Foto por AJ Colores publicada no Unsplash

Feminismo e Maternidade

Não-Lugar
4 min readNov 7, 2018

--

Olá, meu nome é Thais Bohn, eu sou advogada de formação, trabalhei com advocacia por 10 anos, atualmente eu trabalho no Tribunal de Justiça de São Paulo, sou mãe do Joaquim e to aqui hoje para falar um pouco sobre maternidade, sobre a minha experiência e sobre reflexões que eu julgo importantes.

Eu sempre me interessei por esse tema mas foi com a chegada do meu primeiro filho que realmente comecei a ir atrás desse assunto, ler sobre, acompanhar grupos de mães, debates e espaços dispostos a pensar isso. A maioria dos materiais que chegaram a mim eram feitos principalmente por mulheres, e muitos por mães que tinham como carreira algo a ver com maternidade, ou tinham até parado de trabalhar para se dedicar exclusivamente aos filhos.

É difícil achar uma mulher ativa no mercado de trabalho discutindo esse assunto, até pela compreensível falta de tempo que essa pessoa deve enfrentar.

De qualquer maneira, vem me causando surpresa a falta de interesse e espaço que esse assunto tão importante está tendo hoje em dia, em que tantos debates importantes estão sendo trazidos a tona.

E eu não digo isso por ser mãe. Claro que o fato de eu ter um filho faz com que esse assunto seja muito mais sensível a mim, mas a grande questão aqui é reconhecer a maternidade como um ponto crucial nas nossas demandas de hoje em dia. As pessoas reconhecem a importância de se discutir a legalização das drogas, independentemente de serem usuárias ou não. As pessoas reconhecem a importância de se discutir a legalização do aborto, independentemente de terem concebido ou não. Isso porque esses temas afetam a vida de muita gente, e dependem de grande mobilização, de muita política pública, de quebra de paradigmas. Assim como a maternidade, mas por alguma razão a maternidade é vista e tratada como algo que só diz respeito aqueles e aquelas que tem filhos, principalmente às mães.

Isso faz não só com que exista um enorme isolamento de quem filhos, principalmente filhos pequenos que é quando eles demandam mais a nossa dedicação, como faz ficar muito difícil e lento qualquer avanço na luta por direitos relacionados a maternidade e parentalidade, que como já falado, é ou deveria ser algo do interesse de todos. É muito difícil, para não dizer impossível, discutir o feminismo sem discutir maternidade. É muito difícil discutir diferença de remuneração entre gêneros sem discutir maternidade. É impossível discutir aborto sem debater e sem entender o que significa e o que implica a maternidade. Felizmente as pessoas vão para as ruas para falar sobre legalização das drogas, legalização do aborto, igualdade de gêneros, mas nunca vi ninguém ir pra rua pra lutar por 6, 8, 12 meses de licença maternidade. Ou por 1 mês que seja de licença paternidade.

Dou alguns exemplos, para elucidar o motivo pelo qual eu acredito que são assuntos tão interdependentes.

A luta feminista pode ser, bem por cima, resumida como uma luta pela igualdade entre os gêneros. Igualdade de tratamento, igualdade de oportunidades, bem como o reconhecimento das já existentes desigualdades. A mulher luta hoje para ganhar espaço na política, no mercado, e na sociedade de forma em geral, pois sempre foi vista como inferior, como aquela que tem como única função satisfazer o homem e PROCRIAR. Gerar e cuidar da prole (leia-se: maternidade). Qualquer outro espaço que não esse jamais foi visto como um espaço próprio da mulher.

Ainda que tenha levado décadas para mulher conseguir significativamente marcar presença no mercado de trabalho, a mulher continua ganhando bem menos que os homens, ainda que ocupem os mesmos cargos, ainda que tenham maior escolaridade que homens, ainda que apresentem melhor desempenho que os homens nas escolas e faculdades. A principal razão disso é a maternidade. Ainda que cada vez mais mulheres optem por não ter filhos, todas sofrem essa consequência. A mulher é julgada e recebe olhares feios se engravida. E mais ainda se decide não engravidar.

Mesmo a discussão do aborto é uma discussão infelizmente pautada muitas vezes pelo grande desconhecimento que as pessoas tem sobre o que significa e o que implica gerar um filho, fazer uma nova vida, abrir mão do seu corpo e em grande parte da sua vida, e ter que criar uma criança, muitas vezes sem ajuda de um parceiro.

Discutir a maternidade, lutar por direitos e novas formas de como transformar o mundo em um lugar menos inóspito para mães é fundamental para se pensar qualquer mudança política e social a longo prazo. Pois o longo prazo não somos nós, é quem a gente tá gerando, é quem a gente tá criando ou deixando de criar. É a forma como a gente tá recebendo no mundo não só um novo ser que vai fazer parte desse futuro, mas essa nova mãe e esse novo pai que são tão determinantes no papel que esse novo indivíduo vai ter na sociedade.

Tem muitos outros aspectos que eu queria trazer e que seriam muito enriquecedores nesse assunto, então fica o meu convite para que a maternidade seja mais debatida, mais foco de atenção, de reflexão e de luta.

Deixo aqui meu contato para quem quiser conversar mais sobre: thaisbohn@gmail.com

--

--