/um oceano de b1ts (ou só um gole de água salgada)

André Minei
/desencanto
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3 min readMay 9, 2018

Mesmo que se passe uma vida imaginando, estudando, observando o mar; não se pode vivenciar sequer parte da experiência de estar nele sem entrar nele de fato.

Para um primeiro mergulho, porém, o alto-mar é bastante arriscado. Por isso, chegamos pela praia. Primeiro, molhando os pés. A água, fria e inconstante, intimida. Somos tomados por uma agitação, hesitamos algumas vezes para, só então, dar nossos primeiros passos num universo tão diferente. É dessa forma que se apresentou a computação nesta trajetória: um cenário assustador visto de fora, mas que só poderia ser explorado com experimentação. Estavam para ser dadas as primeiras braçadas num mar imenso.

Fica claro, como no paralelo traçado acima, que existem formas mais e menos indicadas de se iniciar uma empreitada como essa. Com alguma pesquisa, hoje muito facilitada pela internet, tutoriais, vídeos, e portais dedicados ao tema, não faltam recursos. E o primeiro desafio é encontrar a plataforma para o início do caminhar: uma linguagem de programação simples, mas poderosa o bastante. Neste caso, por se tratar da jornada de um designer, iniciante no ato de programar, a acessibilidade e visualidade são grandes fatores. A resposta se deu pelo programa Processing*, na linha do creative coding (programação criativa), com a seguinte premissa:

Para que se pudesse de fato haver espaço para o design, foi necessário assumir e entender nova postura frente ao projetar códigos de programação. O universo da programação de softwares é cheio de regras, sintaxes e engenharias enraizadas. Tais regras fazem sentido em certas ocasiões, mas no fluxo de criação, na composição de afetos, muitas não condizem. Foi preciso aprender um modo de instituir espaço liso sobre todo este estriamento. Aprender a utilizar a repetição, a randomização e a lógica como meios de incitar a emergência da peça. (ZANOTELLO, 2012, p. 40)

Não se pode negar a importância da teoria. A Informática, um campo extremamente vasto, que se apoia principalmente na Matemática (outro campo de imensurável extensão), seria impensável e impossível sem as teorias que a embasam. Entretanto, numa jornada como esta, de experimentação, fez-se necessário, por vezes, deixar a teoria de lado e lançar-se à prática. É como a situação da entrada no mar: por mais que se explique o desconforto em respirar daquela água, não haverá lição melhor do que o primeiro gole salgado, e o engasgo intragável. Ugh.

Seria inocente dizer, levados pela categorização em linguagens, que programar é como conversar. Trata-se de um diálogo, mas não como os nossos, entre humanos. Nos primeiros exercícios, começa-se a perceber: é mais parecido com um jogo. Um jogo em que se dita as regras, passo a passo, e quem “joga” é o computador.
As instruções vão em blocos, como, por exemplo:

  1. desenhe um ponto amarelo brilhante no meio da tela;
  2. mais abaixo, insira uma linha horizontal azul que vai de um lado a outro;
  3. depois, inclua um pequeno círculo vermelho;
  4. faça com que esse círculo se mova;
  5. faça-o quicar nas bordas da tela.

Com o uso de alguma imaginação lúdica, temos uma praia, e a bolinha para o frescobol. Uma partida e podemos voltar a nadar.

um brinde ao acaso

Contudo, depois é que se percebe: realizar tais exercícios é como nadar numa piscina. Não há ondas nem maré, a água é agradável e sua profundidade é conhecida. Só ao coletar, alterar, recombinar códigos, passa-se a experienciar; ou seja, mergulhar, de fato, nesse mar de bits. E nesse ponto os programas de código aberto (software livre, ou opensource), como o Processing e Arduino, são especialmente férteis. Usuários de diversas partes do mundo contribuem, diariamente, com códigos livres em fóruns e redes sociais de desenvolvedores como o GitHub ou Instructables, e se ajudam na solução de problemas com relação a eles — numa colaboração inédita na história.

Programar nunca foi fácil, mas está mais acessível do que nunca.

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(*) Processing | Programa de código aberto que utiliza uma adaptação da linguagem Java para projetos essencialmente visuais.

esta é a terceira parte do relatório de /desencanto, instalações interativas — orientação: prof. dorival rossi

próxima parte: /dos bits aos afetos

mais em: @o_desencanto

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