O marketing (ruim) matou os trailers do cinema

Bia Ferronato
2 min readAug 27, 2019

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Sobre trailers de cinema, marketing de conteúdo idiota e experiência do usuário

fonte/créditos: cinemacao.com

Se você foi ao cinema ultimamente, deve ter visto que há pouquíssimos trailers tradicionais passando nas telas. A simples sequência de micro filmes (amadas por uns e criticadas por outros pela sua longa duração) está no seu fim. No seu lugar, há um tipo de conteúdo interativo chatérrimo que destrói a experiência do cinema e nos faz sentir nada mais nada menos que meros imbecis.

Sinto saudades de avaliar os trailers junto a minha companhia em uma silenciosa troca de olhares após o seu fim, que se traduzia em: “Uau, parece bom, hein?” ou “Nossa, que porcaria”. No lugar, joguinhos, “perguntas e respostas” e narrações infantilizadas descrevem os filmes como se não fossemos capazes de interpretar um vídeo por nós mesmos.

Para piorar, os únicos vídeos parecidos com os trailers tradicionais acabam sendo de um outro serviço ou produto. Os segundos iniciais de um possível faroeste se transformam em propaganda de um restaurante. Por mais que a qualidade das produções sejam boas, a óbvia “venda pela não venda” continua invadindo espaço como propagandas da antiga TV.

Existem dois problemas aqui: um é que essa estratégia de marketing de conteúdo, além de nos fazer de idiotas, está tão massificada no mercado que já não se diferencia de anúncios comuns. O outro é que, em um mundo de Netflix e Ifood, tirar as pessoas de casa é um desafio. Será que o dinheiro ganho pelos espaços de anúncios não acabam sendo muito caros à experiência dos seus próprios clientes?

O escurinho do cinema sempre foi uma escapatória à realidade: silêncio, apreciação, mergulho em emoções que ali ficam assim que as luzes acendem. Precisamos parar de invadir cada vez mais espaços preciosos com conteúdos massificados e que subestimam nossa própria inteligência. No lugar disso, deveríamos procurar soluções que focam no que é mais valioso, que conquista e retém: a experiência do usuário.

O que antes os trailers planejavam minha volta, hoje planejam meu atraso à sessão ou a escolha de um novo cinema. Poupe-nos de conteúdos facebookianos. Sirvam pipocas melhores.

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Bia Ferronato

Brand & Business Strategist | @ Medium, I like to share my views on life/work experiences, brands, marketing trends, business solutions, art and even politics.