Anunciado como doutor, ministro da Educação não tem doutorado

André Raboni
4 min readApr 8, 2019

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Abraham Weintraub é agente do mercado financeiro e novo Ministro da Educação. Foto: reprodução

Parece vício do novo governo anunciar currículos que não existem. Se por um lado desprezam a pesquisa e a vida acadêmica, por outro inventam títulos que só existem na cabeça deles e em cima de pés de goiaba. Primeiro a ministra Damares Alves informou que tinha um “mestrado bíblico”. Depois o ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, foi pego mentindo sobre ter estudado em Yale.

Agora o novo ministro da Educação foi anunciado por Bolsonaro, com toda pompa, como “doutor, professor universitário e possui ampla experiência em gestão”.Mas no currículo de Abraham Weintraub não consta nenhum título de doutorado. Também não consta nenhuma experiência em gestão educacional. No Escavador, informa apenas que ele é mestre em administração (finanças) e tem um MBA executivo.

Ou enganaram o pobre do presidente Bolsonaro, ou o presidente Bolsonaro está querendo enganar os pobres dos brasileiros.

O que qualifica o novo ministro é, na verdade, ser mais um discípulo de Olavo de Carvalho e militante (sem ideologia, claro!) de direita (como informou a Folha de S.Paulo e o Globo). Inclusive o acordão da demissão de Vélez já estava preparado e todos os alunos de Olavo serão readmitidos nos cargos que ganharam no Ministério da Educação (leia aqui). Além de olavista, Abraham Weintraub é agente do mercado financeiro sem nenhuma experiência em gestão educacional.

Bolsonaro se elegeu prometendo um ministério “técnico” e “sem ideologia”, mas nomeia mais um seguidor de Olavo de Carvalho e agente do mercado financeiro sem experiência como gestor Educacional para o Ministério da Educação.

Curiosamente, este fim de semana Bolsonaro tuitou uma gargalhada em cima de mais uma pesquisa que mostra o derretimento de seu governo.

Pesquisa aponta que Bolsonaro é considerado o menos inteligente quando comparado a Lula e Dilma

É possível que Bolsonaro não tenha entendido do que se trata o item da pesquisa que ele reproduziu, tamanha sua falta de inteligência.

Outra pesquisa, da XP Investimento, mostra que o otimismo do mercado com o governo de Bolsonaro despencou vertiginosamente. Em dois meses, subiu de 3% para 24% dos agentes do mercado financeiro que consideram o governo Bolsonaro Ruim ou Péssimo. E despencou de 70% para 28% as avaliações de Ótimo ou Bom.

Avaliação de Bolsonaro entre agentes do mercado despenca

Bolsonaro vai rolando ladeira abaixo e com ele algumas cabeças, como a do trapalhão colombiano Vélez Rodríguez, demitido nesta segunda-feira (8) do MEC.

Não foi por acaso que Bolsonaro indicou, agora, mais um agente do mercado financeiro para seu governo. A notícia deve dar uma acalmada temporária nos ânimos do mercado, cada dia mais decepcionados com o que ajudaram a colocar na presidência.

Mas quanto tempo isso dura, ninguém sabe. Com a quantidade de trapalhadas do governo Praça é Nossa, deve durar menos do que uma barra de gelo em baixo do sol.

Abaixo segue o currículo do novo ministro:

Professor da Universidade Federal de São Paulo, Mestre em Administração na área de Finanças pela Faculdade Getulio Vargas (30 de outubro de 2013), com a defesa da dissertação: “The Performance of Open-end Brazilian Fixed Income Mutual Funds for Retail Clients”. Orientador: Professor Doutor Arthur Ridolfo Neto. Obteve um MBA Executivo Internacional (Mestrado latu sensu em finanças) pelo OneMBA, cursado entre 2002 e 2004, com título reconhecido pelas escolas: FGV/Brasil, CUHK/China, RSM/Holanda, UNC/USA e EGADE-ITESM/México. Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade de São Paulo (1994).

Executivo do mercado financeiro, com mais de vinte anos de experiência, tendo atuado como Sócio na Quest Investimentos, Diretor Estatutário do Banco Votorantim, CEO da Votorantim Corretora no Brasil e da Votorantim Securities no Estados Unidos e na Inglaterra, além de ter sido economista chefe por mais de dez anos. Foi membro do comitê de Trading da BM&FBovespa; conselheiro eleito da ANCORD; Membro do Comitê de Macroeconomia da Andima; Representou o Votorantim nos encontros do FMI e do IDB. Tem artigos publicados ou entrevistas concedidas a vários jornais e revistas, tais como Valor Econômico, Veja, Época, IstoÉ, Estadão, etc. Publicou uma série de papers na Revista Brasileira de Previdência e na Revista Chilena de Derecho y de la Seguridad Social de la Universidad de Chile.

Atualmente também é o Diretor Executivo do CES (Centro de Estudos em Seguridade) e em 2016 coordenou a apresentação da proposta alternativa de reforma da Previdência Social formulada por professores da UNIFESP.

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André Raboni

Analista de comunicação digital. Graduando em Análise e Desenvolvimento de Sistemas. Historiador e Tricolor do Arruda.