A verdade sobre Bel Pesce

Bel Pesce
11 min readSep 2, 2016

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Muitos de vocês que acompanham o meu trabalho ficaram sabendo das acusações veiculadas nos últimos dias questionando a minha biografia. Tenho muito orgulho de tudo que construí, sobretudo da intensa troca de conhecimento com grandes empreendedores, jovens sonhadores e de todos aqueles dispostos a construir uma sociedade melhor. Por todos aqueles que me conhecem e me ajudam todos os dias a construir essa trajetória, resolvi relatar um pouco dessa história, desde os tempos de estudante do MIT até os desafios atuais. Não quero e nem vou polemizar, mas gostaria de poder contar, com minhas próprias palavras e com provas, essa minha jornada que está só começando. A grande maioria dos pontos levantados já haviam sido mencionados em algumas situações, e não eram segredos como foi feito parecer. Como nessas entrevistas de 2014 e 2016:

Todos aqueles que levam projetos adiante sabem que existem desafios nos percursos e que só você tem o contexto do que vive e das razões por trás das decisões que toma. A análise sem esse contexto é simplesmente uma interpretação rasa.

Se você se sentiu de alguma forma desrespeitado por não saber mais detalhes, peço desculpas e tomo a liberdade de explicar de forma direta e sem falsas modéstias, já que o ponto principal aqui é entendermos o meu currículo.

Estágios de faculdade

Me mudei para os Estados Unidos em 2006 com um visto de estudante, que dava direito a trabalhar durante os semestres na faculdade e durante os breaks em empresas. As reconhecidas Summer Internships são estágios — ou trabalhos de verão — em geral ultra-competitivos e altamente remunerados. Realçando que eles acontecem entre um ano de faculdade e outro, ou seja, em geral duram 3 meses.

Logo depois do primeiro ano, em 2007, fui selecionada para uma internship na Microsoft, em um programa bem único chamado Explore. O programa ainda existe e vocês podem conferir mais sobre ele clicando aqui.

E-mail convite da Microsoft
Equipe do Explore e mentores

Direto do texto do site, a Microsoft descreve o programa como “um período de 12 semanas no qual você terá enorme responsabilidade, propriedade do projeto e impacto”.

O Explore tem algo bem legal que permite você experienciar três papéis durante o período que estiver lá:

Você trabalhará em uma equipe pequena para completar um projeto para o seu grupo de produto pelo qual você ganhará exposição ao ciclo de vida do desenvolvimento de software e as nossas duas principais posições de engenharia de software (programador e tester).

"Em termos de remuneração, o Explore oferece salário competitivo, custos com mudança, treinamento, transporte e muito mais, como explicado na página da Microsoft."

Essa foi minha primeira experiência de Summer Internship e fiquei pasma com a quantidade de atenção e importância que os interns recebem. Nesse ano, fomos convidados para irmos à casa do Bill Gates e nós fomos. Sim, todos os interns foram chamados para um churrasco na casa do próprio Bill Gates. E tem mais um monte de coisas legais que o programa oferece, como explicado nessa matéria aqui, e também nessa aqui.

“Cada um dos estagiários têm a oportunidade de comparecer a um churrasco na casa do Bill Gates durante o verão, dividido entre 3 ou 4 tardes para garantir que não seja muito tumultuado, e todos possam interagir cara a cara.”

Durante o meu período de faculdade, usei cada break (tempo livre) de verão para trabalhar, pela experiência e também para ajudar a pagar as contas. Após o segundo ano, trabalhei como Program Manager Intern na Microsoft novamente, uma experiência totalmente diferente da primeira.

Depois do meu terceiro ano, trabalhei na Google, em um programa muito bacana chamado VI-A que já dava um pontapé inicial no meu mestrado, mesmo antes de terminar o bacharelado. Todos os detalhes desse programa estão nesse site do MIT.

“O programa oferece intensa mentoria educacional, estágios “estado da arte” como complementos a educação em sala de aula em empresas selecionadas que possuem um relacionamento a longo prazo com o departamento, e que entenda que nossos formandos são capazes de fazer uma contribuição real a suas empresas.”

É um programa também altamente competitivo, remunerado e técnico. O trabalho que desenvolvi na Google foi interno, um propulsor para o início do meu mestrado, que inclusive contou como crédito acadêmico. Naquele ano, também fui premiada com o Anita Borg Awards. A propósito, quem entrar no link vai ver que meu sobrenome final é Mattos, Pesce é o do meio, e nos EUA eles só colocam só o último.

E-mail sobre o mestrado na Google

Projetos

Durante a faculdade, trabalhei também em diversos setores do MIT e participei de vários projetos. Logo no primeiro ano, participei de uma competição de plano de negócios com o WaterAfrica que não foi para frente. Participamos da MIT 100K Executive Summary competition com ele. Esse projeto não tem relações com outros projetos de mesmo nome encontrados hoje na internet. Criei também diversos outros projetos, alguns para me aprofundar em habilidades específicas, como o Little Things para aprender mais sobre design, o WhatIf para me aprofundar em user research e o Talenj para aprender sobre gamification e social. Alguns desses projetos tiramos do ar, outros deixamos e outros modificamos e transformamos em outras idéias.

Por exemplo, Talenj foi antes uma plataforma colaborativa de produção de conteúdo, tínhamos criado uma maneira de fãs de marcas desenharem e participarem de campanhas publicitária e também de diversos desafios. Você pode ver as primeiras telas na imagem abaixo. Tiramos isso do ar e em vez de simplesmente deletar o site, o que ficou no ar foi apenas uma brincadeira de programador. Faz cerca de 5 anos que nem menciono a Talenj e foco em outros projetos. Aliás, foi uma memória bacana dos tempos de faculdade rever esses sites.

https://web.archive.org/web/20110929161152/http://talenj.com/

Formação

Quanto à formação, para mim, estudar no MIT era um sonho muito, muito grande. Eu queria aproveitar cada aula, parecia a louca das aulas. Em geral, alunos fazem 4 aulas por semestre. Eu não precisaria abrir esse nível de detalhe, mas segue abaixo todo o meu transcript, de todas as aulas que fiz, inclusive a nota que recebi em cada classe. Me graduei com média 4.5 numa escala de 0 a 5.

Clique aqui para conferir todo o meu transcript

https://s3.amazonaws.com/ebookco/IsabePlMattos+-+Grade+Transcript.pdf

Diplomas/Programas/Cursos nos EUA são diferentes do que no Brasil. Lá, existe a distinção entre Major e Minor. Como a própria palavra sugere, o Major é maior e completo, pode-se dizer que equivale a um bacharelado completo no Brasil. O Minor é mais compacto, mas não necessariamente mais fácil. Tem gente, inclusive, que em termos de tempo se dedica mais aos Minors do que aos Majors, até porque normalmente você decide por um Major pelo qual tem mais aptidão e o Minor por ser mais desafiador. Essa foi a experiência que alguns amigos meus que fizeram Minors em Biologia ou Chinês tiveram.

Eu me formei em 2010, com dois Majors e dois Minors. Um Major é em Engenharia Elétrica e Ciências da Computação e outro é em Administração. Uma ressalva: no MIT existe o curso só de Engenharia Elétrica e também o só de Ciências da Computação. Existe também um que é a mistura dos dois, com um volume de aulas maior que os outros e foi o que optei. Fiz também um Minor em Matemática e outro em Economia. Vejam o transcript e deêm uma olhada na quantidade de aulas feitas, inclusive muitas delas não focadas em minors ou majors. Até japonês eu fiz.

Agora que acompanhei as críticas, acho melhor sempre me certificar de explicar o que é um major e um minor, apesar da complicação disso e de não ter controle sobre todas as mídias. Se em algum momento, posicionar que tenho cursos em Engenharia Elétrica, Ciências da Computação, Administração, Economia e Matemática pode ter feito alguém se sentir ofendido, desculpe. Sempre que possível eu clarifiquei, mas de alguns milhares de vezes que eu tenha falado sobre o assunto, imagino que certas vezes realmente não tenha ficado claro, até mesmo porque é um assunto que não se explica em 1 segundo. Vou clarificar em todos os lugares que eu possa mexer, e vamos ter um trabalho redobrado com matérias escritas, pedindo que realizem mudanças sempre que necessário. Falarei claramente, pois sei que são sistemas educacionais diferentes e que podem gerar esta indesejável confusão: tenho dois diplomas e cursei também dois minors.

Esses fatos já eram públicos, como pode ser visto nesse video de 2013 no meu canal do YouTube:

Seguem os registros históricos:

Diploma de graduação em Engenharia elétrica e Ciência da computação
Diploma de graduação em Administração
Cerimônia de graduação

Empresas

Como expliquei anteriormente, eu havia sido aceita para o programa VI-A, que continuava logo após a minha formatura para dar início ao mestrado pela Google. Em vez de continuar o mestrado na Google, decidi aceitar uma oferta de trabalho na Ooyala, uma plataforma de solução de vídeo. A Ooyala levantou mais de 122 milhões de dólares e foi vendida para a Telstra, uma gigante de telecomunicações da Austrália.

Logo depois de formada, até antes mesmo de terminar o período no qual poderia ainda usar o visto de estudante para trabalhar (Há um período para diplomas STEM, no qual você pode trabalhar mesmo com visto de estudante), já estava vivendo nos EUA com um visto de trabalho, pela Ooyala. Em 2011, quando ainda estava na Ooyala, conheci o empreendedor serial Wences Casares, que me fez um convite. Tinha algumas outras opções na mão, uma delas até aparece nesse trecho abaixo do livro “O Click de 1 bilhão de dólares”, que conta a história do aplicativo Instagram.

Trecho do livro “O click de 1 bilhão de dólares”

Mesmo diante de outras opções que tinha na minha frente, decidi seguir com a proposta de fazer parte do time fundador da Lemon. Essa matéria conta com mais detalhes a história, e também explica que terminei os bacharelados e não terminei o mestrado:

"As coisas acabaram tomando um rumo bem diferente quando a Isabel conheceu os empreendedores latino americanos Meyer Malka e Wenceslao Casares.

Como pode lembrar, ambos estavam envolvidos em uma das maiores saídas de Startups da América Latina quando a Patagon foi vendida ao banco Santander por US $ 750 milhões no ano 2000, no auge da bolha ponto com.

Quando conheceram Isabel, a dupla disse a ela em detalhes sobre uma nova startup que estavam prestes a lançar. Isabel adorou tanto a idéia que decidiu não voltar para o Brasil e parou de trabalhar na própria idéia.

Em vez disso, ela imediatamente entrou para o que viria a se tornar a Lemon. De acordo com Isabel , isso lhe deu a oportunidade de combinar as duas coisas que ela mais queria: a criação de uma Startup, e trabalhar com pessoas que admira."

Em 11 de Julho de 2011, recebi uma oferta para fazer parte da Bling Nation, que depois viria a se tornar a Lemon. Meu principal trabalho seria Head of Business Development. Fui chamada explicitamente para ser parte do time de fundadores junto com outras pessoas que já eram parte da empresa no momento que entrei. Comprovo minha posição em doc abaixo. Comecei a trabalhar em Agosto de 2011.

Abaixo alguns tweets logo do início da Lemon, que comprovam minha participação no projeto desde 26/07 de 2011, e nesse link todos os meus tweets referentes a Lemon em 2011:

Meu tweet até mesmo antes do lançamento oficial, no dia 26/07/2011
Tweet do Wences sobre o lançamento da Lemon, no dia 13/09/2011: https://twitter.com/wences/status/113542483794857984

Através do Wayback machine, podemos conferir meu nome na equipe da Lemon, na data de 23 de Setembro de 2011:

Algumas fotos do ano de 2011:

Apresentação da Lemon para a Samsung na Coréia do Sul no dia 12 de Novembro de 2011 (https://www.facebook.com/photo.php?fbid=703657248078&set=pb.712535.-2207520000.1473052716.&type=3&theater)
Apresentando a Lemon em evento no Vale do Silício no dia 11 de Outubro de 2011 (https://www.facebook.com/photo.php?fbid=694005919418&set=pb.712535.-2207520000.1473052760.&type=3&theater)

Além disso, todo mundo que faz parte do "ecossistema da inovação" sabe que as minúcias das relações dentro de StartUps não são apenas sigilosas por causa dos NDAs que temos que assinar, mas por uma questão de ética mínima. E também para proteger os produtos, pessoas e idéias que estão sendo criados alí. Não exponho fatos inicias para entrar em um loop infinito de questionamentos, mas para clarificar o que aconteceu em 2011.

Aprendi muito com essa experiência, conheci pessoas maravilhosas que me fizeram crescer todo dia, e em Fevereiro de 2013 decidi deixar a empresa. Exerci meu direito de ações na empresa assim que sai, e essas ações me trouxeram retorno no momento da venda da empresa.

Atualmente

Essas clarificações são do meu trabalho até 2013. Redes sociais muitas vezes transmitem uma visão apenas superficial e esse olhar mostra apenas uma pequena porcentagem do meu trabalho. Então se você é um seguidor ocasional, talvez você não saiba das coisas abaixo.

Atualmente, tenho 4 projetos principais (uma escola, uma editora, uma agência e uma startup de tecnologia) que somam um time de 20 pessoas. Em uma outra oportunidade contarei mais sobre elas, contextualizando todo o trabalho que tenho feito, desde quando voltei para o Brasil até hoje.

Para esses projetos, tenho equipes comprometidas que são a maior alegria da minha vida, e nada me traz mais satisfação do que tirar projetos do papel junto a eles.

Percebo que desde que o termo “empreendedorismo de palco” foi cunhado, algumas pessoas que são EXTREMAMENTE mão na massa e vivem seus dias criando ideias, desenvolvendo negócios e tocando equipes, acabam sendo colocados na mesma categoria de quem só fala e não executa nada.

Nesse ano, particularmente, limitei meu tempo e tento evitar mais de 4 horas por mês em palestras, por mais que elas sejam ótimas para uma pancada de mindset e para divulgação do meu trabalho.

Espero que as pancadas que eu levei nessa semana nos ajude a refletir sobre escolher bem no que devemos acreditar. Alguns dias se passaram desde que os primeiros questionamentos foram levantados, e a magnitude que isso tomou foi assustadora.

Esses dias me trouxeram muitos sentimentos, que também compartilharei em uma outra oportunidade.

Bel Pesce

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Bel Pesce

Empreendedora apaixonada. Fundadora da Escola FazINOVA e da Enkla Editora. Autora de 4 bestsellers e considerada uma das 100 pessoas mais influentes do Brasil.