Sexta vida

Anthony Almeida
2 min readMay 21, 2023

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Se andar por aí é o que desejei para a minha vida, é bom que eu passe por muitas terras. Passarei. Passo. Curitiba é o destino da minha sexta vida. Caruaru. Recife. Presidente Prudente. Presidente Venceslau. Recife, de novo. Curitiba.

Vivo, na verdade, a minha quinta vida. Recife é a base atual. Curitiba será, provisoriamente, o destino dos meus passos por três meses. Um período de três meses é tempo suficiente para uma vida? A quantidade de tempo talvez não seja o melhor parâmetro para definir a vida. Quero vivê-la. É, portanto, assim que a trato: vida.

Esta sexta vida me vem emaranhada de fios que a interligam às vidas passadas. Chegarei a Curitiba de ônibus. Poderia chegar lá de avião, direto do Recife. Vou, contudo, de ônibus e de Presidente Prudente. O voo recifense me deixou no chão prudentino, onde passo uma temporada, há, neste chão, fios que me conectam às vidas pregressas, e sairá daqui o meu embarque para Curitiba. Dos fios ao frio. A experiência da frieza será a marca dessa minha vida.

Não sou afeito à numerologia, mas seria de uma coincidência interessante chegar à capital paranaense, neste pleno outono em que viajarei, e encontrar o termômetro marcando 6 graus. Até porque, além da sexta e do seis, há o meu ônibus. Guerino Seiscento, eis a empresa. Sei que a ausência da letra s, na parte do cento, é o que chama a atenção, mas fiquemos na parte do seis. Ou, em numerais, no 600.

Poderei ter, então, seiscento, sexta e seis. 666? Esse número significa coisa boa?

Curioso, olho a previsão do tempo: a estimativa é de que a cidade esteja sob uma atmosfera de 9 graus na manhã da minha chegada. Serei recebido, então, com um 669?

Presidente Prudente, 16 de maio de 2023.

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Anthony Almeida

Geógrafo, professor e cronista. Pesquiso a Geografia Literária, escrevo e estudo a crônica brasileira. Doutorando em Geografia. Editor-adjunto da Revista RUBEM.