Procurando humanização na gestação
Algo muito raro ainda no Brasil, é encontrar profissionais humanizados, habilitados a tratar seus clientes como seres humanos e não mais um número, mais um parto, mais um procedimento médico.
O protagonismo da gestação e do parto é da mulher, portanto ao ouvir de um médico: eu faço parto normal (ou natural ou vaginal), saiba que ele não faz nada e sim a mulher. O médico é um mero espectador de um acontecimento biológico. O enfermeiro, o anestesia, a obstetriz envolvidos num parto deveriam ser apenas a plateia, quem faz, quem pari, quem dá a luz é a mulher.
Na busca por humanização pra esse momento muito importante na nossa vida e na vida do nosso filho, percorremos consultórios, clínicas, casas de parto, palestras, grupos de apoio, roda de conversas e descobrimos que na maior parte dos casos, a humanização passa longe, você é apenas mais uma grávida, que vai parir, e se tudo der certo, dentro da hora que o médico marcar. Outro lado dessa busca nos revelou equipes super humanizadas, menos pro bolso; boa parte desses profissionais atendem apenas de forma particular, e cobram significativas quantias para o pré-natal e acompanhamento no parto.
Mas o que é um parto humanizado? Bom, não existe o consenso da sociedade médica brasileira, até porque os órgãos dessa classe são totalmente a favor da reserva de mercado, mercantilização dos serviços de saúde, da especialização e bom, dessa forma não sobra espaço pra alguém pensar em humanidade.
Mas voltando ao conceito, a humanização nos serviços de saúde é basicamente tratar o indivíduo como um ser que tem medos, dúvidas, vontades, necessidades e acima de tudo, não é só mais um paciente. Na prática, isso significa um profissional que ouça seu cliente, que o compreenda, que respeite suas decisões e crenças, e claro, acima de tudo sem colocar a vida ou a saúde de ninguém em risco.
Nas práticas obstétricas, um parto humanizado significa que:
- o médico não marca a data do seu parto, muito menos indica uma cesária de urgência marcada pra dali há 3 dias
- o médico não precisa fazer exame de toque toda vez que você vai ao consultório
- a equipe de enfermagem não precisa fazer a tricotomia e o enema (raspagem de pêlos e limpeza do cólon intestinal)
- a equipe não pode proibir a gestante de se alimentar e se hidratar a menos que haja uma indicação real de cesária
- o hospital dá direito à parturiente de dois acompanhantes, podendo ser doula, companheiro(a), mãe, irmã, etc
- a mulher não é obrigada a parir na posição de litotomia
- o médico não faz episiotomia (prática já banida em diversos lugares do mundo como procedimento de rotina)
- o médico não faz uso de fórceps sem necessidade
- a manobra de Kristeller não é usada (prática proibida)
- o médico não dá ocitocina sintética (sorinho) sem real necessidade e por pura rotina, apenas para acelerar o trabalho de parto
- o médico não corta o cordão umbilical antes que ele pare de pulsar, exceto em casos de emergência (em que algo deu errado durante o parto)
- o bebê não vá pro colo da mãe logo que nasce, exceto em casos de emergência (em que algo deu errado durante o parto)
- o bebê não seja afastado por horas pra longe da mãe onde passará por exames, banho, higienização pra chegarem lindos e cheirosos
- as maternidades não podem dar fórmulas (de suplementação de leite) ou glicose sem autorização da mãe
- a enfermagem não insiste no processo de colocação de brincos
- e que finalmente qualquer pedido da mãe, desde que não coloque ela ou o bebê em risco, seja atendido pela equipe dentro dos limites da razoabilidade.
Existem outros pontos que geram discussão entre o partido humanizado versus a maioria dos médicos GOs:
- aspiração do bebê, mesmo em condições normais de nascimento
- verificação da perfuração anal com uma sonda
- verificação da perfuração estomacal com uma sonda
- aplicação do colírio de nitrato de prata mesmo que seja cesárea, ou ainda que seja vaginal em casos negativos de gonorreia e clamidia
- pesagem e verificação do tamanho do bebê assim que nascer
- tapa na bundinha (muitos dizem que é mito, mas eu tenho minhas dúvidas)
O fato é, eu não sou especialista em obstetrícia, sou apenas uma mãe com formação na área de saúde que passou os últimos 6 meses coletando muita informação, de fontes variadas. Não estou aqui pra convencer ninguém a virar militante da humanização, pra amamentar por 2 anos, pra fazer co-sleeping e muito menos pra evangelizar ninguém sobre o parto humanizado, afinal o filho é seu e ninguém melhor que a própria mãe pra decidir o que é certo e errado.
O único ponto que eu peço é: questionem seus médicos e suas equipes, tirem suas dúvidas, pesquisem e se informem, afinal, uma mulher empoderada é uma mulher plena e completa. Avante, minas! Bora gerar, parir e cuidar das crias!