Uma tensão de corda de violino

Angela Destri
3 min readMar 22, 2016

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Tenho pensado muito sobre o que significa “ser feliz”. Talvez por achar que já existam muitos clichês na minha vida, evito pensar sobre eles, mas esse não me escapa da cabeça. E vamos combinar: essa expressão — “ser feliz” — é o maior chavão já criado. E a grande dificuldade de se debruçar sobre esse conceito é que, mantendo-me nos lugares comuns, ele tem um significado completamente diferente para cada um. E temos a missão solitária de tentar descobrir qual é o nosso.

Não quero aqui criar uma teoria sobre o conceito de felicidade. Muita gente mais qualificada que eu já fez isso antes. E neste momento da minha vida, honestamente, também pouco me importa o que Tales de Mileto ou Kant têm a me dizer sobre o assunto. Minha questão sobre felicidade é muito mais íntima e pessoal do que isso.

Meu objetivo na vida sempre foi “ser feliz” (permanecem as aspas, porque não sei o que isso significa, não sei sequer se isso existe, e prefiro não me comprometer). Porém, tudo aquilo que acreditava que me levaria até lá perdeu o sentido, quase que de uma hora para outra. Tomou lugar a perspectiva de uma vida morna, que se perde na rotina, com um ou outro momento de alegria. E isso nunca me pareceu o suficiente.

Minhas frustrações com faculdade, trabalho, pessoas e até com o mundo em si me fizeram perceber que talvez estivesse sendo muito ingênua. Não existe isso de ser feliz o tempo inteiro. Viver é difícil. Somos obrigados a fazer uma série de coisas que não queremos simplesmente porque é assim que funciona. Devemos nos apegar àquilo que nos faz bem e relevar o resto.

O problema é que isso é muito, mas muito pouco para mim. E talvez nessa angústia de não saber o que vai acontecer daqui para frente eu tenha perdido meu norte e não saiba mais nem o que traz algum tipo de contentamento aqui e agora. Dias vêm e vão e nada de verdadeiramente positivo acontece. As frustrações do cotidiano, contudo, ganham uma dimensão maior quando percebo que essa aflição se estende ao ponto de me parecer que ela é para sempre.

E é por isso que tenho pensado tanto sobre felicidade. Não sei quem eu sou ou o que eu quero ou que eu espero da vida ou quais são as minhas possibilidades. Estou perdida e sinto que não importa para onde vou, nunca estou no caminho certo.

O resultado disso é um estado constante de irritação, mau humor e ansiedade. Qualquer coisa que dê errado, por menor que seja, parece o fim do mundo. Sou um copo cheio: mais uma gota e transbordo. Aplicando a metáfora à vida real, tenho chorado muito mais do que de costume. Logicamente, também desconto a raiva nas pessoas ao meu redor.

Não sei como ou quando isso aconteceu. Um dia acordei e estava assim, minha própria metamorfose. Contudo, não é necessariamente essencial entender como cheguei aqui. É sim fundamental descobrir como sair desse lugar. Para isso, preciso me cercar daquilo que me faz bem — o que quer que seja isso.

Aos 15 anos, descobri que escrever me ajuda a lidar com os fatos. Desde então, coloquei em palavras quase tudo o que me aconteceu. Era uma forma de, às vezes, simplesmente entender o que estava sentindo. Eram reflexões, desabafos, lamentos que nunca ninguém leu. Nem lerá, pois todos esses anos de literatura secreta perderam-se junto com o meu HD, no ano passado. Mas é melhor assim, porque aqueles textos eram bem ruins.

Fazia mais de um ano que não escrevia. Acho que é porque nem o maior e mais completo dicionário já publicado me ajudaria a entender esse amontoado de indagações que me tornei. Escrevo agora porque, mais do que nunca, preciso entender o que se passa e, mais importante, me lembrar constantemente do que me traz qualquer sinal de satisfação ou plenitude.

Transformar sensações em texto ajuda também a aliviar as dores, guardá-las em algum lugar que esteja fora de si, ainda que faça parte de si.

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Angela Destri

“meu ponto de vista em relação às honras é primário”