Anos atrás visitei uma exposição de Anish Kapoor. Estávamos, uma amiga e eu, diante de uma das obras emblemáticas do artista indo-britânico, quando disparei: qual é o sentido disso?
Sem tirar os olhos da instalação de parafina vermelha, Roberta encolheu os ombros e, sorrindo, respondeu: deve ser fazer a gente sentir o que está sentindo agora.
A melhor explicação para algo que eu não entendia veio de alguém que entendia tanto quanto e formatou a máxima que me segue desde então: a arte, sobretudo a contemporânea, serve para instaurar dúvidas.
Foi diante de um autêntico Kapoor, portanto, que pude assumir com tranquilidade: eu não entendo nada de arte.
“Ué, mas você tem uma startup voltada para arte e não entende de arte?” — Foi o que alguém perguntou.
“É isso mesmo”, eu respondi.
Foi a partir dessa limitação que cheguei ao Artboom — eu queria aprender sobre arte sem ter que fingir costume. Então segui os conselhos da namorada: larguei a vida em agências de publicidade e pulei de ponta nesse universo.
Em tempos de animosidades e polêmicas em torno de exposições artísticas, nada é mais ignorante do que (tentar) encarar o mundo com o olhar de quem tudo sabe.
Portanto, se você olha para uma obra de arte contemporânea e sente que não entende nada, é importante dizer: está tudo bem.
Para apreciar o trabalho de um artista não é preciso entender. Sequer é preciso gostar do que se está vendo. Como bem disse Ana Hatherly, é o contexto que faz a arte. E não o artista.
Os únicos compromissos que deve-se ter ao contemplar uma obra de arte são com o que você está sentindo e com o respeito pelo trabalho do artista. Se ninguém foi ferido na realização da obra, acredite, ele merece.
Meu desejo com o Artboom, é ampliar o acesso a arte e aos questionamentos e emoções que ela traz. É aprender que além do belo, vale admirar o todo.
Parece piegas. Mas isso é libertador, sentimental, sensorial. São tempos complexos, e a arte contemporânea existe para deixar a coisa mais complicada ainda — suspeito que esse é o papel dela.
Você que entende ou não de arte , você que é artista há anos ou que está apenas começando, vai concordar comigo. A arte tem que estar em todo lugar: na sua casa, no seu trabalho e, por quê não?, na sua conta bancária.
“E dá pra viver de arte sem precisar de uma galeria ou de um marchand?” — Foi o que o mesmo alguém de antes perguntou.
“Claro que dá”, eu respondi.
Janu Schwab, ao lado João Morisso e do Daniel José, está construindo o Artboom®