Casa temporária

Anthony Almeida
2 min readJun 8, 2023

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Viajei, cheguei e, por hora, quero deter o meu andar. Andar largo, que fique claro. Pelos estreitos da cidade nova, seguirei a caminhar. E muito.

Curitiba, seja o meu abrigo, me permita te explorar e me emaranhar pelo teu chão, teu céu e teu concreto enquanto me detenho em ti. Será um gosto te conhecer melhor. Sim, será!

Mas, calma… Ah, me desculpe a indelicadeza, Curitiba. Já cheguei te invadindo e, o pior, cheio de sonhos e desejos, planos e metas. Nem te consultei, né? Posso?

Desta vez, suponho que minha viagem não é de fuga… Só suponho. E, neste deter-me, desejo, entre muitíssimas coisas que desejo, ter um abrigo, uma casa. Ainda que temporária, faço questão que seja uma casa. Quero, ao fim das jornadas diárias, dizer aos meus convivas, meio cansado, mas tranquilo, que vou para casa.

Sim, casa.
Pode ser só um quarto, que seja.
Mas casa.

Hoje, durmo num hostel. Um quarto coletivo. O que, inicialmente, não é problema. Insistirei, entretanto, na feitura da minha casa temporária.

Nela, terei o meu quarto de dormir. Guardarei sobre os travesseiros — dois, pois é assim que eu gosto — todos os meus sonhos. Nela, deixarei o meu corpo adormecido — e vulnerável — por muitas horas. Nela, ficarei nu, tomarei muitos e longos banhos quentes, sentirei, depois, algum frio e me esquentarei sob o teto e as cobertas.

De um canto assim tão íntimo, espero não menos que ele seja, de fato, uma casa.

Curitiba, 19 de maio de 2023.

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Anthony Almeida

Geógrafo, professor e cronista. Pesquiso a Geografia Literária, escrevo e estudo a crônica brasileira. Doutorando em Geografia. Editor-adjunto da Revista RUBEM.