gravidez: expectativa x realidade
Eu achei que seria essas grávidas da timeline alheia (a grama da vizinha é mais verde), essas gentes que a gente vê no Instagram e até perde o fôlego.
Achei que seria aquelas super ativas, que a barriga ia começar a aparecer no 5° mês, que iria treinar todos os dias, manter o mesmo ritmo esportivo, que seria super disposta, magricela só com barriga, ia meditar, fazer yoga, correr, saudar as deusas, dançar na chuva, jogar purpurina pro alto, vomitar arco-íris.
Meu cu.
Atividade física:
Eu estava no Pilates fazia bons meses e quando contei pro professor ele começou a me tratar como doente, não deixava fazer nada, colocava umas molas que as minhas atuais colegas de hidro (de 90 anos) ririam se vissem, me tirou os divertidíssimos aéreos. Agüentei um mês nesse marasmo e troquei o exercício físico por um freela porque precisava pagar uns luxos ~aluguel, luz, sasmerdas ~ e ao invés de manter o peso, engordei loucamente, tipo 5 kgs por mês, durante o freela.
Quando o freela acabou (2 meses depois) eu pensei, agora vai. Vai sim, vai pra França passar 15 dias mergulhando em delícias, abraçando todo carboidrato que sorrisse pra mim. TODOS SORRIRAM.
Voltei e me matriculei na hidroginástica, que foi, olha, um saco. Por mais que a professora fosse ótima, a água ótima, minha vontade de ficar pendurada no espaguete flutuador era -32. Minhas coleguinhas eram brancas burguesas que falavam comigo assuntos sobre gravidez, closet de sapatinhos do bebê e todas as coisas horríveis que acontece quando um bebê resolve sair pela xoxota ao invés de uma cesárea.
Eu queria correr. Isso, correr no parque, sentir o suor escorrendo pelas costas, ventinho gelado, músculos fritando. Mas já não dava mais, já estava muito grávida. E muito gorda. Sim, gorda. Aaaaah, mas vc tá exagerando. Não to não. Eu tinha passado dos supostos 10 quilos que eu poderia ganhar na gestação toda já no 6° mês.
Aí comecei Yoga na Casa Angela, onde supostamente eu iria parir. Durou um mês, a professora fraturou a coluna, eu fui passar as festas de final de ano no sul e quando voltei não estava elegível mais pra parir lá (mas isso é outro post). Voltei e descobri numa consulta que eu tinha engolido outra grávida. Me restava hidroginástica, porque só de pensar em exercício físico me fadigava. PUXADO.
Corri pro SESC porque era mais barato e nessa altura do campeonato eu já tava mais dura que pau de tarado no Parque Ibirapuera. O bom do SESC é que é estrumbado e acabo passando desapercebida até tirar barriga pra fora da água. Nessa hora eu viro pauta no vestiário e desulivre eu desejar que as véias caiam no box e fraturem o fêmur pra parar de falar, dar pitaco, me alisar, uma passação de mão… nunca fui tão apalpada na vida.
Alimentação (ou como se tornei plus size):
Confesso que tive preguiça de comer direito. Não era por falta de conhecimento, era a mais pura falta de saco e uma admiração constante pelos carboidratos e doces. Já tem gente me julgando “poxa, vc não conseguiu fazer nem isso pelo seu filho”. Migxs, eu já tenho um caminhão de culpas, não me coloquem mais essa. Ele que me escolheu pra ser mãe dele, que eu já to sendo super legal de não beber, não fumar, não usar doooorgas, suplementar a proteína, o ferro, a B12, a vitamina D, o cálcio, o magnésio, o Omega 3 e o raio que o parta. Não desenvolvi uma diabetes gestacional louca por que a Deusa não quis, porque ferramentas não faltaram. Sim, me senti culpada, mas já passou. Aí fui procurar uma nutricionista que me deu um cardápio super prático e fácil que eu segui por aproximadamente 20 dias, só pra ela não pesar (nos dois sentidos) no retorno. E depois eu confesso, houve dias que eu passei a base de homus e pão integral. E pulei o 3º lanche da tarde que era um suco verde horrendo com limão, que parecia mais bílis do que qualquer outra coisa.
Eu sabia que tinha que fazer 6 refeições por dia, eu trabalhei 3 anos com gastronomia saudável vegetariana, sou formada em fisioterapia, estudo sobre alimentação. Eu não precisava de consulta com nutri, precisava era de dois tapas na cara, ou um modulador de humor pra segurar a hipomania em níveis toleráveis pra não comer compulsivamente. Mas não tinha modulador coisa nenhuma (viu filho, sou super legal, não tomei essa bomba pra não te afetar). Tinha só um antidepressivo depois do 4º mês que servia muito mais de consolo do que pra fazer algum efeito.
Toda consulta com era a mesma merda: já falei que você não pode engordar 5 kgs por mês! Eu fazia cara de alface e entrava por um ouvido e saia pelo outro: FLON FLON FLON FLON FLON FLON FLON e eu continuava pensando nos pratos de pedreiro que eu ia mandar ver quando chegasse em casa. Vejam, eu não engordei porque comi só carbos, eu engordei porque eu comia 2 pratos completos com salada, carbo integral, proteina, etc. E doce. Muito doce. E uma friturinha quinzenalmente. Mentira, todo domingo comi pastel na feira.
Cuidados pessoais. Ou o que supostamente toda grávida deveria fazer de acordo com a nossa sociedade:
Eu deveria estar fazendo massagens relaxantes pra aliviar a coluna, drenagem linfática pra dar uma “desinchada”, acupuntura pra relaxar e acalmar, meditado, respirado, ter ido nos cabeleireiro fazer hidratação, reforçar a coloração, me depilar decentemente, comprar roupas de grávidas. Deveria ter ido numa esteticistas cuidar “dessa oleosidade exagerada que seu rosto tem”, ou então “dar uma cuidada nesse seu melasma gravídico que vai virar uma máscara de carnaval na cara”. Deveria também ter marcado massagens redutoras com produtos mágicos pra “dar uma segurada na sua celulite, que poxa, deu uma aumentada né?”. E comprado cremes caríssimos pra passar na barriga “porque você vai ter estrias”.
Desculpa sociedade, la plata acabou e só tá dando pra pagar o plano de saúde, a ração e as areia dos gato. Portanto teremos: sempre as mesmas roupas que ainda me servem, fotinho potchotcha mas real de gravidez, cabelo desgrenhado por não deu pra cortar nem hidratar, meu humor horrendo de sempre e uma barriga gigante. E é isso, a grama tá grande, não tá verde, eu tenho um metro e cinquenta e sete e engordei quase vinte quilos. Isso mesmo. Beijos de luz.