Quando eu digo que sou cronicamente online, não significa que sou uma pessoa antenada em todas as tendências da internet e sempre tenho assunto de sobra para comentar.
Na verdade, significa que meu cérebro provavelmente apagou informações importantes só para abrir espaço para lembrar de algum meme de 2013 que fere uns 17 tratados da Convenção de Genebra (e que eu ainda dou muita risada).
Será que isso é tão ruim assim?
Bom, tirando a parte da Convenção de Genebra, eu diria que hoje, em pleno século 2024, as pessoas talvez não liguem tanto para alguém que esteja sempre scrollando as redes sociais.
Afinal, rede social é o local onde todo mundo está. Ficou extremamente socialmente aceitável mexer no celular durante o jantar, por exemplo.
É por redes como o Instagram ou TikTok que temos acesso a diversas informações, sejam elas boas ou ruins. E, por mais que seja um conteúdo curado, não estamos 100% no controle do algorítimo.
(Na verdade, é ele quem está 100% no controle de nós, mas eu não vou elaborar).
Então, ter uma vida online ativa também significa sobrevivência social. Mas, é um problema quando a sua vida se resume a isso.
Vida Online x Vida real
Por muito tempo, minha vida online importava mais que a vida real. E, durante a pandemia, isso se acentuou de novo.
Por isso, eu digo com propriedade e tranquilidade: isso não é bom!
As pessoas se acostumaram muito com a internet, a ponto de perder a noção de que por trás de cada post, existe uma pessoa de verdade.
Tuitar xingando uma pessoa que você não conhece: tranquilo, normalizado, por até te render uns trocados dependendo da rede.
Xingar uma pessoa que você não conhece no meio da rua: motivo de revolta, chance de responderem, pode até te render uns socos na cara.
A diferença de um para o outro é só o ambiente. Então, por que as reações são tão diferentes?
Eu, depois de começar a imaginar as redes sociais como uma praça do meu bairro, onde toda e qualquer pessoa que tiver passando pode ter acesso ao que eu posto, as coisas mudaram um pouco de figura na minha cabeça.
E eu percebi o peso da minha vida online.
O terceiro lugar
Na sociologia, existem 3 lugares sociais que frequentamos:
O primeiro é a sua casa com a sua família (seja ela qual for).
O segundo é seu local de trabalho (seja ele qual for).
E o terceiro lugar é um que não está relacionado nem à sua família e nem ao seu trabalho. Em uma época pré-internet eram lugares como praças, bibliotecas, clubes, bares, igrejas.
Mas, se tem uma coisa que a internet trouxe foi justamente ter essa presença online. E, gradativamente transformamos ela em nosso terceiro lugar.
É pela internet que interagimos com pessoas fora do primeiro e segundo lugares, é o lugar onde estamos, cada vez mais, frequentando com maior frequência.
Embora a parte positiva seja muito vantajosa: ter acesso a pessoas e pontos de vista que não seriam possíveis fisicamente. A parte negativa pesa bastante.
Pois, além de estarmos à mercê do algorítimo, qualquer maluco pode invadir o meu espaço, afinal, é o espaço dele também.
Vamos tocar grama?
Eu sei que eu pareço uma velha boomer que era muito fã de Gilberto Barros, mas confie em mim quando eu digo para você DESCONECTAR e sair um pouco de casa.
Entrar em contato com pessoas reais e lugares reais. Mesmo que seja só ir até o mercado comprar um Hot Pocket e um maço de cigarro Derby. A vida é muito mais do que aquilo que existe na nossa tela.
(Clichê e batido, eu sei, mas não deixa de ser verdade, infelizmente).
Eu faço isso?
Sim!
Não a parte de ir no mercado comprar cigarro, mas a parte de sair de casa!
Claro que, a internet ainda é uma zona de conforto para mim, o fato de que meus amigos morarem longe também não ajuda e o dinheiro acaba ficando meio curto de vez em quando, MAS!
As melhores experiências que tive nos últimos anos após a pandemia foram todas aproveitando tempo de qualidade com as pessoas que eu gosto, fora da internet!
Sim, eu sou cronicamente online.
Mas não do jeito que você pensa. Eu não sigo os influencers famosos e nem acompanho a vida deles.
Quando eu digo que sou cronicamente online, significa que eu visitei lugares na internet e vi coisas que você sequer imagina (e, honestamente, não quer ficar sabendo).
O que me rendeu um senso de humor estranho, medo de falar no telefone, um jeito meio esquisito para puxar assunto e muita cultura inútil acumulada na minha mente.
Novamente, eu digo isso com muita propriedade!
Não leve tudo o que você assiste no TikTok a sério. Converse e marque encontros presenciais com os seus amigos e preste um pouco mais de atenção no mundo à sua volta!
Eu sei que a qualidade do ar e o aquecimento global estão cada vez piores, então, não tem época melhor para aproveitar do que agora!
Ah, e me conta: você possui um terceiro lugar fora da internet?