Conflitos

Como entender quem não é da nossa geração?

Andréa Korps
4 min readApr 27, 2017

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Li um artigo que publica dados de algumas pesquisas, e fiquei feliz. Não pelo que mostram as estatísticas, mas porque vejo que finalmente estamos entendendo que na realidade não existe essa tal de ‘empresa’, assim como tampouco existe esse tal de ‘mercado’ que teimamos em culpar ultimamente pela crise econômica. Somos nós. Gente. Agrupados para exercer determinados papeis na vida. Onde está esse ‘mercado’? Posso falar com ele? Tem voz, corpo? E a ‘empresa’? Quero convidá-la a tomar um café comigo aqui, será que vem? Gente. É um montão de gente que formam empresas que estão dentro dos mercados. Gente. Você e eu.

E o que foi que aconteceu que finalmente estamos entendendo isso? Aconteceu que estamos contando as perdas financeiras que nós mesmos poderíamos evitar, ou causar. No caso, uma perda de produtividade de 12%. Cinco horas de trabalho por semana gastas por conflitos de gerações segundo 35% dos pesquisados. 54% afirmam que as diferenças de ideias entre funcionários de idades diferentes consomem de 1 a 5 horas semanalmente em suas organizações, e tais. Números. Percentuais. Dinheiro. Como gostam as empresas e o mercado.

Finalmente, me parece, estamos descobrindo que essa ideia de separar o lado pessoal do profissional não é lá algo tão sábio de fazer. Graças aos métodos e pesquisas. Separamos as gerações por letras só para organizar melhor o que já sabíamos: filhos, pais e avós sofremos para nos comunicarmos, para nos entendermos.

Uma mãe contou para mim outro dia que ela e o filho não tem se entendido. Moram na mesma casa. O filho, que é jovem, sai à noite e retorna de madrugada. Para ela, o filho deveria retornar cedo para casa. Pela manhã, a mãe vai até o quarto do filho, que está dormindo, e quer discutir sobre o horário que ele retornou da festa. Cada um tem o seu ponto de vista. A mãe aprendeu com a sua família de origem que filho volta cedo para casa. O filho, em plena juventude, fase na qual se aprende que não é mais o tempo de se submeter cegamente aos pais, está buscando autonomia. Qual é o resultado? Conflito. De gerações.

Geralmente temos uma opinião por termos vivenciado a nossa história familiar de um jeito, e automaticamente assumimos que deve ser assim, desse mesmo jeito, com todas as pessoas. Os filhos jovens, que tem mais de 18 anos, já deveriam ser responsáveis pelas suas vidas. Os pais deveriam tê-los criado para isso. Entretanto, muitas mães e pais continuam tendo atitudes de mães e pais de crianças, ou de adolescentes, quando os seus filhos já são adultos. Há uma defasagem nessa relação.

Penso que cada geração tem sua “verdade”, mas que precisamos ouvir as várias outras “verdades” também. Ouvir as várias versões. É como se a mãe e filho estivessem no mesmo prédio olhando o horizonte só que a mãe está no segundo andar e o filho no vigésimo andar. Os dois estão no mesmo prédio, mas cada um visualiza horizontes diferentes.

Se ainda não o fez, te recomendo que assista o filme ‘Um Senhor Estagiário’. Nele verá como as gerações usam suas diferentes experiências, e como cada um tem um jeito de desenvolver o papel profissional. Se aprendermos a valorizar as diferenças, vamos estar abertos a ouvir as várias versões das várias pessoas de diversas idades dentro da mesma empresa. Ou dentro da nossa família. Veja, nem sempre são só os jovens que se fecham para os mais velhos. Pessoas, de todas as idades, costumam ter problemas para conversar com pessoas de outras gerações. Todos devemos nos predispor a estar abertos para os que nos são diferentes. Sempre temos algo a aprender deles. Nesse filme podemos ver a riqueza que essa abertura traz.

Mas como entender a outra geração? Podemos usar como ajuda uma técnica do Psicodrama. É a inversão de papeis. A mãe “faz de conta” que é o filho e o filho “faz de conta” que é sua mãe. O gerente “faz de conta” que é o seu “colaborador” e vice-versa. Teremos assim a oportunidade de perceber como cada um sente, pensa e age no papel do outro. Isso nos ajudará a encontrarmos a intersecção e a soma dos pontos de vista para formarmos uma nova maneira de sentirmos, pensarmos e agirmos.

O Psicodrama nos facilita encontrarmos respostas adequadas e novas tanto para nós mesmos, como para as questões que surgem em nossos relacionamentos, dentro de cada contexto no qual nos encontremos. Isso é o que chamamos de espontaneidade. Treinarmos nossas relações num ambiente saudável — usando a inversão de papeis, por exemplo — só tem um risco: crescermos.

Te convido a conversar com pessoas de outras gerações. E depois me conta como foi a experiência.

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