Keep calm and drink coffee

Angelica Nazaré
3 min readOct 14, 2018

Abri os olhos pela manhã e permaneci na mesma posição por uma hora e meia. A noite anterior foi demasiadamente cansativa e minha cabeça revisitava cada pequeno frame do que ocorrera. Eu achei que estava curada e que ao me deparar com meu passado as coisas fluiriam naturalmente. Mas não foi bem assim. Entre uma cerveja e outra, risos soltos e música alta meu passado surgiu na mesa. Eu paralisei, a boca secou e o coração quis gritar, sair correndo. É uma coisa muito louca rememorar as histórias que antes eram tão familiares e que agora soam mais do que estranhas, são desconhecidas.

Há 9 meses eu faço uma escolha por dia. Viver a vida da forma mais leve possível é a única opção. Sem culpas, sem desgastes com as pessoas. Nem todos entendem e especulam inclusive sobre o que eu deveria fazer ou sobre minhas reações, me julgam fraca devido ao meu tom de voz ou me colocam em um pedestal devido a essa “força” que acham que eu tenho. Mal sabem elas o turbilhão que está aqui dentro, minha lua e meu ascendente em Gêmeos são testemunhas.

Cerca de um ano atrás bordei dois quadros que hoje estão na minha cabeceira. Um deles foi encomenda para uma cliente que por mistério do universo não deu mais sinal de vida, deixando assim o quadro comigo. Ela tinha me pedido para bordar uma borboleta azul para uma amiga que tinha perdido alguém muito querido, acompanhando a borboleta uma frase “Todo dia é um recomeço”. O outro foi fruto de um desenho que tinha feito para uma feira feminista, trata-se de uma mulher com rosas fincadas em suas costas. Não há expressão no rosto da mulher, não há tristeza ou alegria, apenas suas costas com flores saltando delas. Fico me perguntando o que será que eu pensei quando desenhei isso? Tudo que consigo pensar é nessa coisa louca que é a vida e as escolhas que fazemos. Eu escolhi fazer das minhas dores um jardim em que eu possa olhar e lembrar do que me trouxe até aqui, mas que muito mais que tristezas (não sejamos hipócritas em negar as tristezas) que esse jardim me diga que eu tentei, eu fiz, eu vivi.

Depois de passado o susto de sábado, eu acordo pela manhã, espero uma hora e meia até os pensamentos se ajustarem, levanto, lavo meu rosto, afago minhas gatas, preparo ovos mexidos, pão tostado com geleia de pimenta e café preto puro e forte. Arrumo a mesa como se fosse receber visitas, mas ali só estão Gryffi, Sonsa, eu e o som da rua. Observo minha casa ainda sem pintura, minha cozinha ainda sem móveis, meus quadros e retratos na parede, os livros que já me fizeram rir e chorar, revejo minha lista de desejos e com o coração cheio de amor digo pra mim mesma que vai ficar tudo bem, depois do café eu vejo o que faço.

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