Intervenção Divina: a beleza mística dos corpos incorruptos

Andrei S. Santos
16 min readFeb 22, 2024

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Santa Bernadette Soubirous

Corpos incorruptos

A Igreja de Roma costuma exibir aos seus fiéis os corpos incorruptos de seus Santos e Mártires, como um testemunho da intervenção divina no curso natural das coisas. Os corpos aparentariam integridade sem que tenham sido utilizados quaisquer métodos de embalsamamento ou técnicas de preservação.

Por essa razão, a sua não-decomposição após a morte, ou ainda, a decomposição retardada, geralmente são entendidos como eventos miraculosos. A Igreja Católica detém a guarda de vários corpos incorruptos, dos quais muitos estão em exposição pelo mundo. É comum que fiéis façam peregrinações aos locais das relíquias em busca de alcançarem graças em suas vidas.

Os cientistas afirmam que o fenômeno da incorruptibilidade se deve a condições de preservação favoráveis, como baixas temperaturas, baixa oxigenação e pouca umidade. Condições similares também podem levar à mumificação natural do corpo, como é o caso das múmias do Llullaillaco, com mais de quinhentos anos de idade.

Relatos de corpos que resistem à decomposição cadavérica e são encontrados intactos durante as exumações após transcorridos os períodos normais de sepultamento são frequentes o suficiente para não poderem ser classificados como “anormalidades”. Além disso, algumas pesquisas encomendadas pela Igreja Católica revelaram fraudes em muitos casos de corpos incorruptos.

Em exemplo, o corpo de Margarida de Cortona, morta em 1297 e venerada na região da Toscana, foi examinado por Ezio Fulcheri, professor da Universidade de Gênova. Ele descobriu que o corpo apresentava incisões nas coxas, barriga e peito, por onde haviam sido injetados conservantes. No entanto, outros inúmeros casos permanecem sem uma resposta definitiva.

Embora a ciência forneça uma explicação natural sobre os estados de preservação dos corpos, todas as respostas parecem recair sobre “como esses fenômenos ocorrem”, ao invés de “por que eles ocorrem”. Assim, deixam-se brechas para a contemplação dos mistérios, traduzidos pela possibilidade da intervenção divina.

O despertar dos santos e mártires

Em um dado momento da história, a Igreja de Roma chegou a proibir a cremação dos corpos de seus fiés, acreditando que a prática poderia interferir no dia ressurreição final. No entanto, a tese logo caiu por terra com a constatação do fato de que, para um Deus onipotente, a tarefa de levantar um corpo em cinzas ou decomposto deveria ser igualmente simples.

Assim, posteriormente, o Código de Direito Canônico tratou de fundamentar a prática da cremação, porém ainda dando preferência aos sepultamentos tradicionais, por força de tradição. Desta vez, a defesa dos sepultamentos à terra surgia do próprio significado do termo “cemitério”.

A origem do termo vem do latim coemeterium, derivado de cinisterium. O termo “cinos” significa “doce” e “renor” significa “mansão”. Assim, o verbete latino remete à “doce mansão dos mortos”. Em grego, a palavra remete ao termo kouméterion, derivado de kaimâo, que significa “eu durmo”. Desse modo, o vocábulo denota um “lugar para dormir”.

Essa combinação de palavras revela de maneira muito profunda e sutil o status mortem: se os mortos “dormem”, isso pressupõe que um dia possam vir a “despertar”. Interessantemente, essa é uma visão que muitas culturas humanas compartilham, inclusive as não-cristãs.

A historiografia bíblica, em várias de suas passagens, conceitua o cemitério como sendo “o local onde dormem os mortos até serem acordados pelas trombetas do Juízo Final, quando se levantarão incorruptos” (Coríntios 15, 33–58). Em outra passagem bíblica, a morte é sinônimo de sono, como quando Jesus fala sobre a morte de Lázaro: “Lázaro, nosso amigo, dorme, mas irei despertá-lo” (Jó 11, 11).

Conforme aponta o Antigo Testamento, Lázaro aguarda a ressurreição no Hades, que é a palavra grega para o hebraico Cheol: o mundo dos mortos. Nesse cenário, a morte é o sono profundo da consciência, do qual não se pode despertar senão por intervenção divina.

Na escatologia cristã, os santos e mártires estão adormecidos, em estado incorpóreo, aguardando sua ressurreição no dia do Julgamento Final, com seus corpos restaurados. Nesse sentido, a prática de sepultá-los à terra, como se estivessem dormindo, passa uma mensagem poderosa ao mundo, solidificando a crença de que eventualmente irão despertar.

Com isso, a Igreja de Roma não só encontrou um poderoso argumento para continuidade de sua tradição funerária como também para a valorização e contemplação dos corpos físicos de seus santos e mártires, dentre os quais muitos experimentaram (e ainda poderão experimentar) o divino fenômeno da incorruptibilidade.

Beata Anna Maria Taigi

Anna Maria Taigi foi uma mãe de família italiana, visionária, mística, profetisa e terceira trinitária beatificada pelo Papa Bento XV em 1920. Nasceu em Siena, onde seus pais eram donos de uma farmácia. Quando Anna Maria tinha cinco anos, a família perdeu tudo e acabou sendo obrigada a se mudar para Roma em busca de outras oportunidades.

Em 1789, ela se casou com Dominico Taigi, servidor da rica família Chigi, e tiveram sete filhos, três deles falecidos em tenra idade. Em 1790, foi aceita como terciaria trinitária. Em vida, tinha fama de possuir dons místicos e de cura. Entre seus carismas, é digno de nota um sol luminoso que brilhava diante dela durante 47 anos, no qual via os acontecimentos passados e futuros, bem como também o estado das almas, tanto vivos como falecidos.

Tempos depois, ela foi publicamente recebida como terceira entre os trinitários de San Carlo alle Quattro Fontane. Tendo finalmente encontrado seus mentores espirituais, ela rapidamente progrediu no “Caminho da Perfeição”. Embora ela não fosse rica, Anna Maria era muito caridosa e, entre os hospitais que ela visitava regularmente, seu preferido era São Tiago dos Incuráveis.

Durante muitos anos, enquanto rezava em sua capela, Anna Maria experimentava êxtases e frequentemente tinha visões nas quais via o futuro. Sua veneração em Roma começou logo depois de sua morte. Seu corpo foi encontrado quase em estado de incorruptibilidade total. Por força de sua popularidade, acabou sendo transferido várias vezes até finalmente ser sepultado em San Crisogono, no Trastevere. É a padroeira das esposas, mães e vítimas de abusos dos maridos.

Beata Anna Maria Taigi

São Vicente de Paulo

O corpo de São Vicente de Paulo, um sacerdote francês canonizado pelo Papa Clemente XII em 1737, supostamente encontra-se incorrupto até hoje. Cinquenta e dois anos após a sua morte, o corpo foi exumado pela primeira vez diante de dois médicos, autoridades eclesiásticas e outras testemunhas. Ao início do exame, foi constatada a sua incorruptibilidade, com sinais de deterioração apenas nas regiões do nariz e olhos.

Após a análise, os médicos chegaram à conclusão de que a preservação não poderia ter acontecido por vias naturais, o que acabou por “ratificar” o milagre. No entanto, 20 anos mais tarde, tendo o corpo sido movimentado por ocasião da canonização, já começava a apresentava sinais avançados de decomposição, em função de inúmeras inundações e infiltrações no terreno. O corpo de São Vicente de Paulo foi então reconstituído em cera e está atualmente exposto na Capela que leva o seu nome em Métro Vaneau, Paris.

São Vicente de Paulo

Carlo Acutis

Carlo Acutis foi um adolescente católico italiano nascido no Reino Unido e foi muito recentemente beatificado pela Igreja católica. Ele se tornou conhecido por documentar milagres eucarísticos e as aparições marianas aprovadas ao redor do mundo, catalogando-os em um site que ele mesmo criou.

Ele também se tornou conhecido por sua alegria e por suas habilidades com o computador, bem como por sua profunda devoção à Eucaristia, que se tornou um tema central de sua vida. Carlo faleceu em 2006, aos 15 anos, em decorrência da leucemia.

Após o transcurso dos anos, porém, a divulgação de imagens do seu corpo apresenta uma extraordinária preservação, que impactou crentes e descrentes e gerou uma onda de comentários nas redes sociais. Os pedidos para sua beatificação começaram não muito tempo depois de sua morte, ganhando impulso significativo no ano de 2013. O Papa Francisco o declarou Venerável em 5 de julho de 2018.

Em 21 de fevereiro de 2020, o Papa Francisco autorizou a beatificação de Carlo. Enfim, em 13 de junho do mesmo ano, foi confirmada a data para a cerimônia de beatificação do jovem, que ocorreu no dia 10 de outubro de 2020 e foi acompanhada por milhares de fiéis.

Acutis representa o primeiro santo na história a vestir calça jeans, tênis e moletom. Isso passa ao mundo uma mensagem muito poderosa, uma vez que todas as referências de santos são sempre muito antigas. Ele é também o padroeiro da Juventude, da Internet e dos Estudantes.

O corpo de Carlo Acutis repousa na Igreja de Santa Maria Maior, em Roma, na Itália. O Padre brasileiro Marcelo Tenório, vice-postulador da causa de canonização do jovem italiano, declarou a respeito do seu estado de conservação:

“Tive a graça de vê-lo quando estava sendo tratado e preparado. Todo corpo incorrupto é arrumado, hidratado; afinal, esteve debaixo da terra por muitos anos. Não importa o grau da ação da graça: o importante é a graça. Querer ficar especulando desvairadamente essa questão evidencia uma curiosidade sem sentido algum. Perde-se o foco, que é o grande sinal que Deus nos deu: o anjo da juventude, Carlo Acutis, está intacto; porque é um sinal de que a santidade sempre vence a morte”.

Carlo Acutis

Santa Zita

Santa Zita é uma santa italiana e denominada Padroeira das serventes e empregadas domésticas. Nasceu na vila de Monsagrati, próxima a Lucca, na Toscana, Itália. De família pobre, aos 12 anos foi trabalhar como empregada doméstica na casa da abastada família Fatinelli, onde permaneceu por 48 anos, até sua morte.

Por sua bondade e esforço era frequentemente vilanizada e até maltratada pelo resto da criadagem, mas nunca se deixou abater nem permitiu que isso alterasse sua calma interior. Aos poucos foi sendo aceita por todos e chegou a ser responsável por toda a administração da casa. Quando de sua morte era praticamente venerada pela família Fatinelli, à qual serviu fielmente por toda a vida.

Foi canonizada em 1696, após o reconhecimento de cento e cinquenta milagres atribuídos à sua intercessão. Seu corpo foi exumado em 1580 e descobriu-se estar incorrupto, mas foi-se mumificando desde então. Atualmente, seu corpo mumificado repousa em uma cama de brocado, dentro de um relicário de vidro na Basílica de São Frediano, em Lucca.

Santa Zita

Santa Joaquina de Vedruna

O papa João XXIII disse sobre ela: “Mãe de nove filhos, converteu-se na mãe de numerosos pobres”. Este papa, em 1959, colocou o nome de Joaquina de Vedruna na lista dos Santos, como uma mulher que foi capaz de ser testemunha exemplar de Jesus. Seu corpo está exposto no carmelo principal da Ordem Escorial de Vic, na Espanha.

Santa Joaquina de Vedruna

São João Maria Batista Vianney

São João Maria Batista Vianney foi um sacerdote francês, canonizado pela Igreja Católica. Apesar de ser considerado o padroeiro dos sacerdotes, só o é dos Párocos e dos Sacerdotes com Cura de Almas. Também é conhecido como Santo Cura de Ars. Seu corpo repousa num relicário dourado com vidro de exposição, na França.

São João Maria Batista Vianney

Santa Catarina de Labouré

Santa Catarina Labouré foi uma religiosa da França, vicentina, co-fundadora da Pontifícia Associação da Juventude Mariana Vicentina (J.M.V.), e quem recebeu algumas aparições de Nossa Senhora reconhecidas pela Igreja Católica para a revelação de um devocional: a chamada Medalha Milagrosa (Nossa Senhora da Medalha Milagrosa).

Ela morreu em 31 de Dezembro de 1876. Seu corpo foi exumado em 1933, sendo encontrado incorrupto. Atualmente, seu corpo é exposto à veneração na capela de sua Ordem, a mesma onde aconteceram as visões. Foi beatificada em 1933 pelo Papa Pio XI e canonizada em 27 de julho de 1947 pelo Papa Pio XII, 100 anos após a aprovação pontifical da Juventude Mariana Vicentina.

Santa Catarina de Labouré

Maria de Jesus de Ágreda

A Venerável Maria de Jesus de Ágreda (2 de Abril de 1602–24 de Maio de 1665), foi uma religiosa abadessa de Ágreda, cidade situada na província espanhola de Sória, tendo nascido e falecido nessa mesma localidade. Além de monja da Ordem da Imaculada Conceição, foi ainda uma importante escritora mística espanhola. Seu corpo encontra-se incorrupto até os dias atuais no convento que leva seu nome.

Seu relicário é uma verdadeira obra de arte, misturando elementos do Rococó e do Barroco. A parte de cima consiste em uma estátua em escala 1:1 feita à sua imagem e semelhança. Logo abaixo, em um caixão branco adornado com anjos renascentistas e detalhes dourados, repousa Maria de Ágreda: na mesma posição, com o mesmo semblante e as mesmas vestes retratadas em sua estátua.

Santa Maria de Jesus de Ágreda

Santa Rita de Cássia

Santa Rita de Cássia foi uma monja agostiniana da diocese de Espoleto, Itália. Foi beatificada em 1627 e canonizada em 1900 pela Igreja Católica. Foi uma pessoa de muita fé e que salvou da peste o cunhado apenas pela oração. Seu marido foi assassinado e seus filhos desejaram se vingar de sua morte, mas Rita disse que preferia ver seus filhos morrer a “derramar mais sangue”.

Seu relicário é inteiramente feito em vidro, e o seu corpo repousa sob um colchão vermelho com detalhes dourados. O caso de Santa Rita de Cássia é um dos mais célebres de que se tem notícia na história da Igreja Católica, uma vez que permanece incorrupto até o presente momento. Além disso, ao redor de seu túmulo, foram relatados muitos fenômenos odoríferos, como perfumes que eram exalados de seus restos mortais.

O Papa Bento XIV, ao explicar esse milagre, postulou: “Que o corpo humano possa naturalmente não cheirar mal, é muito possível; mas que cheire bem está acima de suas forças naturais, como ensina a experiência. Por conseguinte, se o corpo humano, corrompido ou incorrupto, em putrefação ou sem ela […], exala um odor suave, persistente, que não incomoda a ninguém, mas que parece agradável a todos, deve-se atribuí-lo a uma causa superior e deve pensar-se em um milagre.”

Esses acontecimentos fizeram com que as autoridades civis e eclesiásticas expusessem o corpo de Santa Rita aos peregrinos de forma permanente. Também por estas razões, o seu relicário foi confeccionado totalmente em vidro, de maneira que pudesse ser nitidamente visualizado e venerado pelos fiéis.

Santa Rita de Cássia

Santa Luísa de Marillac

Luísa de Marillac foi a co-fundadora, com Vicente de Paulo, das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. Luísa de Marillac foi beatificada no dia 9 de maio de 1920 por Papa Bento XV, canonizada no dia 11 de março de 1934 por Pio XI e proclamada patrona das Obras Sociais em 1960 pelo bem-aventurado João XXIII.

Filha ilegítima, esposa experiente, viúva contemplativa e ativa, mãe preocupada e grande mãe, serena, educadora e cuidadosa, assistente social e promotora da Caridade, ela continua inspirando muitos homens e mulheres, dentre os quais 21.000 Filhas da Caridade, que servem no mundo inteiro. Há diversas escolas, lares para idosos e abrigos infantis em homenagem a Luísa de Marillac.

Seu corpo repousa num relicário dourado e ornamentado com muitos detalhes em ouro, em forma de arca. Seu expositor é em vidro transparente e seu molde foi trabalhado em arcos dourados. Os despojos de Santa Luísa foram preservados com cera.

Santa Luísa de Marillac

Santa María de León Bello y Delgado

María de León Bello y Delgado foi uma freira católica conhecida nas Ilhas Canárias. Sua vida sempre foi rodeada por maravilhosos milagres e curas, fatos, de acordo com seu fiel ainda repetir. Na verdade, ela é considerada a maior mística das Ilhas Canárias e uma das mais importantes da Espanha.

Entre os grandes eventos miraculosos que cercam sua vida incluem: estigmas, levitação, bilocação, entre muitos outros. Entre as grandes figuras da época que mantiveram uma estreita amizade com a freira vale destacar o pirata Amaro Felipe Rodríguez (conhecido como Amaro Pargo) e o religioso Fray Juan de Jesús, entre outros. Seu corpo permanece incorrupto no Convento de Santa Catalina de Siena, na cidade de San Cristóbal de La Laguna.

Santa María de León Bello y Delgado

Santa Maria Bernada Sobeirons

Santa Maria Bernada Sobeirons foi uma religiosa francesa canonizada pela Igreja Católica. A ela, foram atribuídas muitas curas e milagres. Uma urna de cristal foi confeccionada para guardar o seu corpo. Segundo a Igreja de Roma, as freiras cobriram seu rosto e mãos com uma camada fina de cera para preservá-los e, desse jeito, foi repousada.

A urna com seu corpo se encontra desde 3 de agosto de 1925 na Igreja de Saint Gildard, em Nevers, França. As Irmãs de Nevers optaram por exibir sua relíquia para o público de maneira permanente, sendo livre a visitação e peregrinação. As freiras assim decidiram porque viram no milagre uma maneira de encorajar os visitantes a se aprofundarem mais nos exemplos de vida e mensagens deixadas pela Irmã Santa.

Seu relicário é totalmente confeccioando em ouro e vidro transparente, com muitos detalhes fitomorfos, zoomorfos e iconoclásticos. A beleza exuberante do monumento chama a atenção pelo brilho e elegância que permeia toda a obra, como o colchão dourado em que repousa a Santa e as aves que adornam o topo do relicário.

Santa Maria Bernada Sobeirons

Santa Catarina de Bolonha

Catarina de Vigri, ou Santa Catarina de Bolonha, foi uma freira e Santa italiana, filha de um diplomata. A tradição diz que seu pai recebeu uma visão lhe dizendo que ela iria nascer. Dama de honra da filha de uma marquesa, Catarina recebeu a mesma educação e treinamento de sua patroa. Fez-se franciscana terciária com apenas 14 anos e depois, finalmente, freira das Clarissas Pobres e madre das noviças.

Estabeleceu um convento de Clarissas Pobres em Bolonha em 1456, e lá serviu como abadessa. Mística, operava milagres e ainda era profetisa e visionária. Também era pintora e decifrava manuscritos como se estivesse iluminada por um anjo. Em um dia de Natal recebeu uma visão de Jesus nos braços de Maria. Esta visão ela pintou em um quadro que se encontra atualmente no Museu do Vaticano.

Faleceu em sua cidade natal e foi sepultada sem caixão ou embalsamento. Quando exumada dezoito dias depois, devido a supostos milagres que ocorriam junto de sua tumba, um forte odor de perfume exalou de seu túmulo e o seu corpo estava incorrupto.

Diante desse fato, o doutor maestro Giovanni Marcanova foi chamado ao local para examinar o corpo, mas não pôde explicá-lo cientificamente. Santa Catarina de Bolonha é padroeira da Academia de Artes de Bolonha e dos artistas de belas-artes. Foi canonizada em 22 de maio de 1712 pelo Papa Clemente XI.

Seu corpo foi vestido com roupas limpas e depositado em uma cadeira numa capela especial, atrás de um cercadinho de madeira e coberta por vidros transparentes, onde está até hoje. O espaço é ricamente adornado com estátuas de anjos, flores, tecidos nobres e conta ainda com um trabalho exuberante em ouro, orientado pelo estilo Rococó.

Santa Catarina de Bolonha

Santo Antonino de Florença

Antonino de Florença, também chamado De Forciglioni, foi um frade dominicano italiano, que se tornou Arcebispo de Florença. É venerado como santo pela Igreja Católica. Foi canonizado em 31 de maio de 1523 pelo Papa Adriano VI. A bula, no entanto, só foi publicada por seu sucessor, Clemente VII, em 23 de novembro do mesmo ano.

Seu corpo incorrupto repousa em um relicário com grades e iluminação própria, confeccionado em mármore, na forma de um altar. O local é aberto a visitações e peregrinações, e fica na Capela Salviati da igreja de São Marcos, em Florença, na Itália.

Santo Antonino de Florença

Santo Padre Pio de Pietrelcina

Padre Pio de Pietrelcina foi um frade e sacerdote católico italiano, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, elevado a santo pela Igreja Católica como São Pio de Pietrelcina. Foi, ainda em vida, alvo de uma veneração popular de grandes proporções, principalmente em razão de seus muitos carismas e dons espirituais: o dom da bilocação, o dom da levitação, das curas milagrosas, dos perfumes que exalava, entre outros.

Seu corpo se encontra depositado em um relicário confeccionado em vidro transparente, em Roma, na Itália. O perito do Vicariato de Roma, Nazzareno Gabrielli, verificou durante a exumação que a pele do rosto ainda existia, ainda havia orelhas e lábios, havia barba e bigode, não havia mais olhos nem nariz, a cabeça, o tronco e a bacia estavam em boas condições e que os membros inferiores estavam deteriorados.

O que mais surpreendeu a todos, no entanto, foi a completa ausência de maus odores. No entanto, o conjunto de fatores, mesmo constatados os sinais de decomposição cadavérica, foi considerado como sendo suficiente para decretar a sua “incorruptibilidade”. Aliás, na foto abaixo, é possível notar que as mãos do corpo de Padre Pio estão bastante deterioradas, ao passo que sua barba e rosto estão em perfeitas condições.

É importante notar que, após a exumação, o corpo do Padre Pio recebeu tratamento químico para permanecer preservado. Foi aplicada uma solução de formalina em álcool, creosoto, ácido benzóico e essência de turpentina. Em seguida, o corpo foi envolvido com faixas embebidas de embalsamantes, com exceção da cabeça.

Depois, foi colocado sobre um colchão preenchido com gel sílica, de modo a absorver a umidade. Por último, o corpo foi colocado dentro de um relicário tecnológico preenchido por nitrogênio, de modo a inibir a ação da microflora bacteriana e dos fungos aeróbicos.

Santo Padre Pio de Pietrelcina

Santo Ambrósio de Milão

Aurélio Ambrósio, mais conhecido como Ambrósio, foi um arcebispo de Mediolano (moderna Milão) que se tornou um dos mais influentes membros do clero no século IV. Ele era prefeito consular da Ligúria e Emília, cuja capital era Mediolano, antes de tornar-se bispo da cidade por aclamação popular em 374. Ambrósio era um fervoroso adversário do arianismo.

Tradicionalmente, atribui-se a Ambrósio a promoção do canto antifonal, um estilo no qual um lado do coro responde de forma alternada ao canto do outro, e também a composição do Veni redemptor gentium, um hino natalino. Ambrósio é um dos quatro doutores da Igreja originais e é notável por sua influência sobre o pensamento de Santo Agostinho.

Embora seu corpo tenha sido encontrado em estado de decomposição retardada, hoje está predominantemente decomposto. Ele se encontra repousado em um colchão de linho e travesseiro de seda, dentro de um relicário quase totalmente confeccionado em vidro transparente, de modo que seja exibido aos fiéis. O Arcebispo veste seus trajes eclesiásticos e carrega o seu cetro.

Santo Ambrósio de Milão

Como vimos, a celebração da morte no Cristianismo ganhou contornos macabros, aterrorizantes e ao mesmo tempo apaixonantes. A Igreja de Roma nutriu em sua história uma estreita ligação com o mórbido, muitas vezes confundindo-se à paixão e a devoção. E, assim, fez dos corpos decompostos uma forma de arte única e uma maneira arrebatadora de anunciar os mistérios da fé.

Ao mesmo tempo que o imaginário cristão reafirma a potência da morte sobre a vida, faz borbulhar no sangue dos fiéis a certeza da eternidade com Deus, desdobrando-se nas atitudes mais caras à moralidade humana, como o martírio, a caridade, o amor ágape, a devoção incondicional e a abdicação deste mundo em prol daquele que está por vir.

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Andrei S. Santos

Antropólogo (UFF), Biomedicina (UNESA) Eng. da Computação (UNINTER), Mestre e Doutorando em Bioarqueologia (MN/UFRJ).