O que fazer com essa puta ansiedade?

Andre L. Souza, Ph.D
4 min readFeb 25, 2017

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Karma is a bitch, mas ansiedade é bem pior! Estima-se, hoje, que mais de 40 milhões de adultos sentem-se mais ansiosos que o normal, sendo que uma grande parcela dessas pessoas não consegue desempenhar tarefas cotidianas por conta da ansiedade que sentem no dia-a-dia.

Mas afinal de contas, o que é ansiedade e por que sentimos isso?

Ansiedade é uma resposta muito natural que o nosso corpo tem toda vez que estamos em alguma situação que pode nos causar algum dano (físico ou não). Por exemplo, se você estiver fazendo uma trilha próximo a um penhasco, é normal que você se sinta um pouco ansioso. E isso é bom, uma vez que essa ansiedade vai te fazer ter um pouco mais de cuidado com onde pisa, como se movimenta, etc.

No nosso corpo, ansiedade funciona parecido com estresse. Ansiedade estimula a produção de hormônios (e.g., cortisol) que acelera nossos batimentos cardíacos, aumenta nossa circulação sanguínea e aumenta nossas automáticas (melhora nossos reflexos). Mas diferente do estresse, ansiedade também traz um sentimento de apreensão, medo e insegurança.

Um aspecto interessante sobre a ansiedade é que ela, geralmente, está ligada a fatores mais internos do que externos. Por exemplo, uma situação de incerteza externa (i.e., esse elevador pode cair) te causa um estresse grande. Uma situação de incerteza interna (i.e., será que sou inteligente o suficiente para tirar uma nota boa no ENEM?) tende a te deixar ansioso (e é por isso que pesquisas sugerem que o centro do cérebro ligado às nossas memórias tem papel importante no controle da ansiedade).

Mas e aí? O que fazer quando a ansiedade ataca? Como controlar? Algumas pessoas acabam recorrendo aos remédios. Apesar de serem necessários em casos extremos, os remédios de controle de ansiedade (os chamados ansiolíticos, mais especificamente as benzodiazepinas) têm um efeito muito parecido com o de drogas tipo heroína e maconha, e podem ter efeitos colaterais indesejáveis (além de causar uma certa dependência). O que esses remédios fazem é dar um gás nas ações de um neurotransmissor chamado GABA (ácido gama-aminobutírico) que ativa a produção de dopamina no seu cérebro (o que te dá a sensação de calma e tranquilidade).

No entanto, você pode tentar controlar a sua ansiedade com algumas atividades que não envolvem necessariamente a ingestão de remédios. Ansiedade é quase sempre causada por um estado de incerteza. Tudo que você puder fazer para diminuir esse estado de incerteza, vai contribuir para diminuir a ansiedade. Algumas dicas:

Planeje de maneira detalhada as suas ações. Muitas vezes queremos fazer alguma coisa, mas não sabemos se vamos conseguir fazer. O ideal nesse caso é detalhar o máximo que puder os passos que precisa até chegar no objetivo final. Por exemplo, imagine que você queira aprender a programar em Python. Se você colocar "aprender a programar em Python" na sua lista de coisas pra fazer, você pode nunca conseguir "alcançar" esse objetivo até por que isso é algo difícil de mensurar. E essa incerteza causa ansiedade. O que você pode fazer nesse caso é listar sub-tarefas relacionadas a "aprender Python" (e.g., "ler sobre como instalar Python na minha máquina", "ler 10 páginas sobre o que é uma interpreted language", etc.). Completar essas sub-tarefas vai te trazer uma sensação de progresso e uma incerteza menor. E isso vai contribuir para diminuir sua ansiedade.

Descreva (não interprete) seu ambiente. Ansiedade muitas vezes é causada por "ameaças" que "achamos" que temos no nosso ambiente. Qualquer pessoa ciumenta sabe disso. Se seu/sua namorado(a) não te responde no WhatsApp, você já começa a pensar que ele/ela tem outra(o), te odeia, não quer mais te ver pintada(o), etc, sendo que o único fato que você tem é que ele/ela não respondeu sua mensagem. Só isso. Para evitar essas "viagens" que causam ansiedade, escreva (isso mesmo: pedaço de papel e caneta) o que de fato está acontecendo. Fazer isso vai te ajudar a perceber os fatos que você não perceberia de uma outra maneira.

Converse com pessoas que já passaram por aquilo que você está passando. A gente tende a achar que tudo é pra sempre: a bad é pra sempre. Não saber programar em Python é pra sempre. Não conseguir entrar na universidade é pra sempre. A gente esquece que as pessoas que estão bem hoje já estiveram na bad um dia. Pessoas que sabem programar em Python não nasceram sabendo isso e as pessoas que estão na universidade já estiveram fora dela um dia. Converse com essas pessoas pra notar que nem tudo é pra sempre e que, apesar de você não saber algumas coisas agora, com um planejamento e engajamento, você pode conseguir o que quer.

Tenha pessoas positivas à sua volta, mas nunca se compare a elas. Nós adoramos nos comparar às pessoas. E isso é uma das principais fontes de ansiedade. É importante ter pessoas motivadas, positivas e felizes à nossa volta (nós somos bons em copiar o que as outras pessoas fazem. E copiar atitudes positivas é uma coisa boa). O que não pode é achar que você deve ser igual a elas. Pegue dessas pessoas apenas as motivações e não as particularidades (e.g., se uma pessoa está super motivada para aprender a tocar piano, copie dela as técnicas de motivação, e não a vontade de aprender a tocar piano).

E por fim, faça exercícios. O mesmo neurotransmissor que é ativado quando tomamos ansiolíticos (o Ácido gama-aminobutírico) é produzido quando fazemos exercícios. Temos também uma grande produção de substâncias como a dopamina, serotonina e norepinefrina, todas elas importante na regulação da nossas emoções. Quando se sentir ansioso, faça uma caminhada ou algum outro tipo de exercício físico (a propósito, sexo também conta).

Anxiety is a bitch. Entender um pouco como essa coisa funciona na nossa cabeça pode ajudar um pouco no controle da nossa ansiedade. E no final das contas, sempre busque ajuda profissional se sentir que a ansiedade está atrapalhando muito o seu cotidiano.

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