Do you speak SQL?

Andre L. Souza, Ph.D
4 min readDec 26, 2019

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Quando eu tinha uns 12 anos de idade, eu ajudava minha mãe a cuidar de uma senhora que morava perto da nossa casa. Dona Julita, o nome dela. Mamãe fazia o almoço, dava os remédios e arrumava a casa. Eu lavava as louças do almoço e limpava a cozinha. Eu lembro de uma vez que a Dona Julita recebeu a visita de um amigo que não falava Português. Dona Julita e ele ficaram conversando em Inglês e eu achando aquilo a coisa mais chique do mundo! Nessa época, as pessoas já diziam "Tem que saber inglês se quiser ser alguém na vida". E eu ali vendo eles "sendo alguém na vida".

E foi assim durante muito tempo. Saber Inglês era (e em certa medida, ainda é) essencial para algumas carreiras. O processo de globalização (que viu seu pico no final dos anos 80 e início dos anos 90) meio que forçou as pessoas a aprenderem a se comunicar na chamada língua franca da época. E acredito que seja por isso que, mesmo em escolas públicas, o ensino de Inglês começou a ser obrigatório. E na minha época (olha o velho falando…), a escola pública era a única exposição formal que algumas pessoas (errr.. eu) tinham à língua inglesa. Com o avanço da tecnologia e com o acesso que temos hoje a tudo, é um pouco mais fácil ter uma noção (ainda que básica) de Inglês (The book is on the table? Anyone?). Continuem estudando pois é importante.

Mas os tempos mudam. Hoje estamos na era dos dados. Muitos dados. Estima-se que exista hoje o equivalente a 2,7 zettabytes de dados no mundo. Você sabe o quanto é isso? É quase 45 bilhões de iPhones de 64GB. E estamos o tempo todo contribuindo mais dados pro mundo. Esse texto, a curtida que você vai dar nele, a compartilhada, etc. Tudo isso é dado que será armazenado em algum lugar e vai ser utilizado de alguma forma. E pra usar esses dados de maneira efetiva, precisamos saber como organizar e ler esses dados. E com isso, a pressão agora é "como a gente pode conversar com essas bases de dados disponíveis pra gente?" E já te adianto: não é em Inglês.

A gente conversa com computadores usando linguagens computacionais. É como se fosse um idioma mesmo. Existe um conjunto de convenções que a gente entende e os computadores também. Existem vários "idiomas": Python, Java, Ruby, C++, etc… Umas das linguagens mais "populares" hoje em dia é chamada SQL, que significa Structured Query Language. Desenvolvida no início dos anos 70, o que essa linguagem faz é se comunicar de maneira rápida e versátil com bancos de dados. Ahhh não. Peraí, André. To entendendo nada. Como assim, conversar com banco de dados? Tá mexendo com drogas, é?

Explico. Imagina que você abriu uma conta no Nubank. Ao abrir a conta, você forneceu seu nome, endereço, CPF, quanto você ganha, seu telefone e mandou lá uma foto do seu RG. O Nubank guardou esses dados e te deu um cartão que tem um número. E pode ser que ele te deu também um limite de crédito. Todas essas informações estão guardadas num banco de dados no Nubank. Aí te deu fome e você entra no iFood pra pedir comida. Quando você passar o seu cartão do Nubank, ele (o Nubank) vai pegar seu número, ir lá no banco de dados e falar assim: "Oi banco de dados, bom dia! Tudo bem? Então, vê aí pra mim quem é a pessoa que tem o número do cartão XXXX e me fala aí qual é o limite que ela tem disponível". E é assim que ele vai saber se você tem ou não o limite pra comprar sua comidinha no iFood.

Essa conversa com o banco de dados não é feita em Inglês, Português ou Mandarim. Ela é feita nessa língua chamada SQL. E essa comunicação provavelmente foi feita de forma automática. Mas vamos ver um outro exemplo: suponhamos que o Nubank decida dar um presente de Natal pra todos os clientes acima de 30 anos e que gastaram pelo menos 5 mil reais entre os meses de Junho e Novembro de 2019. Um cientista de dados vai ter que pegar essa informação no banco de dados. Pra fazer isso, ele vai usar SQL e dizer (em SQL): "vai lá na tabela que tem a quantidade que as pessoas gastaram em 2019. Aí você seleciona o que elas gastaram entre Junho e Novembro. Se for mais de 5 mil, beleza! Ahhh e só quero as que tem mais de trinta anos". Saber traduzir isso na língua dos bancos de dados é hoje uma das habilidades mais valiosas no mercado.

Várias empresas estão coletando dados e organizando esses dados de alguma maneira. Mas nem todo mundo na empresa sabe conversar com esses dados. É como se uma empresa no Brasil estivesse fazendo negócios com uma empresa na França, mas ninguém na empresa soubesse falar Francês. Aí, o primeiro que aparecesse lá e falasse "Salut! Je parle Français, moi", seria um funcionário muito bem valorizado.

Ok. O que você quer dizer com isso? Em Português bem claro: aprenda SQL. Ahhh Andre. Eu nem quero trabalhar com tecnologia. Que chatice! Sai fora! Mesmo assim. Mesmo você não sendo um cientista de dados, mesmo você não sendo uma pessoa que trabalha com análise de dados, ter uma noção do que é essa linguagem, o que ela faz e como ela opera é muito importante, e pode ser um diferencial importante na sua carreira. Veja isso como o "the book is on the table" da computação. Mesmo que seja a única coisa que você saiba, pelo menos você tem uma noção vaga do que ela se trata e isso vai certamente aumentar suas chances de conseguir um bom emprego.

2020 está aí! Quem sabe você não coloca isso como uma resolução de fim de ano: aprender o básico de SQL e saber como SELECT * FROM any_good_job WHERE my_chances = 'high'. (pun intended).

Happy 2020!

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