The Murder of Crows

Arthur Soares
3 min readAug 12, 2015

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by Janet Cardiff & George Bures Miller

Uma das primeiras galerias que visitamos foi dos artistas canadenses Janet Cardiff & George Bures Miller com a obra “The Murder of Crows”. A instalação é dentro de um enorme galpão que é inteiramente forrado com um material que parece algodão e está lá para isolar o som de fora da galeria, mas também cria um ambiente completamente onírico.

No centro, uma “orquestra invisível” com alto-falantes apoiados em cadeiras e tripés, dispostos como uma mini orchestra, onde cada alto-falante toma o lugar de um instrumento. E no centro como destaque, uma mesa com um megafone que, de quando em quando, por ele escutamos a voz da Janet Cardiff.

Com sons de corvos, músicas que parecem que são para dormir, marchas pesadas, é como uma peça sendo apresentada, mas visualmente ela só acontece na sua imaginação. E isso é tão poderoso, o uso do som como uma narrativa, que faz a história ser completamente pessoal e intensa.

Logo me fez pensar no Bresson (do cinema) que descobriu as possibilidades sugestivas que o som tem de provocar imagens na mente do espectador, isso se prova nos seus filmes e nessa obra também.

“Quando um som pode substituir uma imagem, suprimir a imagem ou neutralizá-la o ouvido vai mais em direção ao interior, o olho em direção exterior”

Essa obra é inspirada em uma das gravuras do Goya. Posteriormente ao vê-la, fez ainda mais sentido. A sensação que tive durante toda a “apresentação” foi de que eu estava dentro de um sonho acordada. E passava por vários tipos de sentimentos, alguns bons outros mais sombrios. A gravura de Goya é absolutamente isso, só que contado por imagem. Na gravura Goya está quase dormindo em cima dos seus trabalhos numa mesa, atrás dele morcegos e corujas como criaturas que assombram o quase sono, quase alerta Goya.

Um quase sonho, é como eu me senti naquele galpão com as paredes de algodão, questionando em que espaço eu estava e em que tempo, no presente dos meus sonhos ou na peça passada em que ali só sobraram as cadeiras e o som.

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Arthur Soares

A Brazilian born, now Berlin based photographer. Head of Product at Envisioning. http://arthursoares.com