. O resultado é uma produção engraçada, mas que em um determinado momento se torna um pouco perturbador. A atuação de Kerry Howard é extremamente convincente, e apesar de sempre deixar claro que é uma ficção, você se chega a pensar se talvez aquilo não tenha um fundinho de verdade.

Uma sacada interessante para esse curta, foi mostrar no começo que se tratava de uma produção de Nina Moyse, com atuação também de Nina Moyse. Você entende que a diretora é também a atriz do filme, mas só no final, que a protagonista revela seu nome, Nina, é que você entende. A ideia era esconder o verdadeiro diretor, para dar uma certa “credibilidade” a ideia de que o curta foi gravado de falto pela assassina.

Para quem encontrar o curta disponível em algum lugar, eu não apenas recomendo, como peço que me envie o link, pois eu gostaria muito de rever esse curta.

The Fuzzies (2021) Curta-metragem — Josh Funk.

Um homem acorda preso em um banheiro, e aos poucos percebe estar rodeado de estranhos bichos de pelúcia. Aos poucos ele vai enlouquecendo, até que finalmente…

The Fuzzies é uma história simples, sem grandes pretensões. O ator Dustin Vaught, entrega bem o papel. A obra não tem nada de novo. Bichos de pelúcia fofinhos mostrados com uma pegada mais assustadora e de suspense. Por ser curto, vale a pena assistir.

Para aqueles interessados no final da história: Após encarar as criaturas de pelúcia aparecendo constantemente no banheiro, descobrimos que na verdade há dois banheiros, e a porta de saída de um é a porta de entrada do outro, com uma versão do protagonista mais barbuda e a outra com menos barba. Uma das versões do homem então é finalmente transformada em uma pelúcia, tal como as criaturas que apareciam no banheiro.

Demon Juice (2021) Curta-metragem — Shannon Brown.

Três amigas e uma amiga intrusa, decidem passar um tempo em um hotel sozinhas para se divertirem, mas quando uma delas encontra uma estranha bebida chamada “Demon Juice” as coisas saem do controle.

O curta-metragem de Shannon Brown é um daqueles filmes que mostram as situações clássicas de filme de terror, de forma satírica, como o clássico “Todo mundo em pânico” mas de uma forma simplificada. O curta também apresenta um humor perceptivelmente mais feminino, apesar das piadas óbvias e “escrachadas” (no bom sentido da coisa).

As personagens são bastante planas e estereotipadas, assim como as situações por elas vividas. A atuação deixa um pouco a desejar, mas no geral, o filme é bem divertido.

Everything Go Round (2021) Curta-metragem — Ryan Oksenberg.

Um dos mais nonsense de todas as produções que participaram do festival, Everything Go Round é um curta de cinco minutos que mostra um homem descobrindo ter um filho (um boneco) e fazendo coisas malucas com ele. A produção não tem uma história linear e sua pretensão é apenas apresentar situações absurdas e cômicas no nível mais escrachado possível. Felizmente, este curta está disponível no youtube e você pode ver ele aqui. Infelizmente ele não está legendado, mas a linguagem é bem simples.

Man or Tree (2021) Curta-metragem — Tom Hancock; Varun Raman.

No mesmo nível de nonsense do anterior, Man or Tree é um pequeno curta-metragem em que uma árvore começa a se questionar se ela é uma árvore ou um homem. Em suas memórias, o homem (ou a árvore) se lembra de ter ido a uma festa antes de acordar como uma árvore no meio do nada, porém, solitário, começa a se questionar se na verdade não era uma árvore que acabou de adquirir consciência.

Man or Tree é uma produção básica. Algumas imagens de árvores com uma voz aparecendo como a voz da árvore. Apesar de simples, a ideia é criativa, e também uma opção interessante para aqueles com vontade de ver algo curto e que tiverem a sorte de encontrar a produção disponível em algum lugar.

Por hoje é isto. No próximo Review, trarei os destaques dos curtas com histórias mais dramáticas ou mais emocionais. Até lá.

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Teteus

Formado em Comunicação, aspirante a escritor e roteirista, e interessado em aleatoriedades