Um brinde à realidade que amamos

Anderson Peron
6 min readNov 8, 2023

São Paulo, dia primeiro de Outubro de 1992, 8h da manhã. Aqui estou mais um dia…lendo meus emails na esperança de um pedido de orçamento grandioso. Algo brilha na minha caixa de entrada, abro para ler, email com conteúdo suspeito, tudo muito fácil.

Ligo para confirmar se o assunto do email, descrito em poucas linhas, era real. Sim, era um orçamento, melhor, era uma proposta já com valores, acima daqueles praticado no mercado, para fotografar 15 residências em um condomínio AAA da grande São Paulo.

Cético, relutava em aceitar a felicidade que tomava conta de mim criando bloqueios e travas mentais para invalidar a proposta. Algo do tipo ‘é-muito-bom pra-ser-verdade-tem-coisa-estranha-ae’. Deixei o assunto maturando por 2 dias e entrei em contato novamente com a desculpa de ‘programar minha agenda’.

A confirmação veio. Era mesmo real.

Marquei uma reunião de briefing com Sonny, americano, responsável por esse tipo de projeto, além do marketing e comunicação da empresa. Sonny era um sujeito carismático de bom papo e com português ‘ok’ para se fazer entender em relação ao que desejava.

Para minha surpresa Sonny me perguntou se eu gostaria de mais pessoas para compor a equipe de fotógrafos ou assistentes para esse projeto.

Porque não? Pensei. Tudo já estava estranho mesmo. Disse que precisava de casting: 3 pessoas, sendo, 2 mulheres e 1 homem para compor com os ambientes. Também pedi um doguinho para auxiliar na humanização.

Seria importante alguém para organizar os ambientes já que todas as 15 residências estavam decoradas, algumas com moradores e outras aguardando as fotos para que os moradores entrassem.

Pra finalizar seria necessário uma empresa especializada em limpeza para os arranjos 1 dia antes da sessão de fotos. Pedi também um assistente para me ajudar com mochilas, tripés, lentes e posicionamento de casting.

Okay, everything’s fine. Please, talk to Débora. She’ll organize everything.

Após alguns dias Débora me confirma o nome dos profissionais que fariam parte da equipe. Tudo estava arranjado, portanto, eu já podia iniciar a programação para os cliques.

No dia combinado para a primeira sessão me encontrei com a equipe e tudo parecia ótimo. Céu de brigadeiro e temperatura agradável.

O que acabo de escrever é ficção, fantasias que passam pela minha mente em frações de segundo. Essa capacidade criativa é uma benção e uma maldição que nós, fotógrafos, arquitetos e artistas em geral, carregamos.

O que acontece na maioria dos casos é algo bem diferente da ficção descrita, menos glamoroso e mais trabalhoso, no entanto, muito prazeroso quando sabemos aproveitar o percursso até a entrega final.

Vejamos o que realmente acontece no dia a dia de um fotógrafo de arquitetura.

Orçamentos

Chegar ao ponto de receber um pedido de orçamento já é um belo feito e quer dizer que você fez sua lição de casa: é encontrado nos mecanismos de buscas, possui um site com portfólio descente (veja que não estou falando de um portfólio espetacular, mas minimamente organizado), e é indicado por profissionais a quem já prestou serviço.

Via de regra haverá algum tipo de negociação, seja em relação ao preço ou ao volume de entrega. Normal.

O tempo de resposta é outra questão importante. Nem sempre haverá uma resposta para o orçamento que você enviou, e pode ser que demore muitos dias para o orçamento ser avaliado. A tratativa com as ‘não respostas’ varia de profissional para profissional. Eu geralmente espero cerca de 15 dias antes de outro contato.

O dia das fotos

Negociação concluída, chega o momento de sessão de fotos. O ideal é que haja pelo menos 1 dia inteiro para fotografar o espaço, dessa forma, você terá oportunidade de fotografar pela manhã, tarde e noite. Caso tenha orçado com base em horas, foco na parte da manhã, entre 6h e 9h ou final da tarde, entre 17h e 19h (há variações dependendo da sua localização)

Não é raro encontrar o local bagunçado e impróprio para as fotografias, e isso acontece mesmo que você tenha alertado sobre esse ponto. Quando possível eu levo um assistente para me auxiliar, caso contrário, você mesmo deve organizar o espaço.

Por vezes também complicado é o fato do local já estar ocupado. Nesse caso o tato e a forma de se comportar no ambiente fará toda a diferença, afinal, estaremos em ambientes intimos como salas e quartos de dormir e os moradores nem sempre ficcam confortáveis com essa situação. Procure deixá-los confortáveis. Envolver o pet da família nas fotos é uma ótima estratégia.

Lei de Murphy

A famosa lei postula que se existe alguma possibilidade de algo dar errado, dará errado.

Céu de brigadeiro em dia de foto, pode acontecer, mas em cidades como São Paulo ter o céu limpo o dia todo é raro. O mais provável é que aconteçam algumas aberturas de sol entre nuvens e chuvas.

A Lei de Murphy me ajuda a ficar preparado contra os inconvenientes e a minimizar os imprevistos. Alguns exemplos: Necessidade de fazer fotos externas, no entanto, no dia da locação está chovendo e você não terá agenda para remarcar. Solução: Fazer a foto com chuva e aqui caberá habilidade para contextualizar e justificar a escolha do ambiente chuvoso (ou, claro, remarcar).

Outro exemplo: iluminação que estava perfeita, deixa de funcionar em algumas partes e expõe leds queimados. Solução: posicionar a câmera para que tais pontos não sejam fotografados ou trabalhar as falhas de iluminação na pós produção (mais complicado).

O princípio é que problemas irão ocorrer, portanto, caberá habilidade para contorná-los sem que haja prejuízo para o seu trabalho.

Esteja no controle

Se preparar para um sessão que pode durar o dia todo vai além de ter o equipamento adequado e baterias carregadas.

Esteja preparado em relação a alimentação, por exemplo. Nem sempre será possível ‘fazer o horário de almoço’ sendo que o mais comum será emendar a manhã com a tarde para dar tempo de resolver tudo em 1 dia. Leve na mochila barrinhas de cereal, frutas e água. Isso pode te salvar caso não seja possível um almoço tradicional.

Nunca esqueça de 3 itens: água, toalha e uma camiseta. Água porque há casos em que ela não estará disponível no local, toalha para prevenção de pancada de chuva e uma camiseta como uma troca de roupa simples.

Não terceirize

Principalmente no começo é importante que você dê o tom na sua fotografia. Isso vale para o clique em si, mas também para a pós produção.

Existem mil maneiras de fazer uma foto de arquitetura, mas procurar o que somente você, com o seu olhar e experiência trouxe ao mundo, é algo que fará diferença ao longo do tempo.

O mesmo vale para pós produção. Existem mil maneiras de tratar uma foto, mas buscar dar ‘uma cara’ para o seu tratamento será um diferencial no futuro.

Com o tempo será inevitável terceirizar por conta da demanda (afinal, é isso que todos nós buscamos), mas será mais simples explicar de que forma você quer o clique e o tratamento se você já tiver criado uma linguagem própria.

Redes Socias

Nós fotógrafos devemos divulgar nosso trabalho não apenas em um site, com um portfólio profissional, mas também nas redes sociais.

Em relação a isso há 2 pontos que eu gostaria de compartilhar: Se você será o fotógrafo e também a pessoa que cuidará das redes sociais, foque em apenas 1 delas. Acredite, não será possível fazer algo de qualidade com publicações constantes administrando mais do que 1 delas.

Caso haja uma equipe te assessorando, defina pelo menos 3 redes com base no seu alcance. Não é muito simples essa identificação e caberá esforço e inúmeros testes para definir onde o seu público está. Via de regra poderia mencionar sem muito receio de errar: Instagram, TikTok e LinkedIn (porque busca um tipo de profissional bem diferente das outras duas redes)

Espero que os pontos levantados possam ajudar você, profissional de fotografia que deseja se aventurar pela arquitetura e também, você, novo fotógrafo. Fiquem à vontade para entrar em contato comigo para um papo.

Conteúdo originalmente criado em: https://www.andersonperon.com/desafios-na-fotografia-de-arquitetura-e-interiores/

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Anderson Peron
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Sou Fotógrafo de Arquitetura e Interiores com MBA em Marketing e Comunicação | Aqui você encontra mais sobre o meu trabalho www.andersonperon.com