Para quem nunca ouviu falar, microcontos são narrativas extremamente pequenas e sintéticas, que contam uma história num número muito pequeno de caracteres. Tal estilo já existe há algum tempo, mas foi ganhando mais fama com o avanço da modernidade e da cultura digital, onde tudo é mais rápido e mais resumido. Os microcontos, inclusive, podem ser associados aos quadrinhos de curta duração que vemos tanto em perfis na internet, às piadas, memes, poemas entre tantos outros fenômenos e manifestações artísticas.
Resolvi testar o gênero e me arrisquei a escrever sete destas narrativas que você confere abaixo.
A criança sonhava com chuvas de doces e chocolates. Então várias bombas caíram do céu.
Passou a vida inteira ouvindo sobre caminhar em direção a luz no fim do túnel nos momentos antes da morte. Só não imaginava que ela apareceria vindo do céu e que era a luz que caminhava em sua direção.
Chegou em casa, ligou a TV. Notícias de guerra. Ouviu sons de tiro, mas era só a polícia lá fora.
Voltava para casa a pé. Um mendigo pedia dinheiro na calçada. No pote, 10 moedas de um real. O mendigo tinha mais dinheiro que ele.
Não aguentava mais a vida. Estava a centímetros de pular. Mas foi impedido. “Você precisar terminar seu relatório” disse o chefe após lhe salvar.
Três da manhã. Barulhos estranhos vinham da cozinha. Ele se levantou. Foi verificar o que era. As luzes não se acendiam. O barulho ficava cada vez maior. Já na entrada da cozinha pôde ver: Dois olhos vermelhos vibrantes o encaravam, uma silhueta perturbadora estava de pé na sua frente. “De novo derrubando panelas Astaroth?” — “Eu só queria te fazer um chazinho.” Respondeu o demônio.
Acordou, levantou, fez um café e foi assassinado. Acordou, era um sonho. Levantou, fez um café e foi assassinado.
