Como eu consegui 341 matchs no tinder em 15 dias (e conheci pessoas fantásticas!)

Bernardo Jaber
8 min readDec 2, 2016

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Antes que pedras comecem a voar , eu preciso contar uma história para vocês.

Mudei para São Paulo em maio desse ano e as coisas não foram fáceis. Eu passei por fases em que ficava muito sozinho. Para vocês terem uma ideia, passei semanas com a seguinte rotina:

Acordar — Trabalhar — Comer — Netflix — Dormir

E essa sensação não é das mais satisfatórias, ainda mais aqui em SP. Uma cidade que tem muita gente e ninguem ao mesmo tempo.

Vim pra cá com um propósito: Trabalhar em algo que acredito e que sei que posso fazer a diferença. E esse propósito me fazia levantar todos os dias da cama, mesmo quando ela me puxava mais do que, ás vezes, eu conseguia controlar.

Então, num belo dia deitado eu pensei:

Por que eu não uso meus conhecimentos de marketing digital para resolver esse problema usando o Tinder?

Se você não me conhece e começou a ler esse texto do nada, eu trabalho com marketing digital e growth hacking há alguns anos. Ou seja, eu gosto bastante de números, hipóteses, testes e (obviamente) marketing digital.

O que me motivou?

Já tem um tempo que penso em namorar. Apesar de gostar demais da minha vida de solteiro, eu sempre dei valor para quando eu estava namorando. O companheirismo, a intimidade, enfim, todas as partes boas de um relacionamento. Eu sei que existem algumas ruins, mas dado ao meu estado atual, tudo fez sentido. Em outra palavras, eu quero encontrar o amor.

Como eu comecei?

Quem trabalha com marketing digital sabe a importância de construir uma persona. Que é basicamente aquela pessoa ideal que você quer atingir. A diferença aqui é que eu não quero falar com um público-alvo (Mulheres, de 21–28 anos, moradoras da região sul de São Paulo, ensino superior completo). Eu quero falar com a Raquel.

“A Raquel tem 24 anos, mora em república com mais duas amigas. Toma uma cerveja as sextas em casa, aos sábado vai pra balada e no domingo prefere almoçar fora. Dependendo do dia, toma algo mais forte no meio da semana.

Gosta mais de uma saída de surpresa na quinta-feira do que algo marcado e certinho, afinal de contas, ela não quer se apegar a ninguém ainda, talvez daqui um tempo.

Aventureira, ama viajar. Tá juntando o salário pra fazer aquele mochilão na Europa que sempre sonhou durante a faculdade. Vai à shows, mesmo que sozinha e não depende de ninguem para fazer o que gosta.

Ama livros. Já está pensando se compra uma outra prateleira ou se coloca os menos favoritos em uma caixa e doa para alguma instituição.

Se sustenta financeiramente e é formada em direito. Prefere homens que apoiam as decisões e que a ajudam a encontrar um outro caminho.”

O primeiro passo foi dado, e agora?

Eu já sabia com quem conversar, como conversar e o que ela queria ver. O Tinder me dá algumas formas de falar mais sobre mim:

  • Fotos
  • Descrição
  • Instagram
  • Spotify
  • Trabalho
  • Estudo

Foquei os testes principalmente nas duas primeiras: Foto e descrição.

Nas outras vezes que usei esses aplicativos de relacionamento eu não ligava muito pra isso. Simplesmente colocava algo sem pensar muito, como exemplo “Pequeno gafanhoto” ou até mesmo nada.

A mesma coisa nas fotos, pegava uma foto aleatória e tentava conseguir um match. Dava certo, mas eu não tinha colocado o mínimo esforço pra isso.

Fotos: a porta de entrada

A primeira foto é a “primeira impressão” que a pessoa tem de você. É nela que a maioria das pessoas toma a decisão de coração ou X.

Nunca fui de tirar fotos, mesmo. Acho que não sou fotogênico (ou sou feio mesmo). Sorte ou acaso, uma grande amiga tirou uma minha que ficou realmente boa (perguntei para outras pessoas o que elas acharam), porque só a minha percepção não tinha tanta credibilidade assim.

A foto escolhida foi essa:

A foto ficou realmente boa, perto das outras que tinham, pra vocês terem ideia, as outras que tinha eram mais ou menos assim:

Claramente não é uma boa foto.

O Tinder me da opção de colocar seis fotos, então era mais uma oportunidade de convencer a pessoa que eu era uma boa pessoa.

Selecionei algumas mais recentes e que eram ligeiramente melhores que essa aí de cima.

As escolhidas foram essas:

Pronto, eu já tinha as fotos selecionadas e tinha que testar qual era a mais indicada.

Para facilitar o entendimento eu vou numerar as fotos de 1 a 5:

  1. A do fundo colorido no Beco do Batman
  2. Segurando uma galinha
  3. Na praia
  4. Óculos escuros à noite (?)
  5. Falando em público

O teste das fotos funcionou da seguinte forma:

20 likes para cada uma delas por dia. Critério de avaliação: matchs

O resultado foi o seguinte:

  1. 6 matchs
  2. 2 match
  3. 0 match
  4. 3 matchs
  5. 1 match

Foto vencedora: Foto 1 (Obrigado, Brunna)

Descrição: Quem eu realmente sou?

A descrição para mim foi uma das partes mais difíceis desse teste. Afinal de contas, eu tinha que falar em palavras (nunca foi meu forte) algo que realmente me marcasse.

Coloquei no papel o que eu queria dizer sobre mim, o que a Raquel se interessava. Tudo isso em 500 caracteres.

Peguei um papel e comecei a escrever o que eu sabia sobre mim (processo fantástico de autoconhecimento)

  • Sou fascinado por comida japonesa;
  • Amo cultura inútil e memes
  • Não tenho muitas coisas (me mudei pra SP e tudo que eu tinha cabia dentro do meu carro, sendo que boa parte eram quadros e livros)
  • Trabalho com marketing digital;
  • Trabalho em ONG;
  • Sou mineiro;
  • Estrangeiro totalmente perdido em São Paulo;
  • Gosto de ler;

Essas informações pareciam realmente interessantes para a persona. Mas como reunir tudo isso em algumas poucas palavras?

Voltei pro papel e comecei a tentar escrever (e entendi o que o pessoal de Social Media passa pra escrever um tweet).

Do brainstorm saíram 3 descrições:

  1. Mineiro morando em São Paulo. Coleciono momentos, não coisas. Já falei que estava doente pra ficar em casa assistindo Netflix. Apaixonado por sushi, memes e cultura inútil. Trabalho em uma ONG Instagram: bernajaber
  2. Mineiro morando em São Paulo. Adoro memes, sushi e livros. Trabalho com marketing digital e já me questionei por que a novela das 20:00 começa às 21:00. Instagram: bernajaber
  3. Mineiro morando em São Paulo. Coleciono momentos, não coisas. Amo aventuras, sushi e memes.Trabalho com marketing digital em uma ONG. Instagram: bernajaber

Com essas três descrições no papel fui aos testes. Ele tinha dois critérios. O primeiro deles era obviamente em matches e o segundo eram de matchs que falaram da minha descrição. Coloquei ele no ar com o seguinte ambiente:

  • 50 likes/dia em pessoas que eu acreditava que realmente tinham o perfil da Raquel
  • Número de matchs que falaram da descrição;

Saldo final desse teste

  1. 6 matchs — 0 matchs falaram da descrição
  2. 3 matchs — 1 match falou da descrição
  3. 5 matchs — 3 falaram da descrição

Fazendo uma conta rápida a nota de cada um deles foi:

  1. 0
  2. 3
  3. 15

Sendo assim eu escolhi a terceira descrição como a vencedora.

Growth Hacking de verdade!

Depois que os dois critérios (foto e descrição) foram analisados eu comecei a fazer modificações nas fotos para conseguir atingir o maior número de pessoas. Para isso eu tinha que me destacar de alguma maneira.

Como eu tornaria meu perfil único e que fizesse sentido no contexto de relacionamento no Tinder?

O Tinder é uma plataforma que não tem como você voltar atrás. Uma vez que você da o X em uma pessoa, você não a verá novamente (a não ser que você ou ela criem uma nova conta).

Há um tempo atrás eu li Launch Formula do Jeff Walker e ele fala que existem alguns triggers que fazem as pessoas tomarem a ação. Eu tinha dois ao meu favor (que o próprio Tinder me fornecia): Escassez e autoridade.

Escassez: Você nunca mais vai ver aquela pessoa, ou seja. Essa é sua primeira e única chance.
Autoridade: Eu conto pra vocês aqui embaixo.

A maior autoridade no Tinder é ele mesmo. Ele quem seleciona as pessoas que vão aparecer para você. Você pode achar que você quem escolhe, selecionando raio e idade, mas essa escolha é bem parecida com a do Henry Ford “Você pode escolher qualquer cor de carro, desde que seja preto”.

Para ser único e com autoridade eu tinha que ser feito para aquela pessoa e naquela hora.

Assim surgiu a minha foto de primeira impressão:

A foto é a primeira impressão. Que tal causar uma primeira impressão com mais impacto?

Testes com a foto nova

O teste foi bem simples. A primeira foto.

Por um dia coloquei essa foto como a primeira e dei 20 likes. Assim como nos primeiro teste. O resultado foi surpreendente. Dos 20 likes, 12 deram match. Claramente essa estratégia funcionou maravilhosamente bem e hoje meu perfil do tinder é assim:

Aprendizados

Aprendi bastante coisa durante esse processo. O mais engraçado é que, mais uma vez, eu vi como o marketing digital pode ser utilizado em várias áreas.

Não importa se é uma grande organização, em uma pequena empresa ou no Tinder!

Isso abriu muito minha cabeça pra uma frase sábia do Tio Ben “Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades”.

Dados finais (será que são finais?)

  • Tempo de teste: 15 dias
  • 341 matchs
  • 253 conversas
  • Menos de 30% dos matchs mandaram mensagem primeiro
  • Mandar mensagem depois de 12 horas do match faz com que a taxa de resposta caia monstruosamente.
  • Conheci pessoas fantásticas!

Próximos passos

Como todo Growth Hacker, ficar satisfeito com o resultado é algo momentâneo. Sempre tem algo que pode melhorar e é nisso que irei focar agora.

Nos próximos dias irei testar os copys de conversa. Abordagem nas primeiras palavras e em como melhorar as taxas de respostas!

Até a próxima :)

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