“O plano de imanência não é um conceito pensado nem pensável, mas a imagem do pensamento, a imagem que ele se dá do que significa pensar, fazer uso do pensamento, se orientar no pensamento…
Não é um método, pois todo método concerne eventualmente aos conceitos e supõe uma tal imagem.
Não é nem mesmo um estado de conhecimento sobre o cérebro e seu funcionamento, já que o pensamento não é aqui remetido ao lento cérebro como ao estado de coisas cientificamente determinável em que ele se limita a efetuar-se, quaisquer que sejam seu uso e sua orientação.
Não é nem mesmo a opinião que se faz do pensamento, de suas formas, de seus fins e seus meios a tal ou tal momento.
A imagem do pensamento implica uma severa repartição do fato e do direito: o que concerne ao pensamento, como tal, deve ser separado dos acidentes que remetem ao cérebro, ou às opiniões históricas.
“Quid júris?”
Por exemplo, perder a memória, ou estar louco, isto pode pertencer ao pensamento como tal, ou são somente acidentes do cérebro que devem ser considerados como simples fatos?
E contemplar, refletir, comunicar são outra coisa senão opiniões que se faz sobre o pensamento, a tal época e em tal civilização?
A imagem do pensamento só retém o que o pensamento pode reivindicar de direito.
O pensamento reivindica “somente” o movimento que pode ser levado ao infinito.
O que o pensamento reivindica de direito, o que ele seleciona, é o movimento infinito ou o movimento do infinito.
E ele que constitui a imagem do pensamento.”
Gilles Deleuze e Félix Guattari sobre O Plano de Imanência em “O Que é Filosofia?”
