Quando os Rebeldes se tornam O Império. E não aceitam.

André Lucas
3 min readOct 17, 2014

Numa galáxia não muito distante, na verdade, essa mesma que a gente está, surgiu uma espécie social estranha que lia quadrinhos, não saía muito de casa e brincava com pedaços de madeira que diziam ser sabres. Viviam escondidos fingindo viver num mundo medieval sentados em roda com um livro no meio. Quase um ritual demoníaco. Eles evoluíram, ganharam jogos e computadores, mas continuavam fora do mainstream, sendo jogados em latas de lixo, sendo excluídos de festas e N outros eventos “clichêzisticos”.

Por muito tempo esses seres eram mal vistos, eram anões no meio de uma multidão de elfos tolkianos. Só que sem a força e, por muito tempo, sem todo o ouro e pedras precisosas dos anões. Mas depois de muita luta contra o Império que os sufocava, eles começaram a ser vistos em filmes, seus jogos se tornaram grandes, Darth Vader estampava a camisa daquele cara que antes empurrava essa espécie estranha por ser diferente.

A Estrela da Morte foi destruída, podia-se ver que as forças estavam mudando. Mas não houve um ataque ao imperador. Não houve uma batalha final. Poucos abraçaram a nova fase da luta. Na verdade, muitos quiseram se trancar em calabouços e voltar para seus dragões. O Mainstream, inimigo pior que qualquer final boss, absorveu sua cultura, seu modo de vida, seus gostos.

Ao invés de aceitar e integrar as coisas, parece que grande parte dos Rebeldes se tornou um compilado de combatentes renegados, dispostos a se fechar em uma nave e só voltar quando a estátua da liberdade estiver enterrada. E isso deixa que sua verdadeira forma não apareça. Existe hoje um universo cinematográfico pronto com todos os heróis que antes existiam somente em quadrinhos e alguns filmes e séries extremamente mal feitos. Existem centenas de feiras com centenas de milhares de pessoas que esperam ávidos por qualquer informação relevante sobre uma série, um filme, um jogo de personagens que nunca haviam saído dos livros e quadrinhos. Jogos hoje criam filas por todo o mundo até em lugares que ainda são vistos como coisas para crianças. Existem milhões de produtos que permitem mostrar sua cultura ao resto do mundo, que permitem cultuar aquele personagem incrível que, anteriormente, se venerava na sua mente durante o recreio, em meio a um tiroteio de bolas de papel onde se era o único inimigo. Há toda uma cultura envolta nisso, mas pra alguns parece simplesmente ser melhor voltar aos porões escuros.

Com esse comportamento, deixa-se que o Mainstream mantenha os estereótipos, que desvirtue como as coisas funcionam, que propague o errado de forma a errar mais ainda. (Nota do autor: The Big Bang Theory e afins não passam de uma corruptela de estereótipos ultrapassados e imbecis. Isso não faz parte da nossa cultura nem no mínimo grau.) A dificuldade de abraçar e, com o conhecimento de causa, mostrar como realmente algo deve ser feito, a maneira de representar toda a cultura faz com que se perca cada vez mais batalhas e o caminho para o retorno à margem seja mais e mais aparente. Ou ainda, que desvirtuar algo torne-se o normal.

Foi alcançado um novo nível, e agora? Não é hora de recuar, mas de continuar avançando. Quando chegar a hora, Han vai atirar primeiro?

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André Lucas

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