Cinco artistas visuais de Pernambuco para ficar de olho

ARTIKIN
5 min readJun 11, 2019

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por Guilherme Moraes

É com muita satisfação que estreamos, a partir deste texto, a parceria entre Propágulo — coletivo de novos realizadores das artes visuais em Pernambuco — e Artikin — coletivo em escala nacional de curadoria, conteúdo e experiência em arte.

Assim, apresentamos uma breve lista de novos artistas do nosso estado aos leitores deste veículo. Tendo em vista este recorte, que compreende momentos de experimentação e potência em percursos de pesquisas e amadurecimentos poéticos, é preciso perceber a importância em se fazer, pensar e falar sobre arte em geografias para além dos eixos e circuitos hegemônicos.

Grosso modo, estar em configurações diferentes das estruturações de sistemas de maior destaque e visibilidade no Brasil e no mundo confere ao que se produz em Pernambuco uma crescente atmosfera de colaboração. Isto não quer dizer, contudo, que esses artistas produzam juntos ou pertençam aos mesmos núcleos de parceiros, mas funciona enquanto indicador das possibilidades de resistência que se consolidam a partir do reconhecimento mútuo no outro.

↓ Conheça 5 artistas contemporâneos de Pernambuco

QUANTOS DIAS EU TENHO ATÉ QUE ME ACERTEM NA RUA?
fotoperformance, 2019
registro: Marlon Diego

Mário Miranda (Bros)

Trabalha com graffiti, lambe-lambe, ilustração, tatuagem, performance, fotografia e poesia. Trazendo em suas múltiplas linguagens uma coesão discursiva que parte de vivências e questionamentos seus enquanto homem negro, Mário pesquisa sua identidade através de seu corpo e das representações que faz de si. O leque de experimentos em seus autorretratos é grande, sendo muitos deles atravessados por camadas de abstração. Atualmente está com ateliê na Casa Soledade 37 e é participante do programa de mapeamento, difusão e potencialização artística nacional ArteSesc Confluências.

Sem título
performance, 2018
registro: Estúdio Orra

Aoru Aura

Dona de vários nomes incapazes de darem conta de sua mutabilidade, Aura, Auro, Maura, Aoruaura, se tornou indissociável de sua obra. Enquanto corpo sensível e que há muito se reconhece em meio a uma mescla de vida e performance, de trânsito e pesquisa, de expurgo, representação e absorção ininterrupta do mundo, a artista, que também trabalha com fotografia, instalação e videoarte, é um convite à percepção de que se pode haver autorreconhecimento e propriedade de um corpo íntimo da incerteza. Compõe o novo casting da Garrido Galeria e está envolvida em um processo ainda secreto de longa-metragem.

quando foi que oxum virou sh1v4?
gif-registro-de-tela de trabalho de 2015 com link morto

biarritzzz

biarritzzz, avatarônimo de Beatriz Rodrigues, é artista de novas mídias e que, através de uma sofisticada ironia e do uso inteligente e cômico da tensão que provoca ou se apropria, aborda questões como corpo, instituição, Estado, raça, gênero, consumo e identidade. Atrelado a isso, em um trabalho metalinguístico ao veículo sob o qual se estabelece, biarritzzz faz uso da linguagem da própria internet e do meio digital para realizar seus GIFs, VJings e vídeos, construindo, assim, um terreno absurdo e remixado sob o qual habita.

Produziu o vídeo Pátria — em exibição na mostra Entremoveres, no Museu da Abolição, em Recife — em parceria com a Vampiras Veganas e, futuramente, estará em uma galeria virtual sexodissidente denominada KUCETA. Juntamente ao artista Aslan Cabral, realizou a pós produção e a aplicação de GIFs do clipe Felizes Eram os Golfinhos do cantor e compositor Edgar.

Doce, encardido
performance-ritual, 2018
registro: Talita Albuquerque

Abiniel João Nascimento

Pautando sua pesquisa na curadoria e na performance — e a partir delas, investigando também body art, videoarte, fotografia e outras linguagens transversais — , Abiniel João Nascimento é graduando em museologia pela Universidade Federal de Pernambuco. Traz, em seu trabalho, questões político-afetivas ligadas tanto às marcas de violência, quanto às possibilidades de insurgência que lhe atravessam. Junto a isso, o artista se debruça também sobre o ruído causado pela transposição do repertório visual que carrega de Carpina, município da Zona da Mata de Pernambuco, para a sua atuação em espaços marcados por lógicas urbanas de funcionamento. Em 2018 realizou a performance “Quanto Vale o Sangue de Quem?” na galeria MASSAGANA — Fundação Joaquim Nabuco, participou do X Único — Salão de Arte Contemporânea do Sesc (Recife/Petrolina — PE) e da exposição Atos de Mover (Galeria Capibaribe). Atualmente foi selecionado pelo Prêmio Eduardo Souza de Artes Visuais 2019.

Monóculos grátis. Contém corpos nus.
performance, 2017
registro: Lana Pinho

Cecília Gallindo

Está fazendo seu mestrado em arte multimídia na Faculdade de Belas Artes na Universidade de Lisboa. Formada em Artes Visuais na UFPE e em Filosofia na Universidade Católica de Pernambuco, a artista traz em seu trabalho o desejo de agregar afetividade e memória a espaços de trânsito de pessoas — estejam elas esperando o contato com alguma linguagem artística, como na galeria, ou não, como na rua, que para ela se configura enquanto a “a grande praça sofística para o afeto e o manifesto”.

Em 2015, juntamente com o artista Rafael Vascon, realizou “Liberdade: atributo humano indispensável” na Galeria Janete Costa, Recife. Já em 2016 performou “Corpo urbano: pele” com o artista Daniel de Andrade Lima na Praça da Encruzilhada, na mesma cidade. Neste último ano passou um período entre dezembro e janeiro na Triplice Fronteira (Brasil, Colômbia e Peru), nas cidade de Tabatinga, Letícia e Santa Rosa. De volta a Lisboa, vem desdobrando a viagem e seus registro em vídeos, desenhos, esculturas e textos na sua pesquisa sobre seu corpo habitante de fronteiras.

A todo instante, seja na rua, no museu, na escola, no centro de pesquisa, na conversa ou na situação, a arte acontece. Mas para que tipos de arte estamos com os olhos abertos? É fundamental que nos apropriemos das diferentes linhas de força que nos rodeiam sem sermos, contudo, localistas. Faz parte, diante de um processo de legitimação, que nos adensemos em nós mesmos e é um efeito natural que outros olhares se voltem para as discussões que desenvolvemos. Em rede, nos tornamos mais fortes. Através de parcerias, reconhecemos gosto naqueles cujas investigações tocam de alguma forma as nossas. Longe de ser solução plena — visto que são necessárias também outras instâncias na elaborada teia da vida e da arte, como políticas públicas de fomento, educação e mercado––, da coletividade, em escalas e intensidades variáveis, partem forças para o suporte à criação. Portanto, que muito se troque, se concorde, se discorde. Todo o cuidado às possibilidades de comunicação.

Guilherme Moraes faz parte da Propágulo, revista pernambucana impressa sobre artes visuais, onde atua enquanto curador, além de pesquisar processos de editoração e mediação cultural. É licenciando em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pernambuco, onde pesquisa curadoria educativa. Participa do projeto de extensão Núcleo Experimental em Curadoria (NEC).

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