ainda é sobre ele mesmo: come back to me (RM) — reinterpretações

beatriz amaro
4 min readMay 12, 2024

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Este texto faz referência às primeiras impressões que tive de Come back to me, leia-as antes.

Enquanto há gente pensando, a arte é infinita, pois é claro que uma mesma obra pode ganhar novos significados em nossas vidas conforme o tempo passa e vivemos experiências diferentes, disso já sabemos. Comigo, inclusive, acontece muito, o tempo todo mesmo, por isso evito cravar um sentido único nas coisas que me tocam, já que sempre há algo pra redescobrir ou reformular. O curioso dessa vez, porém, é que mal deu tempo de processar tudo que senti pra sentir de novo: só se passaram dois dias.

Mas Come back to me me deixou obcecada e quase monotemática; cheguei a pensar nesse MV até durante o sono. Também, não era pra menos, eu juro que posso justificar: faz exatamente dois meses que finalmente abri a porta.

A porta, nesse caso, não era essa pra dentro descrita aqui, não! Essa, ainda bem, já me acostumei a abrir de tempos em tempos. A porta que abri há dois meses, na verdade, era uma porta pra fora de um cenário até que legal, eu diria, ideal pra muita gente, mas ao qual eu já não pertencia mais.

Tal como Namjoon (ou RM, que não coincidentemente é um acrônimo para Real Me, sempre bom lembrar), passei novamente pelo processo de me perder, me procurar, me encontrar, me ouvir e entender comigo mesma que precisávamos voltar ao caminho, o script não tava fazendo a gente feliz.

Como não pensei nisso sozinha, eu preciso, é claro, dar os devidos créditos, porque tenho a sorte de ter uma irmã não só de sangue, mas também de alma, que compartilha de muitas das paixões que eu tenho; música, BTS e Kim Namjoon são algumas delas. Depois de uma leve discussão, tive que dar o braço a torcer: a porta de Come back to me pode, sim, ser uma porta pra dentro de si, mas também pode ser uma porta pra fora, e talvez isso faça até mais sentido.

Na visão da minha irmã, o mundo externo de Namjoon é representado pelos corredores de um imenso estúdio, nos quais, diferentemente dos cenários montados, não existem papéis a serem cumpridos, onde ele pode ser ele mesmo. Nesse sentido, depois de explorar o seu interior, voltar pra si e ouvir com paciência o que seu eu verdadeiro tinha a dizer (da mesma forma que havíamos concluído antes), ele consegue ser melhor em todas as suas muitas versões, mas, mesmo assim, entende que é preciso sair de cena tão logo sua alma peça.

O estúdio, o lugar externo a todos esses cenários, pode significar apenas que Namjoon finalmente se livrou das vidas que não eram suas pra viver sua própria escolha, mas, pra mim, quando caminha nesse lugar infinito e sem saída em sua própria companhia, ele já entendeu que, afinal, talvez isso seja a verdadeira vida: um longo percurso sem fim visível composto por cenas diversas em que entramos para cumprir determinados papéis enquanto eles nos forem pertinentes e ir embora quando escutamos aquela voz dizendo que chegou a hora.

Adentrar alguns cenários é obrigatório, já outros é opcional. Cabe a nós ter sabedoria pra negociar com a vida sem perder de vista o mais importante — nós mesmos. É um passeio entre condições e possibilidades, inclusive de retornos. Faz parte.

Aqui também o ponto crucial continua sendo o mesmo de antes: ouvir nossa própria alma, já que é assim que encontramos sentido na nossa existência e para todos as nossas versões, sejam as do futuro, sejam as do passado.

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