#1 - EU SOU GORDO, CARAIO!

Augusto Assis
4 min readJan 5, 2016

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Nossa senhora! Só de escrever esse título eu já fiquei aqui pensando em cinco bilhões de coisas. Será que vão achar que eu só quero chamar atenção? Será que eu não tô exagerando? Será, será, será?!

Talvez você não faça a menor ideia de como as coisas acontecem na minha cabeça, então deixa eu explicar.

Meu pequeno problema com o meu corpo vem de muito tempo. A coisa mais antiga que eu consigo me lembrar foi uma ida ao parque aquático, excursão da escola, eu tinha 10 anos. Minha “namoradinha” da época virou pra mim assim que eu vesti minha sunguinha (não tem foto disso, grazadeus):

Não é que você tá gordo. Você tem uma barriga aí, mas é só fazer uma dietinha que você vai ficar lindo!

Ai, ai. A galera bota uns trauminhas na gente que eles nem imaginam, não é mesmo? Que droga de frase a se dizer pro seu namoradinho de 10 anos de idade, mulher!

Vários episódios desse aconteceram durante toda a adolescência. “Vai! Come mais pão!” minha mãe gritava quando uma camisa ficava apertada. Minha vó insistia que eu estava doente. Talvez verme. Os amigos que me viam sem camisa diziam que era só uma barriguinha de chopp, que eu deveria parar de beber tanto. E eu nem bebia aquela época. Pois é.

Na rua, ninguém ligava. A real é que eu sempre tive barriga, mas meus braços e pernas nunca seguiram o mesmo esquema. Então eu botava um moletom, uma blusa mais larga, e A LÁ, já sou parte da galera! Já sou lindo aqui ó — e sem dietinha!

Eu na minha postura perto de zero visitando a pinacoteca com a Bia. (2014)

Essa coisa de conseguir me camuflar é da hora e é uma merda. É da hora porque eu evitei um monte de comentário babaca durante esses anos. É uma merda porque quando eu tentava melhorar minha situação sempre tinha um pra falar “cê nem é gordo!” Como se eu precisasse chegar aos 200 kg. Era uma merda porque, na real, quando eu olho no espelho quem eu vejo é o Guto de verdade e o Guto de verdade tem uma barrigona (e pra ajudar uma postura péssima).

Por que eu tinha medo de escrever esse texto?

Porque eu sempre achei que escrever publicamente sobre o quão incomodado eu estava com o meu corpo e com os comentários de todo mundo me faria uma pessoa que caiu no jogo deles, que se deixou vencer e que agora vai perseguir o padrão bonitinho só pra poder se encaixar, ser feliz de novo, e que incita os leitores a fazer exatamente a mesma coisa.

Não é verdade. Eu quero fazer parkour — um esporte muito legal em que as pessoas saem pulando os muros da cidade igual o omi-aranha — e pra fazer esse esporte é recomendado fazer 50 abaixamentos e 25 flexões antes de cada treino, e eu nunca fiz esse número de flexões nem se somar os meus quase 20 anos. Então eu preciso dar um jeito nesse corpo aqui antes de tentar fazer qualquer coisa.

Tá. E daí?

Primeiro de tudo, eu quero aproveitar essa oportunidade maravilhosa pra declarar pra todas as pessoas que me fizeram me sentir um lixo, um nada, um ser-humano-desprezível-nem-um-pouco-atraente-sem-esperança-de-ser-desejado-por-ninguém, que vocês se fodam. Da hora fazer isso.

Agora a parte séria.

Em 2013 eu descobri duas coisas: um, que eu comia tanto por conta da ansiedade que eu tenho desde quase sempre; dois, que eu ia morrer com 17 anos por falta de qualquer vitamina existente e excesso de colesterol, triglicéridos e os caralho.

Me cuidei, emagreci. Quase com o corpinho padrão. O mais próximo que eu cheguei. Muito louco, hein? Como se isso fosse algo legal. Comecei a namorar e entrei pra um canal no Youtube super badalado. Minha confiança ficou melhor, e eu já não estava tendo mini ataques-cardíacos pela rua. Voltei a comer besteira.

Muita coisa aconteceu, perdi meu cuidado com a alimentação, com o sono, com exercícios, enfim, com tudo.

No mês de dezembro de 2015, meu pai comprou sete latas de leite condensado no mercado. Antes do Natal eu já tinha acabado com elas.

VAI SE FODER! Quem come sete latas de leite condensado num mês? Pra quê tudo isso?!!! E aí eu percebi que não eram só as latas. Tinham os miojos, e as pizzas, e as cervejas (agora sim), e os lanches, e os pasteis, e os patês, e os cafés com leite com 6 quilos de açúcar.

Nada de alface, tomate, maça, uva, QUALQUER COISA. E olha que eu gosto. Adoro um brócolis.

Então decidi mudar. Vou melhorar tudo isso. Assim que possível, fazer meu parkour. Não vou mais ter um treco no meio da rua e ter medo de morrer a fila do hospital sozinho. Não quero ingerir leite condensado que nem um viciado em cocaína.

Como não gosto de fazer nada sozinho, vou compartilhando cocês aqui meus pensamentos e no snap (oaugustoassis) o meu dia-a-dia, alimentação e tal. Vou compartilhando porque eu sei que lidar com isso sozinho é tenso, já tentei antes. Porque eu quero que gente babaca veja o quanto eles magoam as pessoas com seus comentários “pra ajudar a gente”. Porque eu tenho certeza que tem alguém aí fora que deve passar/ter passado pelo mesmo que eu — e porque a vaga ideia de alguém se odiando e sozinho aí no mundo já me deixa sem sono.

Augusto Assis — 19 anos, estudante de marketing, taurino, dono do Canal do Guto no YouTube, que trata sobre as loucuras da vida adulta, porque não é fácil lidar com a vida sozinho.

Instagram: https://www.instagram.com/oaugustoassis/

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Augusto Assis

o aquecimento global já está acontecendo. apenas alguém que, como humano, depositou toda sua fé em ajudar em um problema que parece sem saída.