Uma mulher, no meio de um mundo de homens.

Bia.
Revista Subjetiva
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3 min readAug 7, 2018
Trecho da música Woman, da Neneh Cherry

Num grupo de Facebook que faço parte, um questionamento: Homens, vocês sabem quando a mina que vocês estão transando gozou? A resposta era não, ninguém sabe. Espalhei a pergunta para alguns colegas e eles responderam a mesma coisa. Um, inclusive, tive que informar que o Clitóris não é só aquela pontinha, é mais que aquilo. Para mim, como mulher, é simples: O corpo da mulher reage da mesma forma que o do homem, ficamos cansadas, descarregamos todas as nossas energias naquela boa gozada. Temos sono, dá vontade de dormir. E a vagina fica seca, sensível, para esperar um pouco para recomeçar. Precisa de escuta, afinal nossos órgãos reprodutores são internos. Mas quem disse que querem fazer tal função? Fui perguntada estes dias como eu gozava (após transar com a pessoa, veja bem) e tive que explicar tim por tim algo que para mim é bem simples e visível.

Estes dias o menino que me deu o fora resolveu puxar assunto comigo no Zap. Depois de falar muito DELE e não perguntar nada sobre mim, me chamou para tomar uma cerveja. Disse que não podia, que a gente poderia ir NOUTRO DIA. Ele recusou, disse claramente que nos encontraríamos apenas na terça, dia de nossas aulas. Ele nem quis conhecer meu outro lado, aquele maravilhoso, emponderado e engraçado. Ele ficou com o registro antigo e tomou aquilo como verdade.

Levei 2 bolos estes dias. Um o cara me fez ir até o ponto de encontro, me fez esperar meia hora para dizer que tinha mudado de idéia, resolveu sair com seus amigos. Em nenhum momento ele me avisou, só me informou após eu ter perguntado se ali estava à toa. O outro me apareceu meia noite para dizer que seu celular tinha sido perdido. Depois, não respondeu a MINHA mensagem e ficou por isso mesmo.

Em todos meus relacionamentos, nos relacionamentos das minhas amigas, nos sexos ruins, a minha volta. No micro (o menino ficou comigo uma vez e depois não quis mais ficar), no macro (ele me bateu), no assédio, no aborto, no #porramaridos, na violência, na opinião sobre adoção, na não tentativa da mulher gozar, na não utilização da camisinha, na falta de cuidado, em tudo. Chego a conclusão, os homens não amam as mulheres. Eles não ligam para o que pensamos, para o que passamos, para o que fazemos.

A pergunta também é: Vocês rapazes amam verdadeiramente uma mulher que não seja a sua mãe?

Uma mulher que vai além do elogio relacionado a nossa beleza, algo além do “ela é gostosa”, vocês nos admiram? Vocês gostam mesmo da gente ou querem nos controlar? Procuram uma mulher emponderada para deixa-la para baixo, assim deixando sua autoestima lá em cima por finalmente poder sanar sua insegurança com a fragilidade recém posta nela? Vocês querem que sejamos suas parceiras ou que cuidemos de vocês, passem as suas roupas e façam sopa quando estão doentes?

Pensem comigo, qual mulher vocês acham incríveis? Não, não precisam responder “minha namorada” nem “minha mãe”. Quem vocês pagam pau? Quem vocês dizem que são fodas estes são seres femininos?

Vejo que nosso emponderamento os dá medo. Em algumas música e seriados pop, o emponderamento é mais um artifício para atrair mais macho em nossas vidas, eu já digo que não é e isso dá medo. Meu emponderamento é para conquistar o mundo. Não a toa que vejo homem pedindo para não ser radical, quando na primeira oportunidade nos dão tapas na cara para calarem a nossa boca.

Este texto é de reflexão de um turbilhão de acontecimentos que estão surgindo nesta semana, seja na minha vida, das minhas amigas e num âmbito geral que aparece na mídia. Neste caminho de poder e emancipação, vejo que cada vez mais sigo sozinha.

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Bia.
Revista Subjetiva

Ilustradora que dá bico de escritora. Não dou conselhos nem respondo cantadas. Gostou de algum texto meu? Comente nele.