Olá Devs, precisamos falar sobre estresse e ansiedade

Bernard De Luna
6 min readJul 12, 2017

A programação é um trabalho incrível e pode ser muito relacionada ao trabalho de um artista. O desenvolvedor, ou desenvolvedora, criam elementos que se somam, gerando funcionalidades em harmonia, virando um software, aplicação ou página web. Mas, cada vez mais temos visto profissionais dessa indústria sofrendo de preocupação e estresse?

Problemas com a gestão, tecnologia da empresa e a famosa síndrome do impostor, são algumas das causas que levam programadores para um nível de estresse muitas vezes insustentável. Uma pesquisa americana listou as 5 principais razões levantadas por programadores sobre o que os tira o sono:

  1. Fazendo deadlines — 25,00%
  2. Problemas de desempenho de aplicativos — 24,10%
  3. O meu código é bom o suficiente? — 23.70%
  4. Que coisas novas eu preciso aprender? — 23,50%
  5. Eu fiz X da melhor maneira? — 22,50%

Antes de começarmos a entrar um pouco mais nesses itens, vale a pena explicarmos o que é a Síndrome do Impostor, pois ela está diretamente ligada a maneira que você lida com tudo que está a sua volta. Essa síndrome é caracterizada pela incapacidade de acreditar na sua própria competência ou inteligência, sendo o oposto do efeito Dunning-Kruger (também bem presente em nosso setor), onde as pessoas não conseguem ver/perceber suas fraquezas.

Faça o teste para identificar se você tem essa síndrome

Veja esse artigo do Gabs Ferreira

Ainda, de acordo com a psicóloga Gail Matthews, a Síndrome do Impostor atinge em diferentes níveis 70% dos profissionais bem-sucedidos, principalmente mulheres. Está aí, mais um motivo para discutirmos os fatores que levam nossos programadores / programadoras ao estresse.

Se eu contar quantos amigos e amigas eu conheço da área de TI que já sofreram com ansiedade, ataques de pânico, depressão além de ataques de fúria, eu certamente passaria das duas mãos. Inclusive muitas vezes quando abordamos devs para contratar pra um cliente da Bunee.io, um dos motivos que os fazem aceitar ou negar é a carga de estresse. Acredito que a primeira forma de abordar esse tema é tentar citar a maior quantidade de motivos que levam ao estresse. Por isso, comentarei alguns bastante comuns a vida de um desenvolvedor / uma desenvolvedora:

Fazendo deadlines — Gerentes ruins

Em muitas empresas, a pessoa responsável por definir o prazo das tarefas de um programador é o gerente. Mesmo sabendo que um gerente capacitado pode empoderar o seu time, compartilhando responsabilidades, meritocracia e aprendizado, muitos gerentes não possuem capacidade técnica, inteligência emocional e até mesmo comportamento para lidar com times de tecnologia, sendo inclusive um dos principais motivos de pedidos de demissão de funcionários (segundo a Glassdoor).

Claro que, em muitas vezes, o problema não está diretamente ligado a um gerente ruim, como por exemplo, um mercado extremamente competitivo, dependendo de prazos extremamente difíceis e pressão no trabalho. Em último caso, mas não menos importante, um dos fatores também responsáveis pelo estresse vinculado a deadlines, pode ser a sua inabilidade de gestão de tempo / tarefas. Isso o leva a subestimar tasks, prazos e entregas, prejudicando não só a empresa / cliente, como também a si mesmo.

Transporte — Jornada de horas

Conheço uma amiga que é desenvolvedora, que leva entre 2–3 horas por dia para seu trajeto de ida ou volta para o trabalho. Somando, são em média 5 horas gastas no percurso. Estima-se que um programador gasta em torno de 3 horas codificando por dia, fora suas outras tarefas na empresa. Ou seja, ela gasta quase 2X o seu tempo de codificação, em um ônibus.

Para simularmos ainda mais o quão estressante isso pode ser, vamos nos colocar no lugar dela:

  • Acorda as 7h da manhã
  • Sai de casa as 8h da manhã
  • Chega no trabalho por volta de 10h — 10:30h
  • Trabalha até as 19h
  • Chega em casa por volta de 21h — 21:30h
  • Considerando 1h para chegar, tomar banho e comer algo, ela estaria pronta para dormir as 22:30, o que daria menos de 9h de sono até o dia seguinte.

E se eu contasse que essa amiga é mãe? Você conseguiria não se estressar com essa rotina? Essa realidade é comum na vida de muitos homens e mulheres, em todos os setores. Estamos evoluindo bastante na quantidade de empresas que aderiram a horários flexíveis para ajudar seus profissionais, assim como jornada reduzida e até mesmo o trabalho remoto. Acredito que tendemos a reduzir o estresse causado pela rigidez de horas e transportes caóticos.

Novas tecnologias — Sempre aprendendo

Toda semana somos impactados com novas tecnologias, frameworks, libraries e ferramentas. Além de todos os problemas do dia-a-dia, para se manter competitivo no mercado, você precisa ler bastante, participar de eventos, acompanhar diversas newsletters, podcasts e artigos. Caso você pisque o olho, e resolva ficar mais confortável com aquilo que você já sabe, você sentirá cada dia mais obsoleto, e principalmente se tentar voltar ao mercado de trabalho.

Essa saga por aprender os 3 mil frameworks, 700 pré-processadores, 300 compiladores é um dos maiores motivos de Burnout do profissional. Já que citamos pela primeira vez a palavra Burnout, vamos rapidamente explicá-la:

BURNOUT

O Esgotamento profissional é uma doença causada pelo longo estresse, que atinge no mínimo 30% dos brasileiros ( segundo a ISMA). Com essa doença, no lugar da motivação, surgem irritação, falta de concentração, desânimo, sensação de fracasso e até imprudência no trabalho.

O engraçado é que na maioria dos casos de programadores que eu conheço, o aprendizado constante é uma das coisas que eles mais devem amar sobre o seu trabalho. Em algum momento algo se perdeu, desde a motivação, ou até mesmo o brilho da carreira.

Ineficiência na profissão

Esse tema é muito difícil até de abordá-lo. A maioria das pessoas sofrem de falta de Locus Control. Como citamos pela primeira vez o termo Locus Control, vamos rapidamente explicá-lo:

LOCUS CONTROL (LOCUS DE CONTROLE)

O Locus Control é um termo formulado por Julian B. Rotter sobre a expectativa da pessoa sobre o controle de suas ações por influências internas (esforço pessoal, competência, etc.) ou externas (as outras pessoas, sorte, chance, etc.).

Em muitos casos, devs acreditam que não possuem o FATOR X para terem sucesso em suas carreiras (síndrome do impostor), ou até mesmo culpar fatores externos (Falta de Locus de Controle). Quantas vezes recebi participantes de eventos vindo falar comigo e com outros palestrantes que eles não conseguem fazer o que fazemos (se inferiorizando em relação a gente)? E outros falando que gostariam de ser que iguais a gente (julgando ser menos interessante que a gente, como se não tivéssemos nossos próprios medos, fraquezas e demônios)?

Sua ineficiência, na maioria dos casos, está em dificuldades suas, que precisam ser descobertas, analisadas e reformuladas. Alguns tipos de dificuldades que você pode repensar:

  • Fadiga de decisões sobre qual tecnologia, linguagem, ou classe usar
  • Conflitos externos com colegas de trabalho
  • Sobrecarregado, principalmente se faz freela ou outros trabalhos a noite ou fim de semana.
  • Entediado, principalmente se sua vida profissional virou um loop.

Na maioria dos casos, você pode reagir em cima de cada item estressante que gera sua ineficiência:

  • Fadiga — Tome decisões curtas, muitas vezes fazendo um mockup do projeto em 15 minutos e conversando com o time.
  • Conflitos — O ambiente de trabalho tende a se tornar informal com o tempo, crie barreiras no que te fizer mal ou expor, e escolha quais batalhas de discussões técnicas você está disposto a ceder.
  • Sobrecarregado — Organize o seu tempo para você descansar, e busque o seu ócio criativo, pois é ele que lhe tornará eficiente e criativo novamente.
  • Entediado — Assuma algo experimental na empresa, escreva artigos, faça podcast, vídeo, inscreva uma palestra, esses desafios te darão um novo gás profissional.

Combatendo o estresse

Sabemos que essa é uma tarefa árdua, cansativa e muitas vezes solitária. Existe um artigo super bacana da GoDaddy, dando algumas dicas para lidar com o estresse nessa área, e indico também um artigo super realista de um programador PHP chamado Adam Culp sobre ansiedade para programadores.

Se você chegou até aqui, peço para que nos próximos 3 minutos você não pense sobre código ou o produto que está desenvolvendo, que não abra outra aba de um artigo técnico, que não volte para seu editor, terminal ou dash, e que você tire esses 3 minutos (180 segundos) para pensar no que te faz feliz, em quem você é, e como você pode ser todo dia uma versão melhor de si mesmo. Espero ter ajudado :)

Caso queira bater um papo sobre isso, basta me procurar no twitter @bernarddeluna

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