Maia
Maia veio por que minha mãe gostava de um calendário maia que a gente tinha em casa; eu conheço Maia desde de o dia que ela nasceu. Na verdade… agora é conheci no passado né?
Cuidamos dela e da ninhada por algumas semanas. Eu olhava para a Maia e não conseguia enxergar um pitbull. Ela parecia mais um mamífero não identificado, mesmo quando comparada a seus irmãozinhos. Além disso sempre me estranhou seu comportamento: doida pra brincar e no convite mais indireto de tal, saia pulando para lá e para cá.
Ainda sim a Maia sempre te encarava de longe contemplativa com uma cara serena, e se você encarasse de volta, ela fingia que não estava te vendo. Como quem não quer saber de nada.
Minha namorada sempre dizia que a Maia parecia sempre preparada pra falar alguma coisa… algo como “Peidei” e agiria como se nada tivesse acontecido. E ela realmente fazia questão de botar a bunda no seu pé e encher de peido
Mas eu realmente sentia que ela queria muito falar alguma coisa, considerando a maneira que ela franzia a sobrancelha para interagir com a gente.
Deitava e jogava as pernas para trás parecendo um sapo, minha mãe chamava de “esfinge”. Maia não se limitava ao contrato social do bom cachorro e nem do pitbull raivoso. Não olhava de cara feia, ficava 99% do tempo quieta e se enxergasse qualquer bixo estranho, encarava de longe e ficava quieta.
Com uns oito meses já não crescia mais. Diferente de seu pai e sua mãe, Maia demonstrou seu diferencial se tornando um dos pitbulls mais compactados e aerodinâmicos da história: um design sem igual!
Mimada, mas ainda sim carente, Maia acompanhou todo o meu período de emancipação na sociedade. Deitada no sofá como se isso fosse coisa de cachorro, ela me assistiu maratonar a franquia Metal Gear Solid e Red Dead Redemption. Na verdade eu acho que a Maia assistiu uma boa parte dos processos que eu considero mais importantes da minha vida acontecerem.
Eu nunca estive preparado pra isso, não sei sequer se esse é o momento para dizer essas palavras, mas eu ainda sim sinto vontade de homenagear ela.
Nos últimos e súbitos dias eu acho que ela já tinha perdido a vontade de conversar com a gente; provavelmente já tinha sabedoria demais acumulada e não queria repassar ela. Na verdade ela só não conseguia expressar sua dor.
Acho que não tem moral da história aqui, dizem que esse tipo de coisa a gente tem que aceitar e não buscar lógica ou culpado no ocorrido. Não é o primeiro cachorro do mundo a nascer e nem o ultimo a morrer. Tampouco em minha vida.
Mas mesmo assim é diferente e sempre será, obrigado por estar presente na minha vida Maia. Que você esteja em lugar lugar melhor, soltando peido fedido e olhando pra todo mundo com aquela carinha de não sei se comento.
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