Estudo de caso UX/UI: Doroti — Como ajudar mulheres que querem ingressar na área tech?
De Setembro de 2021 a Janeiro de 2022, fiz parte da Turma 04 de Design UX/UI da Cubos Academy. Sob a mentoria dos professores Gabriela Ozório e Wesley Simões e dos monitores Joanyr Souza e Nai Lopes.
Na Cubos Academy trabalha-se com a metodologia do Design Thinking conhecida como Double Diamond e esse processo conta com 4 fases: Descoberta, Definição, Concepção e Validação.
O DESAFIO
Recebemos a proposta de criar um projeto abordando o assunto: “Como ajudar pessoas desempregadas?”. Enquanto discutíamos sobre os próximos passos do nosso trabalho, percebemos que esse era um assunto com muitas vertentes e sentimos a necessidade de deixá-lo mais específico e assim, conseguir mais riqueza nas informações que coletaríamos posteriormente e então decidimos que o nosso projeto seria trabalhado em cima do tema: “Como ajudar mulheres que querem ingressar na área tech?”
CONHECENDO O PROBLEMA
No processo de Desk Research, descobrimos que dentro do mercado de tecnologia e inovação no Brasil, apenas 20% das vagas são ocupadas por mulheres segundo dados do IBGE. Infelizmente essa é uma porcentagem baixíssima e diversos fatores justificam esse número. A partir daqui, onosso objetivo é encontrar a raiz do problema.
DESK-RESEARCH
“Além da barreira cultural, as mulheres que decidem seguir os estudos na área de tecnologia podem ainda encontrar outros desafios no mercado de trabalho: como salários inferiores e o descrédito por parceiros que não acreditam em seu potencial. Uma pesquisa da empresa de recrutamento a empresa Revelo indicou que as mulheres de TI recebem cerca de 17,4% menos que os homens”
“Existe um dado que fala que uma mulher só se apresenta para uma vaga quando tem 90% dos requisitos, enquanto o homem tenta vagas com bem menos. Elas não gostam de risco também. Trabalhamos para mudar a autoestima para elas buscarem as vagas”, comenta Reyes.
“Lentamente, as mulheres estão se posicionando mais claramente a respeito do valor de seu trabalho. Em 2017, aceitavam mais convites de trabalho abaixo de sua pretensão de salário do que os homens: 62% e 54%, respectivamente. Em 2019, ambos os percentuais se igualaram, em 54%”
“Elas, mais que seus pares masculinos, passaram a acumular as responsabilidades profissionais com os deveres da casa e cuidados com os filhos. O problema é que essa situação também aumentou muito a insegurança das mulheres em relação ao seu futuro profissional.”
“A mulher tem se voltado para o refinamento da tecnologia, ao detalhe e qualidade da experiência, atuando com mais interação com pessoas e criatividade”
MATRIZ CSD
Após identificarmos alguns desses problemas e levantarmos outras informações relevantes, entramos no processo de criação da nossa Matriz CSD. Aqui listaremos algumas das principais certezas, suposições e dúvidas:
Com a Matriz CSD feita, agora é a hora de colher informações essenciais sobre o possível público-alvo para definir a nossa persona.
PESQUISAS
PESQUISA QUANTITATIVA
Circulamos um formulário para que pessoas que se identificam com o gênero feminino pudessem responder. Conseguimos coletar 51 respostas, sendo elas 49 pessoas do gênero feminino e 2 pessoas não-binárias. Procuramos descobrir a faixa etária, região, renda entre outras perguntas pertinentes:
- Entre 51 entrevistadas, destacam-se 49,0% pessoas entre a faixa de 23–27 anos e 21,6% de 28–32 anos.
- Mais de 70% das mulheres se autodeclararam brancas, enquanto apenas 25% são pretas/pardas.
- Aproximadamente 50% das mulheres entrevistadas não acham necessário uma faculdade para atuar na área tech.
- A pesquisa indicou que aproximadamente 60% das mulheres possuem renda familiar R$0–1000 e também indicou que 62% das mulheres possuem uma quantia limitada para investir em cursos, o que pode indicar que apesar de poucas condições, elas estão dispostas a investirem nos estudos.
- Entre Apoiam muito e Não apoiam, 70,6% das mulheres receberam apoio de familiares e amigos, em contrapartida 3,9% não receberam apoio.
- 98% das mulheres entrevistadas conhecem ou fazem parte de coletivos voltados ao público feminino em tech (Ladies That UX, Elas Codam, etc…) enquanto 2% não conhecem ou não participam.
Em uma questão de múltipla-escolha sobre quais os maiores obstáculos de se conseguir uma oportunidade na área, destacaram-se as seguintes respostas:
- 74,5% das mulheres acreditam que existe um desequilíbrio na variedade de senioridade (muitas vagas para plenos/seniores e pouca vaga júnior).
- 51% não se encaixam nos requisitos pedidos na vaga.
- 43% não possui network.
- 39% acham que o mercado está muito competitivo.
- 29,4% acham que há pouca oportunidade para mulheres .
- Aproximadamente 20% são responsáveis por cuidados da casa e filhos.
PESQUISA QUALITATIVA COM MULHERES EM TECH
Convidamos 6 mulheres para um bate-papo, para entender melhor quais as suas percepções e obstáculos sendo uma mulher no setor de tecnologia:
“Como eu estou iniciando nessa carreira eu ainda não estou buscando tanto a questão salarial. Quero muito mais ter a base para aprender pra eu poder dizer se é algo que eu quero e poder procurar outros trabalhos com remuneração maior.”
“Homens são mais seguros de si, pedem salários mais altos, homens têm o mercado mais a favor deles.”
“Eu acredito que algumas comunidades, principalmente a Ladies That UX, foi uma das que mais me incentivaram a fazer essa migração”
“Nas entrevistas que eu ia, eram todos homens. Eu já ficava desconfortável, em uma sala de 10 candidatos eu era a única mulher.”
“Eles precisam de profissionais prontos, precisam de alguém que chegue e bote a mão na massa e esse não é o meu caso, eu era alguém chegando para me instruir, eu tô chegando na área agora eu não conheço nenhum processo, só teoria.”
“Eu pesquisava vagas somente no Linkedin. Me conectava com muitas pessoas, me conectava com tech recruiters para ser notada.”
“Procuro fazer capacitações, intensivões e webinars de graça pra não perder o contato com o mercado, mas pretendo investir em outro curso no próximo ano.”
PESQUISA QUALITATIVA COM TECH RECRUITERS
Para aprimorar nossos estudos, consideramos que também seria importante conhecer a visão dos tech recruiters sobre como o mercado tech recebe as mulheres e o que acreditam que precisam ser melhorado.
“As soft skills contam mais do que que as hard skills durante uma entrevista e avaliação de um candidato.”
“As mulheres têm uma expectativa mais baixa que os homens e por isso quando elas recebem a proposta elas ficam admiradas e aceitam.”
“Para prospecção e seleção de mulheres precisamos diminuir a régua e flexibilizar alguns pontos para seleção, pois o mercado está bem aquecido. Elas se preocupam bastante com felicidade e plano de carreira.”
“A rotatividade acontece muito mais nos perfis masculinos. Existe um contexto por trás dessa rotatividade. De forma geral, homens são muito mais rotativos que mulheres, elas ficam mais compradas pelo propósito das empresas e os homens pelo salário.”
“Usamos muito o Linkedin e temos uma base de talentos própria.”
“As mulheres estão começando a entrar e conhecer mais nesse universo tech agora.”
HIPOTESES VALIDADAS
Depois de analisarmos as entrevistas e pesquisas, além de validar algumas suposições e dúvidas que tínhamos, também fizemos novas descobertas:
- O maior desafio para entrar na área tech é a falta de oportunidade para juniores.
- Apesar da renda limitada, procuram investir em cursos profissionalizantes.
- Estão buscando aprimorar as soft skills que o mercado está pedindo.
- Baixa expectativa com questões salariais.
- Há mais homens atuantes na área tech do que mulheres.
- Elas sentem-se acolhidas por coletivos e/ou comunidades voltadas para mulheres na área tech.
- Sentem medo de se candidatar quando não se encaixam em 100% dos requisitos.
DEFINIÇÃO
Identificamos as necessidades, dificuldades, pontos em comum e entendemos que precisávamos ajudar essas mulheres a se sentirem mais seguras no momento de aplicar para uma vaga e assim, definimos as nossas personas:
PERSONA PRIMÁRIA — MULHER EM TECH
PERSONA SECUNDÁRIA — TECH RECRUITER
CONCEPÇÃO
Como melhorar o processo de aplicação à essas vagas da área tech? Que tipo de produto ajudaria na resolução do problema?
Agora que sabemos de mais detalhes sobre algumas das dores e necessidades dessas mulheres, refletimos sobre os tópicos anteriores e chegamos a conclusão de que um aplicativo de vagas voltado à mulheres em tech seria um grande aliado. E nesse aplicativo, teríamos como prioridades:
- Vagas exclusivamente selecionadas por compatibilidade de perfil.
- Os cursos mais indicados de acordo com a renda da usuária
- Aprimorar soft skills através de mentorias gratuitas
USERFLOW
Antes de iniciar o processo de desenvolvimento do aplicativo, geramos um fluxo de usuário que além de guiar o trajeto dos usuários dentro da aplicação, também nos guiaria no momento de definir os destaques do nosso produto.
WIREFRAMES DE BAIXA FIDELIDADE
Estamos no momento de idealizar a arquitetura do nosso aplicativo, criando o wireframe de baixa fidelidade:
Inicialmente, foram criados 33 Wireframes
ESCOLHA DO NOME E LOGO
Nosso aplicativo foi nomeado em homenagem à Dorothy Vaughan, primeira mulher negra a ser designada como chefe de departamento da NACA (Atual NASA). Uma vez que ela lidava com a tecnologia mais avançada de sua época e mostrava sua capacidade, acreditamos que todas as mulheres que se dedicarem aos seus objetivos sejam tão competentes quanto a incrível Dorothy.
DORO: Dorothy Vaughan / TI: Tecnologia e Inovação
A ideia do logo foi juntar os principais objetivos do aplicativo com a personagem histórica: O foguete simboliza todas as profissionais que buscam alcançar posições de carreira (foguete que Dorothy também ajudou a chegar a lua). Já a lupa representa os recrutadores e empresas que estão na procura dessas profissionais.
STYLEGUIDE
O PROTÓTIPO
Doroti é a plataforma que vai ajudar mulheres a ingressarem na área de tecnologia, oferecendo recursos acessíveis e de fácil entendimento.
Foram criadas 60 telas na conclusão do protótipo.
ANÁLISES
Testes de usabilidade
Através dos testes de usabilidade tivemos alguns feedbacks interessantes e conseguimos levantar alguns pontos muito interessantes para realizar ajustes e melhorias posteriormente:
- 10 testes não-moderados
- 5 testes moderados
FEEDBACKS
“A área de perfil está muito dinâmica e traz satisfação de ver o próprio perfil bem organizado em tópicos. Também fiquei muito contente em ter informações sobre a entrevista, e em seguida ter dicas de preparação é muito bom para pessoas ansiosas, ter um caminho a seguir e clareza dos próximos passos.”
“Aplicativo dinâmico, com layout confortável e intuitivo. Só senti dificuldade na questão de nomenclatura.”
“Gostei muito do aplicativo, só alguns pontos que achei que não ficaram tão claros e as fontes poderiam ser maiores”
“Gostei muito da interface e da quantidade de recursos que ela trás. Na parte do planner, acho que seria legal permitir que fossem criados alertas para procura de vagas”
“As cores utilizadas são confortáveis à visão e deixam as telas clean e de fácil entendimento, o layout também agrada muito e as animações e detalhes são bonitos com um toque inconfundível de inovação.”
NÍVEL DE ESFORÇO
Qual o nível de esforço para criar um cadastro no aplicativo? 0 (muito fácil) a 5 (muito difícil) 80% Nível zero / 20% Nível dois
Qual o nível de esforço para inserir as informações do seu perfil no aplicativo? 0 (muito fácil) a 5 (muito difícil) 100% — Nível 0
Qual o nível de esforço encontrar cursos no aplicativo? 0 (muito fácil) a 5 (muito difícil) 100% — Nível 0
Qual o nível de esforço procurar vagas no aplicativo? 0 (muito fácil) a 5 (muito difícil) 100% — Nível 0
Qual o nível de esforço para encontrar as mentorias no aplicativo? 0 (muito fácil) a 5 (muito difícil) 80% Nível zero / 20% Nível dois
Após analisarmos os feedbacks coletados durante os testes de usabilidade moderados e não-moderados, identificamos as seguintes possíveis melhorias:
Ajustes de layout:
- Inserir mais informações sobre o aplicativo na tela inicial.
- Aumentar o tamanho das fontes.
- Alterar a cor dos cards principais para dar mais destaque.
- Alterar “Planner” para “Compromissos”
Ajustes de funcionalidade:
- Opção para criação de alertas de vagas para uma empresa específica.
- Exibir a porcentagem de compatibilidade para mentorias e cursos.
PROTÓTIPO NAVEGÁVEL
Com o tempo limitado para a entrega do projeto, dentro do nosso protótipo alguns caminhos ainda não são clicáveis e/ou não desenvolvemos as telas, porém, temos planos de continuar o projeto futuramente trazendo as melhorias pedidas e outras telas finalizadas
CLIQUE AQUI PARA VISUALIZAR NOSSO PROTÓTIPO
CONCLUSÕES
Ao final, conseguimos concluir que a Doroti seria uma plataforma viável a ser desenvolvida, tanto para auxiliar mulheres que buscam ingressar na área de tecnologia onde encontrará vagas, cursos e mentorias, como para os recrutadores que buscam potenciais candidatas qualificadas para suas vagas. Nossos feedbacks foram muito positivos e as testadoras declararam ter interesse em utilizarem um aplicativo como esse. Em nossa banca avaliativa também recebemos muitos feedbacks positivos que nos motivaram a continuar trabalhando pela melhoria e excelência da Doroti.
Produzido por:
Ana Claudia Bueno, Caroline Andrade, Jeferson Ruan, Juliana Braga, Letícia Machado e Sergio Deminco