Sobre a Aprill Kepner

Barbara Benatti
3 min readMar 29, 2018

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A criação da personagem é um processo. Não é preciso conhecer a fundo a obra do Stanislavski para saber disso. Nem preciso ser uma especialista em interpretação. As vezes tenho vontade de ver Grey’s Anathomy do zero. E pegar personagem por personagem para entender a sua evolução. Não de criação de personagem, mas de como foi a sua narrativa até cair nas graças do público. O brilhantismo da Kepner não tem como não perceber. Ela era uma interna irritante, era unânime odiá-la. Não tinha como não odiá-la. E nessa trajetória, a fundamentalista religiosa perde a virgindade com o Jackson, perde e recupera a fé, aí se afasta do gatinho e se apaixona pelo guri da ambulância, que inclusive gerou o episódio mais besta da face da terra. O carinha da ambulância, Matthew, era da mesma religião que ela. Aí ficam sendo chatos, namorandinho na castidade e fecham a bobice com um pedido de casamento em um flash mob. Ow minha gente, vocês trabalham em um hospital! Existe tempo para isso mesmo? Enfim, voltando. Mais clichê e chatice para essa personagem: ela abandona, no altar, o gatinho da ambulância e foge com o Jackson, na chuva. O drama nunca colava, em cada temporada, uma nova tentativa. Sei lá em qual temporada, botaram a chata da Kepner para ser negligente em seus cuidados médicos, um paciente morre e ela é demitida. Depois recontratada por Derek Shepherd. Reprovou no exame de especialização, aí volta para a fazenda dos pais, Owen a busca e ela volta para o hospital. Porra, gente. Deixa essa chata para lá.

Aprill Kepner

Tudo relacionado a Kepner era chato. Shonda Rhimes adora uma tragédia, tem espaço para sofrimento em todos os níveis em Grey’s Anathomy. E nessas duas últimas temporadas, não tem mais paz alguma no coraçãozinho da moça. Pobre Kepner. Agora a questão da fé está cada vez mais latente. Eis então que Shonda bota a Kepner para ter uma gravidez complicada, o bebê morre minutos depois de nascer. Aí nessa vibe sem fé ela vai trabalhar no Iraque. A ideia era ficar uns três meses, mas ela fica 1 ano. De boba, alegre, chata e irritante, ela vira uma personagem triste, fria e misteriosa. Crise de fé, já disse isso? Ela volta do Iraque nessa crise com a fé, mas sendo fodalística-profissional no Trauma, nas Emergências, sei lá como chama a área médica. E somando a crise com Deus, uma crise matrimonial entre o casal Kepner e Jackson. Discussões longas e no meio do divórcio, eles engravidam de novo, nasce uma bebê fofa. Mas o clichê não pode faltar, o parto dela tem que ser diferente. Uma cesariana improvisada e sem anestesia na cozinha da casa da Meredith. Deus, como pode?! É essa Kepner, sem fé, que teve essa construção maluca. É essa personagem que vai sair. Tô muito puta, porque depois de quase 10 anos, comecei a gostar da Kepner.

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Barbara Benatti

Uns devaneios para poucas pessoas lerem. Sem pretensão, sem rigor e sem expectativas, tá?