Como não entender nada de arte mudou minha vida

A ignorância me garantiu um insight poderoso e transformou a forma como eu me via no mundo.

Artboom
3 min readNov 18, 2017
A instalação Svayambh no Musée des Beaux-Arts (KAPOOR, Anish © 2007)

Anos atrás visitei uma exposição de Anish Kapoor. Estávamos, uma amiga e eu, diante de uma das obras emblemáticas do artista indo-britânico, quando disparei: qual é o sentido disso?

Sem tirar os olhos da instalação de parafina vermelha, Roberta encolheu os ombros e, sorrindo, respondeu: deve ser fazer a gente sentir o que está sentindo agora.

A melhor explicação para algo que eu não entendia veio de alguém que entendia tanto quanto e formatou a máxima que me segue desde então: a arte, sobretudo a contemporânea, serve para instaurar dúvidas.

Foi diante de um autêntico Kapoor, portanto, que pude assumir com tranquilidade: eu não entendo nada de arte.

“Ué, mas você tem uma startup voltada para arte e não entende de arte?” — Foi o que alguém perguntou.

“É isso mesmo”, eu respondi.

Foi a partir dessa limitação que cheguei ao Artboom — eu queria aprender sobre arte sem ter que fingir costume. Então segui os conselhos da namorada: larguei a vida em agências de publicidade e pulei de ponta nesse universo.

Detalhes de “Svayambh” na Haus der Kunst. Metáfora aos trens que transportavam judeus aos campos de concentração (KAPOOR, Anish © 2007)

Em tempos de animosidades e polêmicas em torno de exposições artísticas, nada é mais ignorante do que (tentar) encarar o mundo com o olhar de quem tudo sabe.

Portanto, se você olha para uma obra de arte contemporânea e sente que não entende nada, é importante dizer: está tudo bem.

Para apreciar o trabalho de um artista não é preciso entender. Sequer é preciso gostar do que se está vendo. Como bem disse Ana Hatherly, é o contexto que faz a arte. E não o artista.

Os únicos compromissos que deve-se ter ao contemplar uma obra de arte são com o que você está sentindo e com o respeito pelo trabalho do artista. Se ninguém foi ferido na realização da obra, acredite, ele merece.

Meu desejo com o Artboom, é ampliar o acesso a arte e aos questionamentos e emoções que ela traz. É aprender que além do belo, vale admirar o todo.

Parece piegas. Mas isso é libertador, sentimental, sensorial. São tempos complexos, e a arte contemporânea existe para deixar a coisa mais complicada ainda — suspeito que esse é o papel dela.

Detalhes de “Blood” e “My Red Homeland”. Aquilo que somos e que evitamos ver. (KAPOOR, Anish © 2000/2003)

Você que entende ou não de arte , você que é artista há anos ou que está apenas começando, vai concordar comigo. A arte tem que estar em todo lugar: na sua casa, no seu trabalho e, por quê não?, na sua conta bancária.

“E dá pra viver de arte sem precisar de uma galeria ou de um marchand?” — Foi o que o mesmo alguém de antes perguntou.

“Claro que dá”, eu respondi.

Janu Schwab, ao lado João Morisso e do Daniel José, está construindo o Artboom®

--

--

Artboom

Somos uma plataforma digital com a missão de criar um ecossistema inovador para artistas, marchands, curadores e novos colecionadores de arte.