Minha mais nova viagem

Tudo sobre o meu primeiro ano como UX

Paulo Roberto
8 min readFeb 5, 2019
foto: Museu Nacional — Brasília

Já adianto que os principais desafios nessa nova jornada não foram as dificuldades técnicas, tecnológicas ou limitações da empresa. As maiores barreiras foram as próprias pessoas envolvidas nos processos. Lidar com pessoas e seus distintos interesses e momentos profissionais, foram meu maior desafio nesse início de jornada.

Correlato a isso, pretendo contar essa história de maneira diferente. Descrevendo minhas experiências usando uma referência bastante comum, provocando também um pouco de empatia nessa história.

Costumo dizer que um bom motorista, só é bom mesmo, quando sabe exatamente para onde está indo. Do contrário, é horrível a sensação de guiar sem saber o destino final.

Dirigindo para casa por exemplo, me sinto totalmente seguro e confiante, pois conheço todos os atalhos, buracos e dificuldades do percurso.

Você que dirige a muito tempo, sabe do que estou falando. O carro passa a ser uma extensão do nosso corpo. Conhecemos as distâncias do veículo e temos segurança para realizar manobras, sem calcular muito e por vezes, nós arriscamos sem pensar nas consequências.

Dependendo do dia até uso o GPS para fugir do trânsito. Mas já desacreditei o serviço do aplicativo várias vezes, mesmo sabendo que os cálculos e percursos oferecidos são muito mais assertivos do que a minha experiência de trânsito.

COMO ESTOU DIRIGINDO?

Depois de 8 anos trabalhando na mesma empresa, sentia exatamente a mesma sensação. Conhecia todos os processos, dificuldades e sabia passar pelas curvas da burocracia, visando sempre resolver os contratempos da melhor maneira possível.

A confiança e a experiência nessas situações, não eram tão positivas, como no exemplo do GPS.

Não exatamente estava crescendo profissionalmente, pois diversas vezes acabava resolvendo os problemas de maneira superficial, não me preocupava em entender o todo. Meu objetivo na época era tirar da frente e sair logo do trânsito.

Em meados de 2016, não me sentia mais confortável com a situação, os anos foram passando e muitas pessoas apresentavam suas ideias baseadas em seus repertórios cheios de “achismos” e vícios.

Claro que a experiência das pessoas envolvidas nos processos são importantes, mas esquecíamos completamente de ouvir os que mais se interessavam em nossos produtos, os usuários.

UM BOM MOTORISTA SE MANTÉM ATUALIZADO

No ano seguinte decidi mudar essa situação, comecei um curso de especialização na PUC-SP — Experiência do Usuário em Plataformas Digitais. Nesse período, pude compreender as principais diferenças entre a minha empresa na época e as grandes referências do mercado.

Processos, rotinas e profissionais. Tudo era completamente diferente da minha realidade. Pouco a pouco fui me encantando pelo processo de empatia, descoberta e investigação de requisitos baseados nos usuários.

Aproveitando esse mergulho, me provoquei a sair ainda mais da zona conforto que habitava. Comecei a frequentar palestras e workshops. Foi a partir dessas novas experiências que uma nova estrada se abriu.

O primeiro evento de UX que participei foi do Sketch. Saí do auditório, curiosamente conhecido como Sapato Laranja, extasiado. Sonhando e jurando para mim mesmo que daquele dia em diante nunca mais ficaria preso na minha inércia.

ESTRADA NOVINHA EM FOLHA

Na época estava entrando de férias e tinha decidido não viajar para correr atrás de oportunidades nesse novo mercado que estava cada vez mais perto.

Logo de cara fui chamado para a primeira entrevista. Só não sabia que essa seria a única oportunidade que teria durante as férias todas.

Continuei frequentando a PUC, levando para as aulas temas pertinentes a minha situação. Cheguei a receber ligações e perguntas sobre trabalho e disponibilidade, mas nada se concretizou.

Coincidentemente no último dia de férias, recebi uma ligação. Era do único lugar que eu havia feito entrevista. Fui totalmente sincero e honesto com a empresa e comigo mesmo.

Disse que estava disposto a abrir mão de um salário melhor pela oportunidade de trabalhar como UX Designer.

Na entrevista questionei sobre o cargo e vaga oferecida, pois comecei a perceber que algumas empresas não sabiam muito bem o que exatamente faz um UX.

Foi legal começar com esse tema pois o entrevistador, líder de UX, gostou da minha pergunta e ficamos mais abertos e desarmados para o restante da conversa. E finalmente Deus ouviu minhas preces.

CHEGUEI NA EMPRESA NOVA E AGORA?

foto: Torre de TV — Brasília

Já viajou para Brasília? Lá em algumas avenidas as pistas chegam a ter 5 faixas enormes. Muito espaço, carros em diferentes velocidades, mas o que chamou minha atenção é que a cidade não tem praticamente nenhum farol — semáforo para alguns, sinaleira para outros.

E o mais incrível: as pessoas lá respeitam as faixas de pedestres! Como não tem muitos semáforos, as pessoas precisam atravessar em algum momento e os carros (motoristas), precisam parar para que as pessoas possam atravessar com segurança. O espanto é que em São Paulo as pessoas não costumam respeitar.

Existem também muitas “tesourinhas” — trevos que se multiplicam dentro da cidade e que facilitam bastante o trânsito, deixando tudo muito mais rápido, dinâmico e sem grandes filas e cruzamentos. O oposto de São Paulo!

Transformando as cidades citadas no exemplo em grandes empresas, é gritante a diferença entre elas. A empresa brasiliense se planejou para desenvolver um produto de qualidade — pesquisou, ouviu e priorizou. Já a organização paulista, foi se atropelando e criando diversas novas possibilidades, sem saber o real impacto de novas entregas e qual a opinião das pessoas.

Esse era o meu sentimento nos primeiros dias de trabalho. Me sentia na empresa brasiliense, queria me encaixar logo no ritmo da cidade e dirigir com confiança, mas sabia que era uma questão de tempo.

HORA DE ACELERAR

Fui contratado como consultor para prestar serviços para outra empresa. Cheguei e me colocaram em uma mesa enorme, cheia de espaços vazios. Pouco a pouco as pessoas foram chegando, mas naquele momento era apenas eu: um motorista inexperiente e cheio de vícios.

Fui muito bem recebido pelo time de UX que logo me explicaram sobre como costumavam trabalhar. Mas também ressaltaram que eu entraria para uma equipe nova e diferente frente as outras equipes da empresa. Não entendi muito bem na hora, mas eles se referiam a metodologia de trabalho. Entrei para cuidar do aplicativo da empresa, uma nova equipe estava se formando e usaríamos metodologias ágeis para tocar o projeto. Ótimas notícias, pois estava tudo bem fresquinho na cabeça.

Só que não!

MELHORIAS CONTÍNUAS

Usando novamente o exemplo de Brasília, mesmo sabendo que a cidade era planejada e os carros se locomoviam de maneira bem fácil, tudo aparentemente funcionava bem. Mas ainda assim, foi possível observar ótimas oportunidades de melhorias.

Brasília não tem uma grande malha de metrô por exemplo. E as pessoas, o que falam sobre isso? Elas gostam de ficar em seus carros viajando grandes distâncias? Olha aí uma nova oportunidades pintando...

Na época o time fixo de UX da empresa ainda não utilizava processos ágeis. Dependeria muito do sucesso das primeiras equipes trabalhando já nesse novo formato e também da equipe do aplicativo, para que a empresa olhasse com bons olhos esse novo fluxo de trabalho.

No final de 2017 o aplicativo da empresa tinha acabado de ser lançado. Em 2018 o objetivo era dar continuidade ao projeto, garantindo a consistência da experiência e a qualidade escalável do produto.

Logo de cara fiz amizade com a P.O do projeto e isso foi muito importante, pois dependíamos mutuamente um do outro. Era de extrema importância essa parceria, porquê passaríamos o ano pesquisando e levando temas relevantes para as reuniões com os usuários, realizando sessões de Design Thinking para descoberta de novos insumos, alinhando e priorizando diretamente com nossos clientes e usuários.

Na sequência fiquei próximo do desenvolvedor front-end, também precisávamos ter um bom relacionamento, pois trocaríamos figurinhas constantemente. Faltava encaixar uma parceria com o desenvolvedor back-end. Foi nesse momento que o abismo se abriu.

Tivemos alguns problemas de percurso com nosso Scrum Master, que também era nosso arquiteto na época. E ainda era nosso desenvolvedor!

Não rolou nenhum stress ou grandes atritos durante o período, mas digamos que a equipe não estava na mesma frequência que ele, não rolou aquela química gostosa rs.

O SM estava um tanto desconectado da equipe e dependíamos muito dele para resolução de problemas. Esperávamos que ele fosse nosso organizador, zelador dos ritos do scrum. Ele deveria ser o nosso descomplicador de burocracias, mas infelizmente não conseguia exercer todas as funções de maneira satisfatória.

Não conseguimos encaixar a metodologia na nossa equipe. Na minha opinião, o SM estava sobrecarregado e não rendeu tudo que poderia render em qualquer uma das funções que lhe estavam empregadas. Entendi também que estava em outro momento profissional, diferente da maioria da equipe, que estava com fome de novos projetos e foco nas entregas.

Depois de muitas conversas e alinhamentos de expectativas, conseguimos retratar e criar diversos cenários para nossos stakeholders, curtos ou longos, objetivando sempre as priorizações dos usuários em linha com os prazos acertados com o mercado.

Resumindo, em 2018 realizamos 4 grandes entregas para o mercado e já temos um backlog priorizado até meados de julho de 2019. Foi um ano maravilhoso, cheio de desafios, noites sem dormir, mas chegamos aos nossos objetivos.

Nos próximos posts, pretendo detalhar cada entrega e seus desafios.

Obrigado e até a próxima.

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Paulo Roberto

Amo fotografia, trabalho como UX Designer no Bradesco com foco em agências, vindo de empresas como CCEE, BRQ, Editora Globo e Guia de Motéis.