não é sobre um outro alguém — come back to me (RM): impressões

beatriz amaro
4 min readMay 11, 2024

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Kim Namjoon, artisticamente chamado de RM (of BTS), costuma fazer Músicas — com M maiúsculo — muito reflexivas e particulares. Para nossa sorte e deleite, podemos vislumbrar um pedacinho de sua alma toda vez que ele nos entrega algo vindo diretamente do seu “rkive”, afinal, como Namjoon mesmo já disse, “eu quero ser um humano antes de fazer alguma arte”, e isso ele sempre nos prova que é.

É claro que Come back to me, seu mais recente lançamento, não seria diferente. Na verdade, o single é um desses valiosos pedacinhos que preenchem nossa compreensão sobre nós mesmos e sobre o mundo, mas embora se conecte com cada pessoa de uma maneira muito pessoal, peço licença pra publicar, despretensiosamente, a minha visão sobre a obra: pra mim, Come back to me trata, em essência, sobre o precioso encontro consigo mesmo depois de se perder em um terrível vazio de si. Vamos tentar elaborar?

Apesar da ausência de dados concretos, não me parece exagero afirmar que a maioria das pessoas no mundo já experenciou a falta de sentido na vida, a perda de si mesmo, o desespero do não pertencimento. No início do MV (music video) de Come back to me, é isso que encontramos: um Namjoon depressivo e apático que, enquanto segue seu caminho meio sem rumo, se depara com uma emblemática porta que não parece pronto pra abrir, já que ela guarda os demônios internos com os quais ele ainda tem um certo receio de lidar.

Ainda que não entre por livre vontade, porém, Namjoon é atirado para o seu mundo interior, onde precisa encarar de frente variadas versões de si mesmo vivendo possíveis desejos, passados não superados, arrependimentos ou até projeções dos outros daquilo que ele deveria ser. Tudo isso faz parte de quem é, são seus muitos eus, mas nada parece fazer sentido, de qualquer forma... Ele não consegue sentir que se encaixa em nenhum daqueles cenários e, por isso, foge em desespero por um corredor escuro, procurando um lugar ao qual possa pertencer.

Após fracassar algumas vezes em sua agoniada busca, Namjoon finalmente se vê em uma sala ampla e bem iluminada, com plantas e clima ameno (bem Namjoon core, quem conhece sabe), que não parece lhe exigir nenhuma fuga. A música se volta para uma melodia calma cheia de ternura e é bem aqui onde ele nota algo curioso: um alguém parecendo tão perdido e confuso quanto ele.

Intrigado, Namjoon muda seu foco intuitivamente, e sua procura deixa de ser pelo lugar certo para passar a ser por uma pessoa, essa mesma a quem viu perdida, essa, sim, que é ninguém senão ele mesmo, e é muito significativo que esse primeiro despertar pessoal tenha acontecido em um lugar tão confortável… isso nos diz algo, né?

Devaneios à parte, nesse encontro real consigo, não há mais angústia, há conversa e risada. Ele finalmente se achou, voltou pra si e, depois do que imaginamos ter sido bastante tempo, está ouvindo seus verdeiros desejos, paixões e tudo mais que sua alma tem a dizer.

No mundo externo, seu humor muda pra melhor e todas aquelas versões de si mesmo que ainda existem dentro do seu interior assumem seus papéis ao invés de permancerem como fardos. Os conflitos e arrependimentos do passado são resolvidos e Namjoon faz as pazes até mesmo com seus futuros possíveis ou impossíveis, sejam eles derivados de desejos genuínos ou externamente projetados (se é uma coisa ou outra, talvez nunca saberemos).

Mas se, agora que voltou pra si e decidiu ouvir sua alma sua vida tem novamente sentido, parece que não há mais nada a ser resolvido, certo? Ledo engano. Namjoon entende que, talvez ainda nos perdamos algumas vezes ao longo do caminho, mas tanto quanto quisermos ou precisarmos, podemos e devemos voltar a nós e nos ouvir com paciência e atenção, e isso é o que decide fazer depois de receber seu próprio convite de retorno.

Corajosamente, Namjoon abre a porta para mergulhar novamente em seu mundo interior, mas, dessa vez, conscientemente, sem aflição, simplesmente a passeio e junto de sua melhor companhia: seu verdadeiro eu.

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