O escritório de ontem para hoje. Ei, Don! O que foi que aconteceu?

Arealis Brasil
5 min readApr 10, 2017

--

Don Traper- Mad Men

Se o espaço de trabalho fosse um teatro e o funcionário um ator, poderiamos dizer que aquele ator, hoje pulou do palco onde atuava desde 1960 para interagir com o público.

O escritório, amplo e aberto em 1960, passou a ser compartimentado em cúbiculos nos anos 1970, para finalmente se tornar um conceito quase abstrato em 2017.

Ei, Don! O que foi que aconteceu?

1950–1960: o escritório aberto

A hierarquia espacial rígida, considerada um obstáculo para o bom fluxo das informações, é questionada.

O espaço de trabalho é um escritório grande e aberto, com mesas dispostas segundo uma lógica aparentemente fortuita. Os pontos de referência tradicionais, portas, divisórias e corredores desapareceram, e vasos de plantas permanecem os únicos sinais tangíveis de marcação espacial.

Mas no final dos anos 1970, aparece um profissional que nunca mais deixara o palco do mundo corporativo: o fornecedor de mobiliário de escritório.

1970: o « panel system » de Herman Miller

Work into the box!

Pesquisas de psicologia e de design levam a soluções de organização espacial diferentes, visando a desconstruir os ambientes sempre compartimentados, rígidos e impessoais, mas no mesmo tempo superando os inconvenientes dos grandes escritórios abertos. Esta revisão foi em grande parte impulsionada pelos fabricantes de mobiliário. De resto, a padronização das peças de mobiliário tende a privar os arquitetos do layout do escritório a favor da industria do mobiliário.

Significativa a este respeito é o sistema desenvolvido em 1968 pelo designer americano Robert Propst para a Herman Miller Company, o fabricante líder mundial de mobiliário de escritório. Ele projeta escritórios “reconfiguráveis”, pelo menos teoricamente, criando o panel system. Se trata de uma bancada ligada a um painel de meia altura, ele próprio ligado a duas outras divisórias do mesmo tamanho, de modo que a célula individual é aberta de um lado. Pela primeira vez, o conjunto mesa/paneis se torna parte da arquitetura, desenhando todas as circulações.

Com painéis em três lados, o modelo da Herman Miller respeita o “território pessoal” do funcionário. Mas são células pequenas dentro de locais fechados, com ventilação e iluminação artificial, e oferecendo uma organização funcional repetitiva que vem perturbar as referências espaço-temporais.

1980–1995: o « flex-office », ou « non-territorial office »

« Your office is where you are »!

Com o uso generalizado da computação pessoal e uma hierarquia que tende a ser mais horizontal, incentivando a iniciativa e o desenvolvimento individual, o espaço de trabalho exige mais flexibilidade e torna-se…um « self-service ».

Continua a célula de trabalho, mas de uso livre, sem contradição com o movimento e o fluxo tanto das pessoas como das informações. São os próprios funcionários que circulam em lugares especializados: trabalho individual, reunião, apoio técnico, armazenamento… Eles vão de um lugar para o outro, dependendo das tarefas a serem cumpridas. Pela primeira vez, o corredor se torna um ponto de encontro casual…e um espaço de trabalho!

  • Your Office Is Where You Are » (Philip J. Stone et Robert Luchett, professores da Harvard).

Aparecem na época indicadores de ocupação correlacionados a dispositivos de reserva cada vez mais complexos. Office Share, hoteling, just-in-time e coworking são termos cuja a modernidade não deve esconder a preocupação das empresas de qualquer segmento: o valor do m2.

1995–2017: o escritório se torna um « espaço para viver »

A supremacia das comunidades!

O modelo « self-service », que representou uma inovação radical nos anos 1980, hoje se banalizou. Dependendo do momento e das tarefas, o funcionário tem acesso a cabines individuais, salas de reunião fechadas ou espaços de trabalho colaborativo. Bibliotecas aconchegantes foram criadas, áreas de descompressão amplas e completas substituíram as « copinhas de café », fab lab foram implantados para estimular a criatividade e a inovação.

Qualquer espaço de circulação sendo um ponto de encontro potencial, as escadas e os corredores foram ampliados, mobiliados e melhor iluminados. O escritório de Arquitetura corporativa Arealis Brasil até desenvolve projetos com vias internas evocando as calçadas da cidade, oferecendo assim inúmeros pontos reunião informal.

Projeto Cetelem BNP Paribas — Arealis Brasil 2016

Para resumir: hoje o escritório deve permitir uma serie de atividades…incluindo o trabalho!

Não se trata de transformar o trabalho em hobby, nem o escritório em playground, mas de criar espaços promovendo a criação de verdadeiras redes de colegas, comunidades de usuários. Os jovens da geração Y, em particular, são motivados e produtivos quando trabalham em grupo. E para qualquer pessoa, gostar do trabalho, encontrar um equilíbrio entre vida profissional e pessoal dentro do espaço de trabalho, hoje é fundamental. Facilita a cooperação e a criatividade, aumenta a produtividade, e ajuda a manter os talentos dentro da empresa.

Hoje, o arquiteto corporativo não cria mais escritórios, mas sim, dinâmicas organizacionais quase independentes do lugar. Designer…e mestre de ceremônia!

Projeto Evino — Arealis Brasil 2016
Projeto Evino — Arealis Brasil 2016

--

--

Arealis Brasil

A Arealis é um escritório de arquitetura especializado em concepção e renovação de ambientes corporativos, atuando em São Paulo e no Rio de Janeiro.